O ex-assessor jurídico da SAD do Benfica Paulo Gonçalves disse esta sexta-feira estar “apenas preocupado em colaborar com a justiça”, à chegada ao Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa, no âmbito do processo e-toupeira.

Paulo Gonçalves, que se apresentou no TCIC acompanhado do seu advogado, foi questionado pelos jornalistas se a SAD do clube lisboeta o tinha deixado cair e limitou-se a responder: “acima de tudo, sou benfiquista”.

O Ministério Público (MP) imputa 79 crimes a Paulo Gonçalves, acusando-o, enquanto assessor da administração da Benfica SAD, e no interesse da SAD, de solicitar a funcionários judiciais que lhe transmitissem informações sobre inquéritos, a troco de bilhetes, convites e merchandising. O MP acusa ainda a SAD do Benfica de um crime de corrupção ativa, de um crime de oferta ou recebimento indevido de vantagem e de 29 crimes de falsidade informática.

A instrução, fase facultativa, que visa decidir por um juiz de instrução criminal se o processo segue para julgamento, foi requerida pelos quatro arguidos do processo, o oficial de justiça José Augusto, o ex-escrivão e observador de árbitros Júlio Loureiro, Paulo Gonçalves, e a SAD do Benfica.

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A fase instrutória estava prevista iniciar-se na terça-feira com a audição de José Augusto, oficial de justiça e único dos arguidos em prisão domiciliária, mas o arguido em causa desistiu de prestar declarações nessa ocasião, ficando esta sessão sem efeito.

Assim, a primeira sessão da instrução foi na quarta-feira, tendo sido ouvido o escrivão e ex-observador de árbitros Júlio Loureiro e três testemunhas arroladas por este arguido, enquanto, esta sexta-feira, é a vez de Paulo Gonçalves ser ouvido e de mais quatro testemunhas arroladas pelo ex-assessor jurídico do Benfica.

A 19 de novembro, vão prestar declarações Domingos Soares Oliveira e Nuno Gaioso, enquanto legais representantes da SAD do Benfica. No dia seguinte, vão ser inquiridos Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Miguel Moreira e Luís Bernardo, diretor de comunicação do Benfica, todos testemunhas arroladas pela SAD encarnada. Para 21 de novembro, está agendada a inspeção às garagens do Estádio da Luz e para 26 de novembro o debate instrutório, que será público.

O procurador adjunto Valter Alves, do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa, responsável pela acusação do Ministério Público (MP), será também o procurador na fase de instrução.

Paulo Gonçalves diz que está “de consciência tranquila” e que não foi abandonado

O ex-assessor jurídico da SAD do Benfica Paulo Gonçalves afirmou esta sexta-feira, à saída da audição no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa, que teve oportunidade de esclarecer as dúvidas em torno do processo e-toupeira.

“Esclareci tudo e estou aliviado”, disse Paulo Gonçalves, que, depois de uma audição de mais três horas, afirmou que não está ansioso por uma decisão na fase instrutória. “Já esperei até agora, por isso, a decisão vai sair quando tiver de sair”, avançou o ex-dirigente encarnado, que declarou ainda estar “de consciência tranquila” e contar com o apoio dos amigos, entre eles Luís Filipe Vieira. “O presidente do Benfica é um amigo e nunca fui abandonado pelos amigos”, terminou Paulo Gonçalves.

A instrução, fase facultativa que visa decidir por um juiz de instrução criminal se o processo segue para julgamento, tem decorrido à porta fechada, com início sempre às 14h00, exceto no debate instrutório, agendado para 26 de novembro, e na leitura da decisão instrutória, sessões que serão públicas.

No Requerimento de Abertura de Instrução (RAI), a SAD do Benfica defende que a acusação do Ministério Público (MP) é infundada e que terá de cair nesta fase. O RAI assenta em três pontos essenciais, nomeadamente o desconhecimento dos factos imputados ao seu antigo assessor jurídico Paulo Gonçalves e restantes dois arguidos, ambos funcionários judiciais.

A acusação do MP considera que o presidente da Benfica SAD, Luís Filipe Vieira, teve conhecimento e autorizou a entrega de benefícios aos dois funcionários judiciais, por parte de Paulo Gonçalves, a troco de informações sobre processos em segredo de justiça, envolvendo o Benfica, mas também clubes rivais.