A agência de rating Moody’s alerta esta quinta-feira para o crescente endividamento do setor público na China, que deve atingir 149% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, devido a um modelo de crescimento económico assente no investimento.
O relatório da Moody’s assegura que a China está a abrandar as medidas que visam travar o ‘boom’ do endividamento, face ao abrandamento da atividade doméstica e os riscos gerados pelas disputas comerciais com os Estados Unidos.
“Apesar de os objetivos a longo prazo de redução do endividamento e dos riscos se manterem, é possível que, face às atuais circunstâncias, as autoridades recorram mais aos gastos do setor público para apoiar o crescimento”, aponta o analista George Xu, no relatório.
O vice-presidente e diretor de crédito da Moody’s, Martin Petch, afirma esperar que a “alavancagem financeira em todos os setores da economia aumente ainda mais, face às crescentes pressões negativas sobre o crescimento”.
“Acreditamos que a dívida no setor público, que inclui o Governo e as empresas estatais, aumentará para 149% do PIB, no final desta década, 15% mais do que em 2017”, disse.
O documento afirma que, apesar de “as autoridades terem redobrado esforços para melhorar a supervisão das empresas estatais fortemente endividadas” e “controlar as suas fontes de financiamento”, o “setor público continua a acarretar riscos”.
No mês passado, o Banco do Povo Chinês (banco central) cortou o coeficiente de reservas obrigatórias dos bancos em 1%, libertando quase 110.000 milhões de dólares norte-americanos em crédito, para impulsionar o desenvolvimento económico.
O aumento dos gastos públicos ocorrerá sobretudo através das autoridades locais, considera a Moody’s, que num outro relatório aponta os desafios da China no controlo das fontes de financiamento opacos a que recorrem os governos locais e regionais.
“A grande e contínua diferença entre as necessidades reais dos governos locais e regionais na China e as suas limitadas fontes de rendimento implicam que continuem dependentes de empresas estatais locais para financiarem as suas necessidades de infraestrutura”, aponta o relatório.
O documento lembra que as “empresas públicas locais detêm a maior proporção de dívida oculta” do país.
Num relatório recente sobre a dívida oculta local, o banco central chinês calcula que, só numa província do país, os cálculos apontam para um nível real de endividamento 80% superior aos dados oficiais.
Nos últimos dez anos, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos e dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas.
“Desde a crise financeira global [2008], a China criou 63% do novo dinheiro no mundo” ou “mais do que os Estados Unidos, Europa e Japão combinados”, descreve Dinny McMahon, autor do livro “China Great Wall of Debt” (“A Grande Muralha de Dívida da China”).
Manter altas taxas de crescimento económico e a criação de postos de trabalho são considerados pelas autoridades chinesas como essenciais para assegurar a estabilidade social, uma preocupação constante do Partido Comunista Chinês. Há várias décadas que o crescimento económico é uma das principais fontes de legitimidade do partido único no país.