Este sábado, o Real Madrid perdeu fora com o Eibar com um retumbante 3-0, o Manchester United não foi além de um empate a zero em Old Trafford com o Crystal Palace e o Bayern Munique desperdiçou uma vantagem de dois golos para empatar 3-3 com o Fortuna Düsseldorf. A tarde não estava fácil para os supostos candidatos aos lugares cimeiros das principais ligas europeias e Tottenham e Chelsea entraram em campo com essa noção. As duas equipas de Londres eram as protagonistas do jogo grande da jornada 13 da Premier League: separadas por apenas um ponto e sabendo que tanto Manchester City como Liverpool tinham vencido, ambas precisavam de ganhar para se manterem pertinho dos dois da frente e descolar.

Mauricio Pocchettino fez quatro alterações face ao jogo anterior (entraram Aurier, Eric Dier, Eriksen e Son Heung-min, saíram Trippier, Wanyama, Lamela e Lucas), Maurizio Sarri apresentou exatamente o mesmo onze que há duas semanas empatou em casa com o Everton – Kovacic esteve em dúvida e Ross Barkley era quase certo enquanto titular mas o croata acabou por recuperar a tempo de jogar em Wembley.

À partida, o Chelsea teria uma ténue vantagem: além de terem mais um ponto, os blues ainda não tinham perdido na Premier League esta temporada, enquanto que o Tottenham tem estado a realizar uma época mais forte fora do que em casa (já perdeu duas vezes em Wembley, com o Manchester City e o Liverpool). Mas a vantagem foi, tal como quase sempre é, teórica. Os spurs entraram no jogo de forma absolutamente demolidora e encostaram o Chelsea ao seu meio-campo defensivo; recuperaram todas as bolas, ganharam todos os ressaltos e deixaram a equipa de Sarri completamente sem ar durante os primeiros 15 minutos. O jogo pelas alas, assente na clarividência de Sissoko e Eriksen e no virtuosismo de Dele Alli, que é o playmaker perfeito para servir um Harry Kane que ao lado tem o rebelde Son, apanhou o Chelsea completamente desprevenido e sem soluções para ocupar os espaços vazios onde o Tottenham parecia ter mais elementos.

O primeiro golo apareceu logo aos oito minutos – depois de Kane já ter assustado Kepa logo aos quatro –, após um grande cruzamento batido por Eriksen a partir de um livre a descair na direita. Alli antecipou-se ao primeiro poste e desviou para a baliza, recordando aquilo que Alex Ferguson disse um dia, quando comparou a sua eficácia a curta distância para a baliza com a do antigo internacional inglês Paul Gascoigne. O segundo surgiu logo aos 16 minutos, com Harry Kane a surgir completamente sozinho à entrada da área, a avançar sem qualquer oposição para depois rematar forte para o canto inferior esquerdo da baliza do guarda-redes espanhol do Chelsea.

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Depois do 2-0, o Tottenham tirou o pé do acelerador e o jogo tornou-se uma dinâmica de perdas e recuperações de bola, onde a velocidade de Hazard e N’Golo Kanté permitiram ao Chelsea chegar com mais perigo à baliza de Lloris. Ainda assim, os spurs estiveram sempre mais perto do 3-0 do que os blues estiveram de encurtar a desvantagem e os comandados por Pochettino não foram para o intervalo a golear porque Kepa não deixou. No regresso para a segunda parte, o Chelsea precisava de que Jorginho se soltasse da alta pressão de Dele Alli e criasse transições rápidas que ligassem o meio-campo a Morata, que andou meio perdido durante os primeiros 45 minutos.

Tottenham não demorou a ganhar vantagem no dérbi de Londres e venceu de forma confortável por 3-1 (IAN KINGTON/AFP/Getty Images)

A equipa de Maurizio Sarri – que passou a primeira parte sentado a tirar notas e na segunda decidiu estar de pé, com uma beata na boca mas sem fumar – voltou com mais bola e mais remates mas com muitos passes falhados e bolas por cima e ao lado da baliza de Lloris. O Tottenham deixou o adversário jogar, o que justifica assim a grande vantagem dos blues em termos de posse de bola, mas ocupou todos os espaços e linhas de passe graças às grandes exibições de Eric Dier, Aurier e Foyth – este último, defesa central argentino, vai dar muitas dores de cabeça a Pochettino, já que foi a solução encontrada pelo técnico para fazer face à ausência prolongada do belga Vertonghen e agora dificulta o regresso do habitual titular ao onze devido à exímia competência que tem mostrado.

O Chelsea tinha mais bola, mais ataques e mais remates mas não criava perigo – só frustração. Aos 54 minutos, Son Heung-min mostrou porque é que o Tottenham passou o verão preocupado com a possibilidade de o sul-coreano ter de abandonar o futebol para cumprir o serviço militar no país de origem: o médio segurou uma bola na ala direita, arrancou em alta velocidade numa zona que parecia longe da baliza de Kepa, deixou para trás Jorginho e David Luiz – que se mostraram inofensivos e com receio de cometer grande penalidade – entrou dentro da grande área e atirou para o terceiro dos spurs. Depois de uma jogada de mestre, Son dirigiu-se aos adeptos, agradeceu, dedicou-lhes o golo e beijou consecutivamente o símbolo que ostenta no peito.

Até ao final, Sarri tirou Morata e Kovacic para colocar Pedro e Ross Barkley e deixar Hazard como referência ofensiva – para 20 minutos depois se arrepender e sacrificar Willian para fazer Giroud entrar em campo. O francês campeão do mundo ainda foi o responsável pelo golo de honra do Chelsea, naquela que foi talvez a única jogada com cabeça, tronco e membros que os blues conseguiram implementar na seguna parte, mas não conseguiu apagar as consequências da entrada brutal do Tottenham e do ritmo diabólico de Kane, Alli e companhia.

O Tottenham venceu o Chelsea em casa de forma absolutamente indiscutível e está agora no terceiro lugar da Premier League. Maurizio Sarri tem razão quando diz que não está satisfeito com a equipa mesmo apesar dos resultados positivos que tem vindo a registar. Os adeptos dos spurs têm razão quando pedem a Pochettino que lhes dê títulos e não só bom futebol. Este é já o segundo melhor arranque de sempre do Tottenham e é bom recordar que o clube londrino está apenas a três pontos do Liverpool e a cinco do líder Manchester City.