O protesto nacional dos juízes contra a revisão “incompleta” do Estatuto, por não contemplar reivindicações remuneratórias e de carreira, inicia-se esta terça-feira com uma greve geral, que deverá levar ao cancelamento de muitos julgamentos e outras diligências processuais. Na segunda-feira, o presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) previu que a greve geral terá uma “adesão muito forte”, culpando o Governo por não deixar outra alternativa aos magistrados judiciais ao apresentar uma proposta de revisão do Estatuto que “não é aceitável”.

Além da greve geral de esta terça-feira, que abrange tribunais de todo o país e envolve à partida cerca de 2.300 magistrados, estão previstos mais 20 dias de greve parcial, repartidos por diferentes tribunais e por datas que vão até outubro de 2019. A greve foi convocada para todos os juízes em funções em todos os tribunais judiciais, tribunais administrativos e fiscais, Tribunal Constitucional e Tribunal de Contas.

Quanto ao impacto da greve no funcionamento dos tribunais e na vida dos cidadãos, o presidente da ASJP reconheceu que a greve terá “custos sociais”, insistindo na ideia de que “infelizmente” os juízes não tinham outra alternativa face ao incumprimento de promessas assumidas pelo Governo e ao não acolhimento de matérias relacionadas com a carreira e o sistema remuneratório.

Durante a greve serão assegurados serviços mínimos, designadamente aqueles que digam respeito aos direitos e liberdades fundamentais, à situação dos menores em risco, aos presos com mandado de detenção europeu (MDE) e pessoas com problemas de saúde mental. Apesar dos julgamentos com arguidos presos serem considerados processos urgentes, tal situação não é abrangida pela proposta de serviços mínimos apresentada ao Conselho Superior da Magistratura (CSM), pelo que, hoje, as audiências de julgamento com presos preventivos estão em risco de não se realizarem.

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Ferreira Torres no tribunal em dia de greve

O tribunal de São João Novo, no Porto, marcou para esta terça-feira, primeiro dia da greve dos juízes, o julgamento de Avelino Ferreira Torres, ex-autarca do Marco de Canaveses, acusado de forjar uma confissão de dívida. Em causa uma carta datada de 9 de agosto de 2012, da suposta autoria de um construtor civil — que chegou a convencer um juiz de execução — na qual reconheceria uma dívida de 1,05 milhões de euros a Avelino Ferreira Torres e se comprometeria a pagá-la em prestações mensais de 30 mil euros.

No processo são coarguidos o filho do antigo presidente de Câmara, Fernando Jorge Torres – que, tal como o pai, está pronunciado por burla qualificada na forma tentada e falsificação de documento -, e o advogado Armando Teixeira, a quem é imputado um crime de falsificação de documento. Em tal documento o construtor consentiria que “o não pagamento de qualquer uma das amortizações” (…) implicaria o vencimento das restantes”.

O empresário da construção negou a existência de qualquer dívida, bem como a autoria da carta, mas uma perícia à assinatura da alegada confissão dívida do construtor, realizada pelo Centro Médico Legal de José Pinto Costa, revelou-se inconclusiva. Já o Ministério Público é perentório, assegurando que se trata de uma confissão de dívida forjada por Ferreira Torres e pelo filho, “ou alguém a mando deles”. O mesmo diz da assinatura do documento.

Esta primeira sessão de julgamento, condicionada à adesão ou não do coletivo de juízes à greve da classe, está marcada para as 09h45, prevendo-se que se prolonga até à tarde, no Juízo 6 do Tribunal Criminal de São João Novo, no Porto.