Enquanto se dirigiam à Cidade do México para pernoitar no estádio Jesús Martínez, que está por estes dias preparado para receber perto de cinco mil migrantes, cerca de 100 pessoas terão sido sequestradas e entregues a um dos mais perigosos cartéis de roubo de combustível e tráfico de droga e seres humanos do México. Entre as vítimas, que viajavam na caravana de migrantes que tem como destino final os Estados Unidos da América, estarão crianças. A informação foi avançada por um investigador de uma organização de defesa dos direitos humanos do estado de Oxaca à divisão mexicana do jornal HuffPost.

Para calcular o número de migrantes sequestrados, a sua entrega ao cartel mexicano Los Zetas e o local em que os migrantes terão sido sequestrados (estado de Puebla), Arturo Peimbert, que pertence à organização Defesa dos Direitos Humanos do Povo de Oxaca, baseou-se em testemunhos por si recebidos, em informações que lhe terão sido transmitidas por membros da divisão mexicana do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) e no número de pessoas que denunciaram o desaparecimento de familiares.

O sequestro dos migrantes terá acontecido por negligência do Governo, em particular das autoridades de Veracruz, acusa Arturo Peimbert. Segundo o investigador da organização de defesa de direitos humanos, as autoridades do país terão pressionado as empresas de transportes exigindo-lhes que não transportassem migrantes ilegais mesmo que eles pagassem o custo da viagem. Face a isto, os migrantes terão sido forçados a caminhar a pé numa das região mais perigosas do país, uma zona disputada pelos cartéis Los Zetas e Jalisco Nueva Generación onde regularmente desaparecem pessoas. Os dois cartéis são conhecidos por “lutar pelo controlo da venda de droga, extorsões, roubo de combustível e tráfico de pessoas”, disputando também entre si o domínio da “indústria milionária de sequestro de migrantes que viajam em direção aos Estados Unidos da América”.

É uma irresponsabilidade absoluta do governo. É a maior cova do país, onde centenas de pessoas desapareceram devido ao crime organizado. A proibição de usar camiões, que recebeu luz verde do governador de Veracruz, Miguel Linares, obriga [os migrantes] a passar pelo ‘triângulo violento’, de Saluya a Tierra Blanca e de Tierra Blanca a Córdoba”, referiu.

Arturo Peimber terá acompanhado a viagem dos migrantes, segundo se depreende do que relatou ao HuffPost Mexico: “Começámos a notar que se aproximavam camiões de fruta, que carregam de 16 a 23 toneladas de comida. Ofereciam-nos transporte, cobrando mais de 150 pesos [mais de seis euros e setenta cêntimos] por pessoa. Começámos a alertar os migrantes, mas foram tomados pelo desespero. A única coisa que pude fazer foi tentar abrir as caixas dos camiões, que estavam fechadas com cadeados”.

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O membro da organização Defesa dos Direitos Humanos do Povo de Oxaca garante ainda que “há pessoas nas povoações que informaram os Los Zetas sobre como é que se estava a mover a caravana”.

Só na tarde de segunda-feira entraram perto de dois mil migrantes no estádio Jesús Martínez, na Cidade do México, e o fluxo tem continuado desde aí. O estádio tem capacidade para seis mil pessoas, tendo sido instaladas tendas para os migrantes pernoitarem.

Estima-se que a caravana de migrantes que tentam alcançar os Estados Unidos da América vindos da América Central transporte perto de quatro mil pessoas. A caravana partiu das Honduras, há perto de três semanas. Muitos outros viajantes avançam em pequenos grupos. Segundo têm relatado aos órgãos de comunicação social que acompanham a viagem, os motivos alegados para a tentativa de chegada aos Estados Unidos passam pela fuga à pobreza, violência e más condições de educação, saúde e trabalho que se registam nos seus países de origem.

É o caso de Enrique Flores, um trabalhador da construção civil das Honduras, de 32 anos, que abandonou a sua casa em meados de outubro com a namorada e dois filhos, Sojey, de 12 meses e Ian, de quatro anos. Ouvido pelo norte-americano Wall Street Journal, afirmou que nos últimos dois anos não conseguiu ter mais do que dois dias de trabalho por semana. Acrescentou que a sua mãe e o seu sobrinho foram ameaçados por membros de dois gangues locais, o grupo Barrio 18 e o MS-13.

Não conseguem imaginar o que é não ter nada para oferecer às vossas crianças: nem educação, nem trabalho, nem futuro. Os gangues tentam levar os teus filhos para longe da família quando eles têm nove anos”, apontou ainda, dizendo que pretende pedir asilo nos Estados Unidos da América e chegar a Nova Iorque, onde tem amigos também eles migrantes.

Além da família de Enrique Flores, há mais famílias com crianças pequenas a tentar chegar ao México, procurando passar depois a fronteira do país com os Estados Unidos da América. Nas últimas semanas, o presidente norte-americano Donald Trump endureceu o discurso. Considerando a caravana de migrantes e o fluxo de migração atual um perigo para os EUA, Trump destacou milhares de tropas para a fronteira, com o intuito de travar a entrada no país dos viajantes, que esperariam o resultado das eleições intercalares norte-americanas para averiguar as condições de avanço de marcha.

Os primeiros migrantes já chegaram à cidade do Mexico