A administração de Donald Trump estará a tentar impedir que a diretora da CIA, Gina Hospel, ou qualquer outro membro do principal serviço de informações dos Estados Unidos estejam presentes na sessão do Senado que se vai realizar esta quarta-feira. A Casa Branca quer assim evitar que o conhecimento que a CIA tem sobre o homicídio do jornalista saudita Jamal Khashoggi seja transmitido à câmara alta do parlamento norte-americano.

De acordo com o The Guardian, a audiência no Senado vai ser à porta fechada e vai contar com a presença do secretário de Estado Mike Pompeo e de James Mattis, secretário da Defesa. O objetivo da reunião é abordar o futuro das relações dos Estados Unidos com a Arábia Saudita, nomeadamente a continuidade do apoio à campanha militar de Riade no Iémen.

Normalmente, explica o jornal britânico, a comissão do Senado que acompanha os temas da segurança nacional costuma contar com a colaboração dos diferentes serviços de informação federais. Esta terça-feira, o Senado terá sido informado de que apenas iria contar com a presença de Pompeo e Mattis. Segundo uma fonte do Senado, citada pelo jornal, a decisão “deve ser interpretada como nada menos do que a administração de Trump a tentar a silenciar a comunidade dos serviços secretos”, evitando assim que a quebra do apoio à Arábia Saudita aconteça.

Donald Trump, recorde-se, sublinhou que o relatório elaborado pela CIA, que considerava que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita foi quem deu a ordem para o assassinato do jornalista, não fornecia as conclusões finais: “Eles não concluíram. Eles não chegaram a uma conclusão. (…) Eu tenho o relatório… eles não concluíram, não sei se alguém vai ser capaz de concluir que o príncipe saudita fê-lo”, disse aos jornalistas em Palm Beach, no estado da Flórida.

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Quer tenha feito, quer não, ele nega-o veementemente. O pai dele, o rei, nega veementemente”, continuou o presidente dos Estados Unidos, falando da Arábia Saudita como “um aliado muito forte”. “Eles não cometeram esta atrocidade, e é uma atrocidade, é uma coisa terrível. (…) Mas o facto é que eles têm sido um aliado muito forte, criam riqueza tremenda com as suas compras, mas, mais importante, eles mantém o preço do petróleo baixo.”

Segundo o Washington Post, a avaliação feita pela CIA é a mais definitiva no envolvimento do príncipe na operação dos serviços secretos da Arábia Saudita e contraria a tese das autoridades sauditas — que aponta para o não envolvimento de Mohammed bin Salman na morte do jornalista, que não vivia no país. Este relatório vem complicar os esforços da administração Trump para manter as boas relações com o seu aliado mais forte na região.

Khashoggi. Trump contesta conclusões da CIA e recusa punir o príncipe saudita

Jamal Khashoggi entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro para pedir uns documentos que lhe permitiriam casar com uma cidadã turca. Um grupo de 15 homens já estaria à sua espera e acabaria por matá-lo com uma injeção letal, segundo o procurador da Arábia Saudita. A morte do jornalista terá sido premeditada e o Ministério Público saudita pediu a pena de morte para cinco suspeitos do seu homicídio.