Imagine que mora numa pequena localidade, composta sobretudo por residentes de idade avançada, cuja segurança é diariamente posta em causa pela velocidade a que circulam os automobilistas que a atravessam. Foi exactamente com esse sentimento – o receio de que, um dia, viesse a suceder uma tragédia na estrada – que os habitantes de Acquetico decidiram queixar-se junto das entidades competentes, manifestando a sua preocupação face à falta de controlo da velocidade, naquela pequena aldeia italiana localizada na região de Ligúria.

Resultado: após as devidas burocracias e a alocação de um orçamento para a instalação de um radar num troço da estrada principal, a SS28, eis que as queixas da população ganharam a forma de número com a entrada em funcionamento do novo equipamento.

Bastou uma quinzena com o radar em actividade, para que as autoridades locais se apercebessem da gravidade da situação pois, segundo escreve a agência de notícias italiana ANSA, quase 60 mil condutores foram apanhados em transgressão, rodando acima dos 50 km/h permitidos por lei naquela fracção da rodovia. Com outra agravante: o radar foi instalado pouco antes de… uma passadeira.

Sem qualquer sinalização a alertar os condutores para a existência de um radar fixo, eis que em duas semanas foram detectados 58.568 casos de excesso de velocidade. Mas excesso “excessivo”, pois metade das infracções foram cometidas ao dobro da velocidade legal. Ninguém pensaria ser possível atravessar uma localidade rural a 135 km/h mas, segundo o radar, aconteceu.

A sorte dos habitantes da zona é que, pese embora a irresponsável conduta dos condutores, não houve qualquer acidente. E a sorte dos condutores é que, apesar de terem transgredido claramente a sinalização, não vão receber uma multa em casa. Isto porque, nestes 15 dias, o radar estava apenas em testes. Se não estivesse, as contas eram estas: 3.905 multas por dia ou três multas por minuto. Portanto, das duas uma: ou este é o radar mais temível do mundo, ou os condutores mais temíveis do mundo estão em Acquetico. A ponto de as autoridades locais estarem a ponderar tornar permanente o dispositivo para controlo da velocidade. Se assim for, ter o pé pesado vai doer (na carteira).

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