Na antevisão do jogo deste sábado com o Belenenses, Sérgio Conceição garantiu que este seria “um jogo de Taça, difícil” para o FC Porto. Afinal, a equipa do Restelo “é, a par de algumas grandes equipas na Europa, das poucas que não perderam fora na Liga”. “É fiel aos seus princípios, gosta de ter bola, de jogar a partir de trás. Esperamos um jogo difícil. Cabe-nos assumir a responsabilidade de ganhar e passar esta eliminatória. Mais do que qualquer estratégia e conhecimento, o fundamental será o estado de espírito”, acrescentou o treinador dos dragões. Este Belenenses de Silas esteve empatado com o FC Porto até aos últimos instantes, no jogo do Campeonato, até que um golo de Alex Telles nos instantes finais valeu a vitória, e bateu o Benfica no Jamor. Não era coisa pouca.

FC Porto vence Belenenses SAD por 2-0 e está nos oitavos de final da Taça de Portugal

Mas, ainda assim, este era um jogo da Taça. E nem sequer era um jogo da Taça qualquer: é um jogo que dá início a uma fase de grande intensidade competitiva para os dragões, que entre campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga dos Campeões vão fazer oito jogos em 35 dias – terminando, curiosamente, novamente com o Belenenses, no último encontro da fase de grupos da Taça da Liga. Por tudo isto, era necessário poupar esforços. Brahimi, Marega, Danilo, Sérgio Oliveira e Casillas ficaram no banco; entraram Fabiano, Soares, Adrián López, Soares e Óliver. Jesús Corona mantinha a titularidade mas a lateral direito, num onze de pendor claramente ofensivo que tinha como objetivo resolver o jogo e seguir em frente na competição cuja vitória já escapa desde a temporada 2010/11.

Do lado do Belenenses, Silas fazia três alterações em relação ao último jogo (uma derrota com o Desp. Chaves) mas mantinha um lógica de posse de bola, organização e criatividade – muito à sua imagem quando era jogador. Licá e Keita são as grandes referências ofensivas de uma equipa que assenta muito na arrancadas de Reinildo ao longo do corredor direito. Os dragões entraram mais fortes e pressionantes, com vontade de marcar depressa e não dar azo a grandes surpresas, como aconteceu com o Varzim para a Taça da Liga, que esteve a vencer no Dragão e ainda empatou depois da reviravolta azul e branca.

Os comandados por Sérgio Conceição apresentaram um bom ritmo e boas transições ofensivas e encostaram o Belenenses às cordas nos primeiros dez minutos. Alex Telles e Jesús Corona, os dois homens das alas, foram sempre os porta estandartes de um ataque que tinha três homens com fome de golo à espera de uma bola na grande área. E a bola chegou aos 12 minutos. O mexicano Corona orquestrou uma jogada de encher o olho: começou na ala, descobriu AdriánLópez na meia-lua da área do Belenenses, o espanhol picou para devolver e Corona recebeu já na área, solicitou Soares de primeira e o brasileiro só precisou de encostar. Soares marcou pelo segundo jogo consecutivo, algo que não conseguia fazer desde fevereiro, e Jesús Corona fez a quinta assistência da temporada.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos em vídeo do FC Porto-Belenenses]

5.ª assistência de ??Corona esta época: no FC Porto, só Otávio (6) tem mais passes para golo

➡Corona tem já mais golos (4/3) e assistências (5/4) do que na época passada? pic.twitter.com/u8XIr6t6l5

— playmakerstats (@playmaker_PT) November 24, 2018

O FC Porto soube gerir a vantagem até ao intervalo, colocou algum gelo na partida e adormeceu um Belenenses que tentou, ainda que a espaços, chegar à baliza de Fabiano. Antes de Nuno Almeida enviar toda a gente para o balneário, Jesús Corona ainda ensaiou um grande golo depois de uma jogada estudada a partir de um canto marcado à maneira curta e Licá rematou à meia volta para defesa fácil do guardião azul e branco, naquele que foi o melhor lance do Belenenses na primeira parte.

Silas tirou Lucca e colocou Henrique logo no regresso para a segunda parte e o Belenenses parecia ter voltado do balneário com vontade de ir atrás do resultado. Ainda dentro dos primeiros cinco minutos, Nuno Coelho ganhou vantagem na grande área do FC Porto depois de um canto batido na esquerda do ataque e rematou rasteiro para Fabiano encaixar: tudo apontava para uma segunda parte bem disputada e difícil para os dragões, que mantinham a vantagem mínima no resultado. Cinco minutos depois do remate de Nuno Coelho, Herrera caiu na área contrária e Nuno Almeida não teve dúvidas em assinalar grande penalidade de Reinildo. Na conversão, Otávio foi demasiado denunciado e permitiu a defesa de Mika (Adrián López ainda tentou a recarga mas rematou ao lado). O FC Porto tinha tido na mão a oportunidade para aumentar a vantagem, descansar e deixar o Belenenses vir para cima até se desgastar – mas desperdiçou-a.

+ participação em ⚽golos FC Porto 2018/19 (golos + assistências):
11 OTÁVIO⬆?
8 Marega, Corona⬆ pic.twitter.com/Z3ykCH22yF

— playmakerstats (@playmaker_PT) November 24, 2018

Otávio ficou notoriamente incomodado com o falhanço e, como bom rebelde que já provou ser, não descansou até conseguir mostrar a Sérgio Conceição que estava arrependido. Três minutos depois do penálti falhado, o avançado lançou-se numa jogada individual brilhante depois de uma arrancada de Soares, deixou para trás dois defesas do Belenenses e bateu Mika. O penálti estava aparentemente esquecido, o resultado estava aparentemente resolvido mas Otávio só ficou descansado quando conseguiu falar com Sérgio Conceição, já depois de sair para a entrada de Sérgio Oliveira, e apresentou ao treinador aquilo que pareciam ser as suas explicações. Até ao final, o FC Porto esteve sempre mais perto de marcar o terceiro do que o Belenenses esteve de reduzir (à exceção de um grande remate de Eduardo para defesa ainda maior de Fabiano) e o jogo arrastou-se com pouca qualidade até ao apito final.

O FC Porto bateu o Belenenses SAD no Dragão, somou o oitavo triunfo consecutivo e segue em frente na Taça de Portugal, juntando-se aos já apurados Benfica, Sporting e Desp. Aves nos oitavos de final da competição. Jesús Corona, mesmo a jogar a lateral direito, voltou a ser preponderante no fluxo ofensivo azul e branco e na competência defensiva, nunca beneficiando um em detrimento do outro. O mexicano, assim como já tinha feito com o Varzim, quando resolveu o jogo com um lance de génio que culminou (também) num golo de Soares, é muitas vezes o homem da batuta da orquestra montada por Sérgio Conceição: quer seja a lateral ou a médio.