Michelle Obama, a ex-primeira dama dos Estados Unidos, lança esta terça-feira “Becoming”, o livro de memórias onde detalha o primeiro encontro com Barack Obama, o quotidiano dos oito anos que passou na Casa Branca e, num passado mais recente, a eleição de Donald Trump. A mulher do antigo presidente norte-americano fala de política, da família e dos desafios do país, revela que muitas das notícias relacionadas com Trump lhe dão “a volta ao estômago” e garante que não tem “qualquer intenção de se candidatar” à presidência dos Estados Unidos.

O jornal inglês The Guardian, que teve acesso a uma cópia antecipada do livro, conta que Barack e Michelle passaram grande parte da noite eleitoral de novembro de 2016 na sala de cinema da Casa Branca a ver um filme. “Quando o filme acabou e as luzes se acenderam, o telemóvel do Barack vibrou. Vi que ele olhou e voltou a olhar e franziu um pouco a sobrancelha. Disse: ‘Os resultados na Flórida estão um pouco estranhos'”, escreve a ex-primeira dama, agora com 54 anos.

“Não havia alarme na voz dele, só um pequeno laivo de preocupação. O telemóvel vibrou outra vez. O meu coração começou a bater mais depressa. Olhei mais de perto para a cara do meu marido, sem a certeza de que estava preparada para ouvir o que ele ia dizer. Fosse o que fosse, não parecia bom. Senti algo pesado no estômago e a minha ansiedade transformou-se em horror”, acrescenta Michelle Obama, que não ficou acordada noite dentro para saber os resultados oficiais das eleições presidenciais. Decidiu ir dormir, numa tentativa de “bloquear tudo” o que estava a acontecer. “Queria desconhecer aquilo que era um facto durante o maior espaço de tempo possível”, revela. Quando acordou, era oficial: Donald Trump tinha sido eleito e iria suceder a Barack Obama enquanto presidente dos Estados Unidos.

A ex-primeira dama recorda no livro de memórias que as duas filhas – Malia, que estava na Bolívia à altura das eleições, e Sasha – ficaram “profundamente incomodadas” com a vitória de Donald Trump. “Disse às nossas duas meninas que as amava e que tudo ia ficar bem. Estava a tentar dizer o mesmo a mim mesma”, escreve Michelle Obama. Já sobre sobre o impacto eleitoral da possibilidade de ingerência russa nas eleições presidenciais ou de intervenção do diretor do FBI James Comey, a ex-primeira dama émais acutelosa nos comentários: “Não sou uma pessoa política, por isso não vou tentar oferecer uma tentativa de análise dos resultados. Não vou tentar especular sobre quem foi responsável ou o que é que foi injusto”.

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Só desejava que mais pessoas tivessem ido votar. E vou sempre questionar-me sobre os motivos que levaram tantas mulheres, em particular, a rejeitar uma candidata excecionalmente qualificada e escolher um misógino como presidente”, sublinha a ex-primeira dama norte-americana no livro.

Desde que Donald Trump foi eleito, em novembro de 2016, que Michelle Obama é apontada como uma eventual candidata às primárias do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2020. Em “Becoming”, Obama esclarece os rumores: “Não tenho qualquer intenção de me candidatar, nunca. Nunca fui fã de política e a minha experiência nos últimos dez anos fez pouco para mudar isso”. E continua: “Continuo a ficar desanimada com a maldade — a segregação tribal em que temos de ser vermelhos ou azuis [as cores associadas aos partidos Republicano e Democrata], esta ideia de que é suposto escolhermos um lado e colarmo-nos a ele, incapazes de ouvir e criar compromissos e às vezes até de sermos civilizados. Acredito que, no seu melhor, a política pode ser um meio para a mudança positiva, mas esta arena não é para mim”.

Michelle Obama garante, apesar de todo o “desânimo” com a administração Trump, que se preocupa com o futuro dos Estados Unidos e que desde que marido deixou a Casa Branca que lê notícias que lhe dão “a volta ao estômago” e que fica muitas vezes “acordada durante a noite” a pensar em tudo o que está a passar. “Às vezes pergunto-me quando é que vamos chegar ao fundo”, sentencia a ex-primeira dama.

Na semana passada, a Associated Press já tinha divulgado vários excertos do livro de memórias de Michelle Obama, incluindo os capítulos onde a mulher de Barack Obama revela que sofreu um aborto antes de ter as duas filhas e que teve de fazer fertilização in vitro para conseguir engravidar de Sasha e Malia.

O choque com Trump, a “nerdice” de Barack, um aborto há duas décadas e a auto-estima. O novo livro de Michelle Obama

Para promover a obra, Michelle Obama contratou uma empresa habituada a fazer as digressões de estrelas de rock e vai fazer um roteiro de conferências que passará por várias cidades dos EUA, com lugares pagos. O lançamento do livro acontece esta terça-feira em Chicago, na United Center, uma arena com capacidade para 23.500 pessoas. 10% das receitas das conferências serão doados a instituições de caridade, escolas e grupos comunitários em cada cidade por onde Michelle passar.