As pessoas votam, vão ao carro trocar de roupa e voltam para votar outra vez sem qualquer controlo. A acusação foi feita por Donald Trump, num momento em que se estão prestes a fechar as recontagens das eleições intercalares nos Estados Unidos. O problema é que o Presidente dos Estados Unidos não têm qualquer prova desta alegação, lembrou o jornal The Guardian.

Quando as pessoas que não têm direito de votar andam em círculos. Às vezes vão para o carro, põe um chapéu diferente, põe uma camisa diferente, voltam e votam outra vez. Ninguém faz nada. É realmente uma desgraça o que está a acontecer”, disse Donald Trump.

O governador republicano Rick Scott e o presidente Donald Trump têm acusado o condado de Broward, na Florida, de fraude. É um facto que este condado tem um historial de problemas com a votação, mas isso não significa fraude, e não foram apresentadas provas que fundamentem esta acusação, refere o Politifact, um site que faz a verificação das afirmações dos políticos norte-americanos.

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Outra ideia errada deixada no ar por Donald Trump é que pessoas sem cidadania americana, ou seja, sem direito a votar nas eleições dos Estados Unidos, se punham na fila para votar repetidamente. Donald Trump Jr citou, de forma enviesada, uma notícia de 2012 que falava de uma lista que identificava pessoas sem cidadania americana que podiam tentar votar. Mas em vez das cerca de 200 mil pessoas que podiam não reunir condições para votar por falta de cidadania anunciada pelo filho do Presidente, o Politifact explica que os dados finais falam de apenas 85 pessoas. Donald Trump, por sua vez, cita um relatório de 2014 que foi muito contestado por fazer, mais uma vez, uma análise enviesada dos dados.

O Politifact acrescenta ainda que a acusação de que existem mais boletins de voto do que o número de eleitores registados também não tem qualquer fundamentação. No condado de Broward, em particular, só existem 61% dos votos (em relação ao número de eleitores) e não 110% como algumas pessoas fizeram passar nas redes sociais. Embora as regras de identificação variem de estado para estado, em todos eles os eleitores têm de estar registados e as mesas de voto terão a lista dos eleitores válidos. A validação é feita confrontando a assinatura da pessoa, com aquela que está registada.

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Um dos problemas reais é que depois da recontagem de votos no condado de Broward os números de votos não estão a bater certo com os anteriores por uma margem grande, embora isso possa ser justificado por um sobreaquecimento das máquinas de contagem automática que não foram feitas para trabalhar a um ritmo tão elevado. Os funcionários estão neste momento a proceder à recontagem, mas já foi pedido em tribunal que o prazo — que termina esta quinta-feira — seja prolongado.

A recontagem dos votos feita por máquinas é obrigatória sempre que a diferença entre os resultados seja menor que 0,5%. No caso, na corrida para o Senado, o republicano Rick Scott ficou à frente do democrata Bill Nelson por uma diferença de 0,14%. Já na corrida para governador, o republicado Ron DeSantis ficou à frente do democrata Andrew Gillum por 0,41%. Se na recontagem automática a diferença for de até 0,25%, tem de fazer-se uma contagem manual.