Um em cada quatro inquiridos num estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE) disse já ter deixado ou interrompido a atividade profissional para cuidar dos filhos menores, 70,6% das quais ficaram até seis meses ausentes do trabalho.

O INE realizou, juntamente com o Inquérito ao Emprego, um estudo sobre a conciliação da vida profissional com a vida familiar, dirigido às pessoas com idades entre os 18 e os 64 anos. Uma das questões analisadas foi a “interrupção na carreira para cuidar dos filhos”, que também tem em conta a licença parental inicial e a licença parental alargada.

Segundo o estudo, 24,5% dos inquiridos deixaram de trabalhar ou interromperam a atividade profissional, em algum momento das suas carreiras e por, pelo menos um mês, para cuidar de filhos ou enteados menores de 15 anos.

“Neste indicador, há uma clara diferenciação entre homens e mulheres, com apenas 8,1% dos primeiros a referir ter interrompido a carreira por pelo menos um mês para cuidar de filhos, o que compara com 39,8% das mulheres”, refere o estudo.

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Considerando todas as interrupções, de pelo menos um mês, ao longo de toda a vida profissional, 70,6% dos inquiridos indicaram ter estado até seis meses sem trabalhar para cuidar de filhos. Esta foi a duração máxima referida por 96,9% dos homens e 65,6% das mulheres. Interrupções mais extensas foram reportadas quase exclusivamente por mulheres, sendo que 22% destas indicaram uma ausência total entre seis meses até um ano, refere o INE.

Questionados sobre se utilizaram a licença parental como estratégia de conciliação do trabalho com a vida familiar, 55,8% disseram que não, explicando que apenas usaram a licença parental inicial.

O estudo adianta que 30,4% das pessoas que alguma vez interromperam a sua carreira, por pelo menos um mês, para cuidar de filhos, o fizeram sem recurso à licença parental inicial ou à licença parental alargada.

Mais de metade (55,9%) dos trabalhadores por conta de outrem com responsabilidades parentais afirmaram ser geralmente possível alterar o seu horário de trabalho diário para prestarem cuidados, mas 58,5% mencionaram ser raramente possível ou mesmo impossível poder ausentar-se do trabalho durante dias completos pelo mesmo motivo.

Outra das questões analisadas foram as “interrupções de carreira para assistência a familiares incapacitados” com 15 ou mais anos, tendo 58,3% afirmando que nunca tiveram que interromper ou reduzir o horário de trabalho com esse fim. A interrupção da carreira por pelo menos um mês para cuidar de familiares com 15 e mais anos foi reportada por apenas 4,3% dos respondentes, 78,4% dos quais eram mulheres.

O estudo aponta que 34% dos inquiridos tem responsabilidades de prestação de cuidados, seja a cuidar de filhos menores de 15 anos (26,6%), de familiares dependentes com 15 e mais anos (4,6%) ou outras situações (2,8%).

Os prestadores de cuidados eram maioritariamente mulheres (54,7%), com idades entre os 35 e os 44 anos (46,7%), que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (43,8%), empregados (83,4%), trabalhadores por conta de outrem (87,3%) e que trabalhavam a tempo completo (94%).

Entre os que indicaram cuidar apenas de filhos menores de 15 anos, a diferença entre homens e mulheres (46,5% e 53,5%, respetivamente) era menor que entre os que cuidavam exclusivamente de familiares dependentes com 15 e mais anos (32,8% e 67,2%, respetivamente).

Segundo o INE, 22,4% dos cuidadores referiram ter obstáculos no seu trabalho que condicionam a sua conciliação com a vida familiar, o maior dos quais é a imprevisibilidade do horário ou horário atípico (6,8%).