A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff prometeu em Buenos Aires esta segunda-feira uma “aliança até com o diabo” para combater o governo de Jair Bolsonaro, que classificou de “neofascista”. Falando no Fórum do Pensamento Crítico, em Buenos Aires, Rousseff defendeu alianças políticas amplas e um programa claro de combate às políticas de Bolsonaro.

“Faremos aliança até com o diabo para combatê-los”, prometeu Rousseff na cerimónia de abertura do encontro que juntou dirigentes da esquerda de vários países. Para a ex-presidente destituída em 2016, as alianças devem ter como base “corações anti-liberais e antiautoritarismo” para combater o que chamou de “neofascismo”.

“A população ficará vulnerável a todas as cooptações possíveis. Teremos de resistir e enfrentá-los”, defende Dilma Rousseff, que faz uma diferença entre a extrema-direita de Jair Bolsonaro e as políticas de centro-direita. “A centro-direita é a favor das reformas neoliberais, mas é antiautoritária. Tem essa característica de querer moderar os neofascistas que agora chegaram ao poder”, diferenciou.

Para Dilma Rousseff, antes mesmo de começar a governar, Jair Bolsonaro começou o processo “de tragédia social e de perda de direitos adquiridos” ao acabar com a presença de cubanos no programa Mais Médicos que chegou a municípios que, de outra maneira, não teriam atendimento médico. “Isso significa que milhões de brasileiros não terão acesso ao atendimento básico de saúde. E essa sistemática alteração dos direitos vai provocar uma reação popular”, prevê Rousseff.

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Nas últimas eleições, “o Partido dos Trabalhadores foi derrotado nas últimas eleições para presidente, mas não teve uma derrota estratégica”. “Elegemos a maior bancada no Congresso e o maior número de governadores por partido. Também o maior número de representantes nas assembleias legislativas nos estados”, destaca.

“E isso coloca dois problemas para o novo governo: não basta ganhar-nos eleitoralmente. Eles dizem de forma clara que querem a nossa destruição. É um método fascista. E também querem destruir as conquistas dos movimentos sociais como os Sem Terra (MST) e os Sem Teto (MTST), dois movimentos que tratam de um grande problema do Brasil: a desigualdade”, avalia Roussef.

Sobre o juiz Sérgio Moro, quem liderou a operação judicial Lava Jato desde o seu início, em março de 2014, Rousseff disse não ter dúvidas de que é um exemplo de uso da justiça para fins políticos. “O juiz que julgou e condenou Lula transformou-se em ministro de Justiça. Então, ou o rei ficou nu ou há batom nessa cueca”, definiu Dilma, que falou no painel “Democracia, cidadania e estado de exceção”.