Lewis Hamilton sagrou-se pentacampeão do mundo de Fórmula 1 no Grande Prémio do México, no final de outubro, e juntou-se a Juan Manuel Fangio no lote de pilotos que conquistaram cinco vezes o título mundial da modalidade – superando Alain Prost e Sebastian Vettel, que já o fizeram por quatro vezes. O facto de o primeiro lugar estar entregue tirava algum interesse à corrida deste domingo, no histórico Circuito de Interlagos, no Brasil, mas existia ainda um título por decidir: o do campeão mundial de construtores, ou seja, a equipa que mais pontos acumulou no conjunto dos dois pilotos. Na qualificação para o GP do Brasil, Hamilton ficou com a pole-position, seguido de Vettel, Bottas e Raikkonen. Max Verstappen não conseguiu tempos competitivos para se intrometer entre os Mercedes e os Ferrari e saiu de quinto – mas o jovem holandês já nos ensinou que o lugar em que sai da grelha não quer dizer nada.

Saltando para o final porque o vencedor é o que menos importa na história deste GP brasileiro, Lewis Hamilton passou a linha da meta no primeiro lugar e garantiu o título mundial de construtores para a Mercedes, igualando a Ferrari com cinco dobradinhas consecutivas (a scuderia italiana alcançou este feito entre 2000 e 2004, com Michael Schumacher). Mas, na verdade, o piloto inglês não ganhou – Verstappen é que perdeu. Hamilton teve um arranque forte, mas rapidamente se percebeu que os Mercedes não iriam manter o mesmo jogo de pneus durante muito tempo; já Verstappen saltou da quinta posição do grid e ultrapassou Raikkonen, Bottas e Vettel em dez voltas. O jovem holandês realizou uma condução exímia e uma gestão de pneus louvável, parando só 16 voltas depois de Hamilton ter de ir às boxes (o que garantiu a possibilidade de regressar com uns mais rápidos pneus macios).

Até que chegamos à volta 44. Depois de ultrapassar Hamilton na reta da meta, numa clara demonstração de força do carro da Red Bull, Verstappen era primeiro e tinha a corrida completamente controlada: o piloto de 21 anos relembra a ousadia de Ayrton Senna, a intempestividade de um jovem Michael Schumacher e a falta de prudência de James Hunt. A menos de 30 voltas do final do GP, Verstappen ia efetuar uma manobra aparentemente simples na curva 2, ao dobrar Esteban Ocon, que estava na cauda do pelotão. O francês da Force India decidiu, porém, que não queria ser dobrado pelo líder da corrida e tentou impedir Verstappen de o passar, acabando por colidir com o Red Bull, que fez um pião e ficou cinco segundos atrás de Hamilton.

A fúria de Verstappen ficou visível na transmissão rádio com a equipa, quando o holandês gritou “que idiota!” enquanto ainda estava a rodar. Ocon foi penalizado com um stop & go (ir à box sem precisar) e Verstappen foi atrás de Hamilton, mesmo com o carro danificado, mas já não conseguiu impedir o campeão do mundo de vencer a corrida. Já depois da bandeira de xadrez, o piloto da Red Bull foi confrontar Esteban Ocon pessoalmente e chegou mesmo a empurrar várias vezes o francês. Mais tarde, em declarações aos jornalistas, explicou que é “apaixonado pela modalidade” e por isso “seria estranho se lhe tivesse dado um aperto de mão”. “Nem sequer tenho muitos comentários a fazer sobre isso, exceto que ele estava a ser um maricas”, acrescentou Verstappen. O que poucos sabiam é que a relação entre os dois pilotos não é a melhor há vários anos: francês e holandês são rivais desde as corridas de karts e Ocon bateu Verstappen na luta pelo título europeu de Fórmula 3 em 2014.

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Os comissários da corrida chamaram ambos os pilotos e, após uma hora de reunião, decidiram que o holandês terá de cumprir dois dias de serviço comunitário a ser designado pela FIA, a organização que regula a Fórmula 1, nos próximos seis meses, sendo a decisão ainda passível de recurso por parte da Red Bull. “Os comissários reviram provas em vídeo das câmaras de segurança da FIA e ouviram o piloto do carro 33 (Max Verstappen) e o piloto do carro 31 (Esteban Ocon) e os representantes das equipas. O piloto Max Verstappen entrou na garagem de pesagem da FIA, dirigindo-se ao piloto Esteban Ocon e, após algumas palavras, iniciou uma luta, empurrando ou batendo em Ocon com força várias vezes no peito”, lê-se no comunicado.

O piloto holandês, conhecido pelo feitio difícil e mau perder, ainda foi ao pódio receber o troféu de segundo classificado mas não ficou para a habitual celebração com champanhe, deixando Lewis Hamilton, Kimi Raikkonen (o terceiro) e Toto Wolff (diretor da Mercedes) sozinhos no palanque. Antes, na habitual entrevista feita no pódio, disse que fez “tudo o que podia” e que só não fez mais porque “Ocon foi um idiota”.

Os dois pilotos em 2014, ano em que Ocon se superiorizou a Verstappen na luta pelo título europeu de Fórmula 3

Opinião partilhada por Christian Horner, diretor da Red Bull, que defendeu que “quando um carro está a ser dobrado não deve interferir com o líder”. “O que o Ocon pensou ali, ultrapassa-me. Não faz qualquer sentido”, continou Horner, que depois comentou ainda os empurrões de Verstappen ao francês: “Ele teve sorte de se safar com um empurrão, para ser honesto. O Max perdeu uma vitória sem ter qualquer culpa disso”.

O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 termina no fim de semana de 23 a 25 de novembro, com o noturno Grande Prémio de Abu Dhabi e já sem títulos por decidir.