Até agora, eram uma possibilidade; agora, já são um feito. Nestas eleições intercalares nos EUA, muitos candidatos de minorias étnicas, sexuais ou mulheres chegaram a cargos que foram sempre ocupados, maioritariamente, por brancos, heterossexuais e homens.

A lista de estreias é extensa e abarca as três vertentes destas eleições, que elegeram congressistas, senadores e governadores.

A republicana Marsha Blackburn vai ser a primeira mulher a chegar ao cargo de senadora do Tennessee, depois de ter derrotado o democrata Phil Bredesen. No seu discurso de vitória, não deixou esse facto sem menção: “Obrigado por me permitirem ser a primeira mulher eleita senadora pelo Tennessse. E, imagine-se, logo com uma mulher conservadora!”.

A verdade é que, quanto ao Partido Republicano, as estreias ficam por aqui. De resto, é entre candidatos do Partido Democrata que se fez mais História no que toca à entrada de pessoas que, até agora, não tinham chegado a tais posições de poder.

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No Colorado, por exemplo, foi eleito o primeiro governador assumidamente gay em todo o país. Trata-se de Jared Polis, que, no seu discurso de vitória, fez uma menção ao passo que ali foi dado: “No Colorado, atrevemo-nos, sonhamos e fazemos. Provámos que somos um estado inclusivo”. Aqui, no entanto, é merecida a menção ao ex-governador do New Jersey, Jim McGreevey, que declarou publicamente a sua homossexualidade — mas já depois de ser eleito e na mesma altura em que se demitia por causa de um escândalo sexual.

No Massachusetts, vai haver uma congressista negra pela primeira vez. O feito foi conseguido por Ayana Pressley, que também fez questão de assinalar essa estreia no seu discurso de vitória. “Hoje lembro-me da minha mãe, a minha heroína, a mulher que me deu as minhas raízes e as minhas asas”, disse, para depois contar como a mãe tinha por hábito levá-la consigo sempre que ia votar. “Por mais pequenos que nos sentíssemos na nossa comunidade e na sociedade como um todo, a minha mãe assegurava-se que eu soubesse que, assim que entrássemos na cabine de voto e fechássemos aquela cortina, seríamos poderosos”, disse, esta terça-feira à noite.

Em termos étnicos, há ainda outras estreias: Sharice Davids (Kansas) e Deb Haaland (Novo México) são as primeiras nativo-americanas a chegar à Câmara dos Representantes — um feito que já tinha sido cumprido por homens, mas nunca por mulheres daquela minoria. No caso de Sharice Davids, a estreia é a dobrar: também será a primeira mulher assumidamente lésbica a chegar àquele cargo.

No discurso de vitória, Sharice Davids, que tem no seu currículo também o facto de ter sido lutadora de MMA, disse: “Agora temos a oportunidade de refazer as expectativas que as pessoas têm quando pensam no Kansas”.

Deb Haaland falou do passado para assinalar o presente: “Quando era pequena e vivia na casa da minha mãe, enquanto parte de uma 35º geração no Novo México, nunca imaginei um mundo onde seria representada por alguém que se parecesse comigo. Hoje, New Mexico, vocês enviaram uma das primeiras mulheres nativo-americanas para o Congresso”.

No próximo Congresso, vai haver também, pela primeira vez, duas congressistas latinas, eleitas pelo Texas. Os seus nomes são Veronica Escobar e Sylvia Garcia. A primeira vai ocupar o lugar que até agora pertencia ao democrata Beto O’Rourke, que foi derrotado à tangente pelo senador republicano Ted Cruz (que, no final de uma corrida renhida, conseguiu a reeleição).

No que toca à religião, também há duas estreias no mesmo sentido: Rashida Tlaib (Michigan) e Ilhan Omar (Minnesota) serão as primeiras congressistas muçulmanas — uma barreira que já tinha sido quebrada entre homens em 2007, por Keith Ellison, também do Minnesota. Ilhan Omar é também estreante pelo facto de ser a primeira congressista de origem somali. A democrata de 36 anos, que chegou aos EUA como refugiada quando tinha 12 anos, referiu a sua condição no discurso de vitória desta noite: “Aqui no Minnesota, não só acolhemos os imigrantes como os enviamos para Washington”.

https://twitter.com/BihiDhoof/status/1060032368730406912

Para acabar, mais do que uma estreia, falemos de um recorde: a democrata Alexandria Ocasio-Cortez, eleita para a Câmara dos Representantes, tem 29 anos e, por isso, será a congressista mais nova sempre. Também aqui este recorde diz respeito apenas às mulheres, porque já houve homens eleitos com menos idade. O caso mais extremo foi o de William Charles Cole Claiborne, eleito congressista pelo Tennesee em 1797, aos 22 anos. À altura, a Constituição exigia que os congressistas tivessem pelo menos 25 anos — mas foi-lhe aberta uma exceção. Nestas eleições, as exceções foram diferentes.