Começaram por chamar-lhe o “grupo da Charcutaria”, por se reunir no restaurante com o mesmo nome na rua do Alecrim. Há dois anos, a tertúlia liderada por Marques Mendes — que tem pouco mais de 20 pessoas, entre políticos e empresários — mudou-se para o restaurante Jockey, no hipódromo do Campo Grande. Na quarta-feira à noite, o convidado foi o antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Numa intervenção sobre a economia na Europa e no mundo, Cavaco Silva, segundo relataram fontes presentes ao Observador, alertou para os riscos de haver uma nova recessão mundial. O Presidente ainda foi desafiado a comentar o atual estado do PSD, mas recusou-se a falar de política interna.

O encontro ocorreu, como sempre, numa sala privada do restaurante Jockey, onde só vão os convidados. Em muitas destas tertúlias noutros países é utilizada a Chatham House Rule (em que se pode falar do que lá se passou, mas não atribuir autores às citações), mas neste caso o pacto vai mais longe: por lealdade ao grupo, é pedido aos membros e aos convidados que não contem do que se falou ao jantar. Quem dá a cara e é o principal organizador é o antigo presidente do PSD, Marques Mendes.

O grupo integra vários deputados do PSD como o vice-presidente da bancada António Leitão Amaro, as deputada Inês Domingos, e Margarida Balseiro Lopes e o deputado do CDS, Diogo Feio (estes dois últimos não estiveram presentes na sessão de quarta-feira). Apesar de integrar políticos influentes, o grupo tenta discutir a política e a economia de uma forma apartidária para que a tertúlia não seja vista como uma plataforma para um projeto político. De fora, há quem veja no grupo um palco de conspirações partidárias, o que os membros negam de forma veemente.

Desta vez o convidado foi Cavaco Silva e o antigo Presidente fez um discurso centrado na economia europeia e mundial, alertando para riscos com potencial impacto financeiro como a presidência de Donald Trump e o Brexit. Entre alguns dos convidados ouvidos pelo Observador havia a expectativa de que Cavaco Silva aproveitasse o momento para falar um pouco sobre o segundo volume do livro Quinta-feira e outros dias. Na intervenção, o antigo Presidente da República não fez qualquer comentário sobre a política nacional. Na fase de perguntas houve quem perguntasse sobre o atual estado do PSD, liderado por Rui Rio, mas Cavaco Silva fugiu à questão dizendo: “Não estou aqui para falar de Portugal“. A assistir estava aliás um vice-presidente da direção de Rui Rio, Manuel Castro Almeida.

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O grupo não se reunia há dois meses e regressou com a intervenção de Cavaco Silva. Os convidados são de todos os quadrantes e há seis meses o convidado foi mesmo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. O jantar-debate decorreu no Jockey, mas não foi noticiado. Nesse caso, o grupo conseguiu manter o encontro blindado. A discrição é importante para os membros do grupo que temem que a saída de informações para a comunicação social condicione as intervenções dos convidados.

A ideia de criar o grupo partiu de Marques Mendes, do advogado Gonçalo Carrilho, que é consultor jurídico do CEJUR — Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros e do fiscalista Pedro Pais Almeida, colega de escritório de Mendes na Abreu Advogados. Fazem ainda parte do grupo personalidades como o antigo secretário de Estado da Administração Local do governo-relâmpago de Passos Coelho, João Taborda da Gama, o antigo líder da JSD e antigo secretário de Estado, Pedro Duarte, e Francisco de Mendía (administrador da Cunha Vaz).

O grupo do Jockey (ex-Charcutaria) não é o único na cidade de Lisboa, onde há várias tertúlias do género. No restaurante Vela Latina, por exemplo, há uma tertúlia que se reúne periodicamente para discutir atualidade promovida pelo economista Vítor Bento, no qual participam ou já participaram figuras António Lobo Xavier (histórico do CDS), Francisco Lacerda (vice-presidente e CEO dos CTT) ou Daniel Bessa (antigo ministro da Economia no governo de António Guterres).