Os líderes dos principais bancos a operar em Portugal pedem “regras iguais para todos” quando se fala na entrada de novas empresas jovens no setor financeiro. Momentos depois de o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ter defendido que deve ser “motivo de reflexão” o facto de algumas dessas fintech terem avaliações maiores do que muitos grandes bancos, os banqueiros defendem que a inovação nesta área “é bem-vinda, se vier por bem”. Fernando Ulrich, atualmente chairman do BPI, pede que a inovação não seja considerada “sacrossanta” porque foi da inovação e das engenharias financeiras que nasceu a crise financeira mundial de 2007/2008.

O debate deu-se numa conferência organizada pelo Banco de Portugal para falar sobre as lições e os desafios futuros do Mecanismo Único de Supervisão europeu, cuja presidente, Daniele Nouy, esteve em Lisboa, nesta mesma conferência, no Museu do Dinheiro. O mecanismo existe há quatro anos e, concordaram os banqueiros, se já existisse há mais anos muitos dos problemas que houve na banca portuguesa e europeia não teriam acontecido caso ele já existisse.

“Se já houvesse o SSM (a sigla anglo-saxónica para o Single Supervisory Mechanism) há mais anos, talvez não tivéssemos tido muitos dos problemas que aconteceram em Portugal e em vários países, como Espanha e, até, a Alemanha, que é muito boa a fazer carros mas também teve muito problemas. Não se pode ser bom em tudo”, ironizou Fernando Ulrich.

Não sendo esta uma competência estrita deste mecanismo de supervisão, porque envolve, também, a regulação e as políticas governamentais, os banqueiros pedem que haja regras iguais para quem participa nas mesmas atividades. Um exemplo? António Ramalho, presidente-executivo do Novo Banco, recordou o caso das fintech que garantem ser possível abrir uma conta em poucos minutos, através do smartphone. Isso não se compagina, por exemplo, com as exigências que são feitas aos bancos tradicionais na área do “know your customer“, isto é, conhecer bem quem são os seus clientes.

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“Gostava de lembrar que foi considerar-se que a inovação é sacrossanta que nos levou às crises financeiras. A inovação é útil se servir o bem comum”, comentou Fernando Ulrich, do BPI, concordando com as preocupações que tinham sido referidas por António Vieira Monteiro, o presidente-executivo do Santander Portugal, que voltou a pedir um “level playing field” para regular adequadamente a entrada destas novas empresas no setor financeiro.

Os banqueiros lembram que a inovação deve “servir o bem comum” e contribuir para o desenvolvimento da sociedade. António Ramalho, presidente-executivo do Novo Banco, afinou pelo mesmo diapasão de Fernando Ulrich, lembrando como a inovação financeira no final da década de 90 e início dos anos 2000 criou “instrumentos que se desenquadraram dos mecanismos contabilísticas, com erros matemáticos de análise” e que levaram à crise dos EUA, a chamada crise do subprime.

Uma opinião ligeiramente diferente tem Miguel Maya, presidente-executivo do Millennium BCP, que embora concorde com os pedidos de uniformidade na regulação disse “gostar muito” das fintech ” porque estão a “empurrar” os bancos tradicionais a reverem os seus processos: o BCP diz-se “muito mais preocupado em assegurar que o futuro do banco depende das novas ideias e não da proteção das ideias antigas”.