Marques Mendes acredita que Carlos César, ao divergir publicamente com o governo no caso do IVA da touradas, o fez “deliberadamente”. Razão? O “mal estar” criado pela “arrogância moral e intelectual da ministra da Cultura [Graça Fonseca]” ao dizer que “não baixava o IVA da tauromaquia por razões de civilização”.

O antigo presidente do PSD defendeu, no habitual espaço de comentário de domingo, no Jornal da Noite da SIC, que a afirmação de Graça Fonseca “gerou enormes anticorpos no PS e no seu grupo parlamentar”. Marques Mendes disse também que episódio é uma “revelação de algum mal-estar entre António Costa e Carlos César”.

Se não existisse algum mal-estar anterior, Carlos César não teria feito o desafio que fez ao Governo. E, se o tivesse feito, teria avisado previamente António Costa”, disse Marques Mendes.

“Nunca vi nenhum líder parlamentar que desafia o líder do partido, ainda por cima primeiro-ministro”, continuou o social-democrata. “Isto só é possível porque Carlos César tem um enorme peso político”, afirmou também. Segundo Marques Mendes, o primeiro-ministro recuou na decisão de acabar o IVA nas touradas: “Anteontem, tinha dito que estas matérias exigem disciplina de voto. Agora diz que há liberdade de voto. Ou seja: Carlos César exibiu o seu peso político para fazer um aviso a António Costa”.

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A maior parte dos deputados estava convencido que aquela proposta era um acordo com o governo. Acho que foi um episódio mais sério do que parece”, disse Marques Mendes.

“Há um pequenino mau estar entre os dois”, disse. “No final é um episódio mau para todos. Mau para a ministra da Cultura que fica fragilizada. Mau para o governo que ficou desautorizado. Mau para o governo porque se abre um precedente”, continuou. O político afirmou ainda: “Ao que me dizem, a maior parte dos deputados vai votar ao lado de António Costa, e não de Carlos César. Se for assim, Carlos César também sai mal na fotografia”, concluiu.

O caso dos professores tem sido “um exercício de hipocrisia”

“A questão dos professores é um exercício de hipocrisia de um lado, e radicalismo de outro”, disse Marques Mendes sobre o caso da contagem das carreiras congeladas na educação. Para o antigo líder social-democrata, há “hipocrisia da parte do PCP e do BE”. Como explica, “dizem estar ao lado dos professores, mas têm um instrumento para bloquear, o Orçamento do Estado, mas não vão utilizar esse instrumento”.

O Bloco de Esquerda e o PCP vão aprovar o Orçamento do Estado sem resolver o problema dos professores”, afirma Marques Mendes.

“Acho que estão todos a usar os professores”, continuou por dizer o comentador. Criticando o governo, diz que este “podia ter tido um espírito muito maior de abertura”. Contudo, assume que os sindicatos também “se podiam ter sentado à mesa” para, em vez de se reconhecer os 9 anos de carreiras congeladas, tentarem conseguir “7 ou 6”.

Direção do PSD “está já a atirar a toalha ao chão”

Quanto aos resultados da última sondagem SIC/Expresso, em que o PS teria, segundo os dados, 41,8% dos dos votos em eleições legislativas, remetendo o PSD para os 26,8%, Marques Mendes foi muito crítico da reação da direção do partido.

Segundo o comentador, quer a reação de Rui Rio ao Expresso, quer a entrevista de José Silvano ao DN mostram que o partido está já a “atirar a toalha ao chão” e a encontrar um bode expiatório: “os críticos internos”.

Para Marques Mendes, apenas o facto de a sondagem estar a ser comentada pelo partido, é uma novidade que não abona a favor do PSD. Para o jurista, é inédito um partido antecipar “a 10 meses das eleições”, uma derrota.