Nos últimos dias, Ousmane Dembélé tem estado nas capas de todos os jornais desportivos espanhóis. Quem acompanhou a romaria que foi a transferência do jovem francês do Borussia Dortmund para o Barcelona, a troco de 105 milhões de euros (mais 40 de variáveis) e numa tentativa de substituir Neymar, diria que essas chamadas de capa se deveram a uma grande exibição, a um grande golo ou a um conjunto de grandes exibições de grandes golos. Mas a verdade é que o avançado de 21 anos tem estado na atualidade espanhola e internacional pelos piores motivos. Faltou a um treino, mentiu, tentou arranjar desculpas e só depois admitiu que tinha adormecido. Além disso, surgiram notícias que dão conta de que descartou a dieta oficial do Barcelona e come regularmente fast food, ainda não sabe falar espanhol e não se esforça para se integrar no plantel catalão. À entrada para o jogo grande deste fim de semana no campeonato espanhol, a visita do Barça ao Atl. Madrid, Dembélé era tudo menos um favorito dos adeptos blaugrana.

Onde está o Dembélé? Dortmund, Barcelona, qualquer interessado: liguem à mãe do menino, sff

Mas, como já sabemos e tantas vezes confirmamos, os amores e os ódios do futebol tão depressa aparecem como evaporam: consoante resultados, golos e troféus (ou a ausência deles). Atl. Madrid e Barcelona estavam à entrada para a 13.ª jornada separados por apenas um ponto, com vantagem para os catalães, e uma vitória de qualquer um dos lados seria importante para as ainda embrionárias aspirações ao título. No mesmo dia em que o Real Madrid perdeu com o Eibar por 3-0, naquela que foi a primeira derrota na era Solari, madrilenos e catalães podiam dar um passo sério rumo à liderança da tabela.

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Numa primeira parte com poucas ideias e que deixa pouco a registar, as equipas de Diego Simeone e Ernesto Valverde entraram mornas e com pouca vontade de vencer. O Barcelona registou uma (muito) ténue vantagem, ao realizar mais transições e acumular mais fluxo ofensivo do que o adversário, mas nada disso culminou em reais oportunidades de golo. Primeiro e segundo classificados do campeonato espanhol foram para o intervalo sem ter efetuado qualquer remate enquadrado – e foi a primeira vez que tal aconteceu nesta edição da liga espanhola. Numa segunda parte má mas melhor do que a primeira, Diego Costa quebrou uma série de 18 jogos sem marcar no campeonato e respondeu da melhor maneira a um canto batido por Griezmann. Estávamos com 77 minutos e o espanhol parecia ter empurrado o Atl. Madrid para o topo da tabela.

Três minutos depois, aos 80′, Ernesto Valverde decidiu arriscar tudo, tirar Arthur e lançar Dembélé. O treinador blaugrana já tinha defendido o avançado francês na passada sexta-feira e garantiu que o seu lugar na equipa nunca estaria em causa devido aos rumores que encheram as páginas dos jornais nos últimos dias. E, apesar de ter apenas 21 anos, Dembélé é francês, jogou no Rennes, na Alemanha e agora em Espanha. E esteve na equipa que venceu o Campeonato do Mundo da Rússia no passado mês de julho. Ou seja: sabe muito de futebol. E sabia que a única maneira de fazer esquecer – ou pelo menos perdoar – o que lhe tem sido atribuído nos últimos dias era marcar. Aos 90 minutos, numa altura em que muitos adeptos catalães já abandonavam o Wanda Metropolitano, Dembélé recebeu um passe de Lionel Messi e bateu Oblak. O Barcelona não venceu mas conseguiu empatar e manteve a vantagem para o Atl. Madrid, em casa do adversário, graças a um miúdo francês que ainda ontem muitos diziam que devia ser dispensado.

Quem assistiu ao Atl. Madrid-Barcelona com muita atenção, com toda a certeza, e ficou muito mais satisfeito do que Messi, Griezmann e companhia foram André Silva, Daniel Carriço e a restante equipa do Sevilha. Os sevilhanos estão na terceira posição no campeonato espanhol, com menos um ponto do que o Atl. Madrid e menos dois do que o Barcelona, e em caso de vitória este domingo frente ao Valladolid passam para a liderança do campeonato espanhol.