O Hospital de São João, no Porto, admitiu esta quinta-feira transferir o internamento de crianças em contentores para espaços do edifício principal que devem ficar livres em março, numa mudança temporária até à construção da Ala Pediátrica.

Fonte oficial do centro hospitalar disse à Lusa que estão “em curso” várias “reparações” nos contentores provisórios desde 2011, mas podem ser equacionadas “outras soluções” até que avance e fique pronta a nova Ala Pediátrica aprovada pelo Governo.

“As obras de remodelação em curso [nos contentores do internamento pediátrico] são as possíveis no imediato. No entanto, outras soluções poderão ser encaradas, nomeadamente após o término da obra de construção em curso do serviço de hemoterapia [em março de 2019], que libertará espaços no edifício principal que poderão ser adaptados”, adiantou o hospital.

Aquela unidade indicou ainda prever um investimento de “cerca de 300 mil euros” em “reparações” nos contentores do internamento pediátrico.

De acordo com o hospital, este é o “custo total estimado” para as intervenções nos contentores durante “o tempo de duração de construção definitiva da Ala Pediátrica”.

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As obras começaram no início do mês e pretendem “melhorar as condições assistenciais e de conforto para as crianças e para os familiares”, disse o centro hospitalar.

O hospital assegurou que “os contentores são alvo de reparações constantes de acordo com as necessidades”.

Em 2017, por exemplo, “foram efetuadas 1.400 intervenções”, segundo o centro hospitalar.

Em entrevista à Lusa em outubro, mães e pais de crianças recentemente internadas no São João classificaram as instalações do internamento pediátrico como “indignas” e “desumanas”.

Descreveram “quartos minúsculos sem janelas”, “cartão a tapar buracos na parede”, isolamentos “sem casa de banho” ou “uma sanita e duche para 40 ou 50 pais”.

Em 2016, cerca de um ano depois de ter começado, foi interrompida a obra da nova Ala Pediátrica, que decorria com fundos privados angariados pela Associação Joãozinho.

A administração hospitalar defendeu na ocasião que a empreitada só seria possível com investimento público, devido ao “desfasamento entre as verbas angariadas [pela associação] e o orçamento total da obra”.

A empreitada era de cerca de 25 milhões de euros e a associação “Um Lugar Pró Joãozinho” tinha então reunido cerca de um milhão de euros.

Em janeiro de 2017, o Ministério da Saúde aprovou a construção da ala pediátrica.

Na ocasião, o presidente da administração do São João, António Oliveira e Silva, revelou que o centro hospitalar estava “em negociações com a Associação Joãozinho” para a reversão da titularidade da obra, que pertencia à associação.

Ainda em 2017, Oliveira e Silva descrevia que a empreitada permitiria criar, além de uma zona de internamento, “blocos, unidade de cuidados intensivos, uma unidade funcional de queimados”, entre outras valências, com o objetivo de ter um serviço de pediatria “muito direcionado para o doente agudo e grave”.

O Governo autorizou em 19 de setembro a administração do São João a lançar o concurso para a conceção e construção das novas instalações do Centro Pediátrico.

Na quinta-feira, o líder parlamentar do PS, Carlos César, anunciou a apresentação de uma proposta para acelerar as obras da nova ala pediátrica mediante recurso ao ajuste direto e dispensa de visto prévio do Tribunal de Contas.