A violência na antecâmara do River Plate-Boca Juniors – que acabou adiado para o dia seguinte e depois novamente adiado para data indefinida – pode significar um volte-face na corrida à organização do Mundial 2030. A candidatura conjunta da Argentina, do Uruguai e do Paraguai era vista como a grande favorita mas o ataque de adeptos do River ao autocarro da equipa xeneize coloca agora muitas dúvidas quanto à segurança na região sul-americana. A presença de Gianni Infantino, presidente da FIFA, em Buenos Aires no dia dos desacatos agudizou ainda mais a já existente incerteza quanto à realização de um Campeonato do Mundo nos três países e pode agora dar força a uma eventual candidatura de Espanha, Portugal e Marrocos.

Numa fase inicial e antes dos episódios do passado sábado, a candidatura sul-americana tinha especial interesse devido ao facto de em 2030 se assinalar o centenário do primeiro Campeonato do Mundo, organizado em 1930 precisamente no Uruguai – além disso, a Argentina chegou à final dessa primeira edição do Mundial, onde perdeu com a seleção anfitriã. Ora, os dois países da América do Sul anunciaram a intenção de se candidatarem em conjunto já em julho de 2017, enquanto que a adição do Paraguai se confirmou três meses depois, em outubro (sendo que ainda não está fora da mesa a possibilidade de ainda serem integrados Chile e Peru).

Gianni Infantino foi convidado a assistir à segunda e derradeira mão da final da Taça Libertadores e viu em primeira mão a violência e agressividade dos hinchas argentinos. O presidente da FIFA regressa à Argentina já no próximo fim de semana para participar na reunião do G20, para a qual foi convidado pelo presidente argentino Mauricio Macri. E se, antes do passado sábado e do ataque ao autocarro do Boca Juniors, Macri e Infantino poderiam aproveitar ter reunidos os 20 líderes mais poderosos do mundo para infiltrar a ideia de organizar um Mundial de futebol em três países sul-americanos e angariar apoios, irão agora passar várias horas a ouvir os alertas, avisos e preocupações das várias personalidades do poder mundial quanto à realização de um Campeonato do Mundo num país onde tão recentemente se viveram episódios como o do passado sábado.

De recordar que, no início da semana passada, o primeiro-ministro espanhol aproveitou uma visita oficial a Marrocos para sondar o rei Mohamed VI sobre a possibilidade de o país africano se juntar a uma eventual candidatura ibérica. “Falei com o rei Mohamed VI, em Marrocos, e encontrei uma resposta positiva e entusiástica a este projeto. Agora, cabe às federações espanhola, portuguesa e marroquina organizarem-se para tentar materializar este projeto que seria enormemente positivo para a Península Ibérica e também para Marrocos”, disse Pedro Sánchez. Já António Costa, após vários dias de silêncio quanto a este tópico, aproveitou a cimeira luso-espanhola que decorreu em Valladolid para afirmar que uma candidatura conjunta dos três países seria “uma ideia política muito boa”. “É necessário fazer um longo trabalho de casa – é importante perceber se a FIFA altera os estatutos de forma a permitir que haja campeonatos mundiais organizados entre continentes diversos”, acrescentou o primeiro-ministro.

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Mundial 2030. Espanha propõe a Marrocos candidatura a três com Portugal

António Costa refere-se ao facto de, para que o Mundial 2030 seja organizado entre Portugal, Espanha e Marrocos, seja necessária uma alteração aos estatutos da FIFA: atualmente, as regras do organismo que regula o futebol a nível mundial não permitem que sejam organizadas competições distribuídas por países de diferentes confederações (neste caso específico, Portugal e Espanha pertencem à UEFA, Marrocos à CAF).

De acordo com o jornal AS, Gianni Infantino está agradado com a possibilidade de realizar o primeiro Campeonato do Mundo em mais do que um continente. O presidente da FIFA – que foi um dos principais impulsionadores do alargamento de 32 para 48 seleções já no próximo Mundial do Qatar, em 2022, com vista a incluir países do Médio Oriente -, está entusiasmado com a hipótese de dar a cara por um Campeonato do Mundo em três países, dois continentes, três culturas e duas religiões.