André Geraldes, antigo team manager do Sporting durante boa parte da presidência de Bruno de Carvalho, falou pela primeira esta segunda-feira depois de ter sido investigado no âmbito do caso “Cashball”, relativo a um alegado esquema de corrupção e viciação de resultados em jogos de futebol e andebol. Em entrevista à CMTV, André Geraldes – que este domingo ficou livre das medidas de coação a que estava sujeito porque o Ministério Público não deduziu a acusação em seis meses – garantiu que está “de consciência tranquila”, recusou ter dado instruções para que fossem feitos pagamentos a árbitros ou a jogadores e falou ainda sobre a alegada autoria moral de Bruno de Carvalho nas agressões de Alcochete.

“Se dei instruções para se pagar a árbitros e a jogadores? Claro que não, nas provas que vieram a público vê-se que não existem referências a mim, não apareço nessas alegadas escutas. É um processo que está em segredo de Justiça. Passaram os seis meses sem acusação e isso pode querer dizer alguma coisa. Estou de consciência tranquila. Quem trabalha comigo conhece-me e sabe o meu valor. Sem querer vangloriar-me, aguardo com serenidade o desenvolvimento da investigação. Há-de ser feita justiça, leve o tempo que demorar. A investigação ainda está em curso”, explicou André Geraldes, que entretanto foi contratado como presidente-executivo do Farense, já que o facto de estar livre das medidas de coação implica que deixa de estar impedido de contactar pessoas do meio desportivo.

Sobre uma imagem — um alegado printscreen, uma imagem captada a partir do ecrã de um telemóvel — que revela uma troca de mensagens de André Geraldes com um dos arguidos do processo, o ex-team manager do Sporting garante que “nunca escreveu” a mensagem. “Não me lembro, nunca existiu. O que o Ministério Público terá de fazer é provar que esta mensagem saiu do meu telemóvel. Nunca a escrevi. Em cinco minutos posso inventar um printscreen de outro número de telemóvel. O Ministério Público tem de provar que esta mensagem saiu do meu equipamento”, explicou.

Já sobre os 60 mil euros que foram encontrados num gabinete do Estádio de Alvalade, e que alegadamente pertenciam a André Geraldes, este garante que se tratava de dinheiro do Sporting ligado à venda de bilhetes. “Esse dinheiro está explicado em sede de investigação. Não era o meu gabinete, o meu era na Academia. Em Alvalade existia um gabinete que eu utilizava quando lá ia e onde estavam outras pessoas”, revelou, para depois concluir que era “dinheiro dos jogos de futebol, para se ter 60 mil euros num cofre basta um jogo e meio, é dinheiro do Sporting”.

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André Geraldes esteve três meses sem desempenhar funções no Sporting, após ser detido no âmbito da operação “Cashball”, e acabou por rescindir contrato com os leões em agosto. Na altura em que a crise leonina eclodiu, depois da derrota com o Atl. Madrid em jogo a contar para a Liga Europa – que motivou críticas de Bruno de Carvalho aos jogadores, comunicados do plantel a responder ao presidente e culminou numa suspensão de vários jogadores que acabou por não se concretizar -, o plantel pediu a André Geraldes, intermediário entre o plantel e a direção, uma reunião com Bruno de Carvalho. Sobre esse período em que era a ponte entre dois pólos às avessas – desde o jogo de Madrid até à derrota com o Marítimo na Madeira – o ex-funcionário do Sporting explicou que fazia “o papel da ONU”.

“O André no Sporting tinha a responsabilidade de gerir o futebol profissional. O André Geraldes, à data dos factos, tinha o clube virado de pernas para o ar. O André, por esses dias, tinha o treinador despedido, jogadores a querer falar com a direção, uma data de coisas em que estava metido, a fazer o papel da ONU”, afirmou. Sobre quem teve responsabilidade na “guerra civil”, não quis alongar-se para admitiu que Bruno de Carvalho “não fez o melhor percurso ao nível da comunicação”. “Não vou entrar por aí. O meu papel era pacificar o que era um momento menos bom que a equipa atravessava. Bruno de Carvalho foi meu presidente durante cinco anos. Se esperam que o achincalhe, não contem comigo. A partir de janeiro, por motivos do foro pessoal, as coisas começaram a não sair-lhe tão bem”, admitiu André Geraldes.

O ex-team manager do Sporting comentou ainda o caso das agressões de Alcochete e rejeitou acreditar que tenha sido Bruno de Carvalho a ordenar o ataque à Academia. “Quero acreditar que nenhum presidente do Sporting, fosse quem fosse, pudesse ter pedido às pessoas para fazerem aquilo. Essa é uma zona em que já estou fora de pé, a acusação está em cima da mesa e não posso opinar. Cada pessoa tem a sua pasta dentro de um clube e SAD. Ninguém podia prever que aquilo fosse acontecer”, defendeu André Geraldes, garantindo ainda que não poderia ter alertado as autoridades para um potencial ataque porque as suas funções estavam relacionadas “com o futebol e não com a segurança”.