A deputada Tereza Cristina, presidente da Federação Parlamentar Agropecuária, foi a escolhida para assumir a pasta do Ministério da Agricultura do Governo de Jair Bolsonaro. A escolha da representante dos Democratas do Estado de Mato Grosso (DEM-MS) para assumir o ministério surgiu horas depois de terem sido feitas várias críticas ao facto de a equipa de transição de Bolsonaro ser composta apenas por homens – e de ter sido declarado algum receio de que essa mesma premissa se repita no Planalto.

A escolha de Tereza Cristina para o cargo é, para já, o incumprimento de uma das promessas de campanha de Jair Bolsonaro. O presidente eleito tinha anunciado que iria fundir os ministérios da Agricultura e do Ambiente, decisão que mereceu muitas críticas por parte da oposição. A nomeação da primeira mulher do Governo de Bolsonaro acontece após grande pressão do setor rural e foi orquestrada por Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, que conseguiu derrubar a indicação pessoal do presidente eleito e fazer prevalecer a força da Federação Parlamentar Agropecuária e da Confederação Nacional da Agricultura.

O general Augusto Heleno Ribeiro, chefe do Gabinete de Segurança Institucional e braço direito de Bolsonaro, anunciou o nome da deputada e referiu ainda que “é lógico que foi considerada a competência dela e o lado político”. “Quer maior novidade? Uma mulher num ministério, e Ministério da Agricultura, que é fundamental, um sustentáculo do PIB? Se for competente e for mulher, não tem problema nenhum. Não pesou o facto de ser mulher. É o que ele [Bolsonaro] disse desde o início: se for competente e for mulher, tudo bem, não tem problema nenhum”, acrescentou Heleno Ribeiro.

A frase do general está a provocar muitas críticas por parte da oposição e da comunicação social brasileira, que se apressou a recordar uma frase histórica e semelhante à do braço direito de Jair Bolsonaro. Em 1989, o empresário Mario Amato, que à altura era presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, disse que a então ministra do Trabalho, Dorothea Werneck, era “inteligente, apesar de ser mulher”.

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Na conferência de imprensa em que anunciou o nome de Tereza Cristina, Augusto Heleno Ribeiro recusou ainda dar pormenores sobre o renovado perfil que irá ter o ministério do Ambiente sob a governação de Bolsonaro e ironizou a pergunta, questionando: “Vai ser vegano? Eu sei lá”.

Já sobre as competências da nova ministra da Agricultura, e depois de notícias que davam conta de que Tereza Cristina iria ter a responsabilidade de avaliar o nome escolhido para o ministério do Ambiente, o general negou qualquer acordo nesse sentido. “Não ouvi essa palavra [avaliar]”, atirou Augusto Heleno Ribeiro.

Até esta quarta-feira, Jair Bolsonaro estava a ponderar a hipótese de nomear o presidente da União Democrática Ruralista, Luís António Nabhan, o seu braço direito no setor durante toda a campanha presidencial. O agora presidente eleito chegou mesmo a anunciar o nome de Nabhan como novo ministro da Agricultura num evento em Rio Grande do Sul e garantiu que não iria seguir um critério político na escolha da pessoa para o cargo, deixando entender que não nomearia ninguém com representação parlamentar.

Ao Estadão, Luís António Nabhan reconhece que a situação “cria um pouco de constrangimento” mas garante que continuará a apoiar o Governo de Jair Bolsonaro.