Manuel Alegre diz que ainda não respondeu à carta aberta, publicada no jornal Público, que o primeiro-ministro lhe dedicou, acerca do tema das touradas. “Se lhe escrever será uma carta pessoal, não vamos andar a escrever através dos jornais”, afirma o histórico socialista em entrevista à TSF/Diário de Notícias. Alegre reconhece que se está a falar do IVA das touradas, e não da sua proibição, mas “as coisas estão todas ligadas” e falar do que é ou não é “civilização”, como fez a ministra Graça Fonseca, é algo que “fratura” o país, diz Manuel Alegre, acrescentando que quem não percebe o que há de “sagrado” na “corrida” de touros “também não percebe a poesia, não percebe a literatura”.

“Eu sei que há evolução, sou contra os maus-tratos aos animais, não haja dúvida nenhuma sobre isso. Mas sou pelas pessoas e sou por qualquer coisa de sagrado que há na corrida, qualquer coisa de sagrado muito antigo. Quem não percebe isso também não percebe a poesia, não percebe a literatura”, afirma Manuel Alegre, que presta homenagem ao Partido Comunista Português (PCP) por ser “fiel às tradições” e “não tem medo do PAN, não tem medo do politicamente correto”.

Fratura geracionalmente, fratura Lisboa e o resto do país e fratura a cidade e o campo. Os políticos que tenham cuidado, um dia o campo pode revoltar-se. Foi sempre um país uno porque respeitou a sua diversidade. Eu apoio o governo, apoio o PS e sou genuíno quando falo da minha liberdade. Eu gosto de caçar, enquanto não for proibido pelo deputado do PAN com o apoio do Partido Socialista…

“Não é a ministra que define o que é ou não é civilização”, defende o histórico socialista. “Eu não estou fora da civilização, escrevi poemas sobre touros, o Lorca não está fora, o João Cabral de Melo Neto não está fora, o Ortega y Gasset não está fora, o Goya não está fora, o Picasso não está fora. A Guernica é o quadro-símbolo da Guerra Civil de Espanha. Sabem quais são os dois grandes símbolos que lá estão? O cavalo e o toiro. Portanto, cuidado, quando vamos falar de civilização”.

Manuel Alegre diz que nem vai “muito às touradas”, que vê na televisão, “sobretudo a corrida à espanhola, o toureiro a pé, de que [gosta] muito]”. Alegre recusa “engenharias sociais ou artificiais messiânicas. Isso tem uma carga totalitária muito perigosa”, lembrando a notícia “sobre um grupo de mascarados, o IRA, eventualmente ligado ao PAN… Muita doçura com os animais, eu acho bem, eu sou autor de um livro, Um Cão como Nós, que é um bestseller, tem mais de cem mil exemplares vendidos, gosto muito de cães e gosto muito de animais, mas não ponho os animais acima das pessoas”.

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