“Beautiful Boy”

Mais ou menos sentimentais, mais ou menos realistas e gráficos, baseados ou não em histórias verdadeiras, os filmes sobre famílias com filhos se tornam toxicodependentes costumam ser bastante formatados. Este “Beautiful Boy”, de Felix Van Groeningen, baseado nos livros escritos paralelamente pelo jornalista David Sheff (Steve Carell) e o seu filho Nic (Timothée Chalamet), não foge à norma, embora seja diligente, bem-intencionado e limpo de sensacionalismo ou didatismo. A fita passa boa parte do tempo com o pai, registando toda a modalidade de reações deste à dependência do filho, do empenho tenaz na cura ao desespero, passando pela perplexidade, mas também acompanha Nic. Apesar de algumas habilidades cronológicas, o ciclo da história é conhecido: crises, tentativas de desintoxicação, regresso ao vício, comportamentos extremos de Nic, angústia de David e do resto da família. “Beautiful Boy” não deixa claro porque é que um rapaz aparentemente tão inteligente, feliz, com interesses desportivos e artísticos e bem resolvido, se viciou, e Carell e Chalamet têm basicamente, personagens prontas-a-usar para interpretar.

“Yardie”

Na sua primeira longa-metragem como realizador, Idris Elba adapta o livro de Victor Headley, um escritor jamaico-britânico, passado nos anos 70 na Jamaiaca, e uma década mais tarde em Londres. É uma história interpretada por atores pouco conhecidos (Elba preferiu ficar atrás das câmaras) que envolve gangues étnicos, vinganças familiares, ambientes ligados ao crime na Jamaica e em Inglaterra e música “reggae”, assim como alguma conversa estereotipada sobre ódios velhos, a necessidade de esquecer e perdoar e de redenção pessoal. “Yardie” tem personalidade de fita de série B, revela escolhas, ingenuidades e deslizes técnicos e formais próprios de uma fita de estreia (o final, por exemplo, é resolvido de cambulhada) e talvez Elba não tivesse feito mal em aceitar um papel secundário para reforçar elenco com a sua presença, mas já vimos começos na realização mais desastrados.

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“Dovlatov”

Alexei German Jr. filma seis dias na vida do escritor e jornalista russo Serguei Dovlatov (1941-1990), no Outono de 1971, em Leninegrado. Por não alinhar com o regime e não pertencer ao Sindicato dos Escritores Soviéticos, ele não consegue publicar nada. A fita segue Dovlatov por tertúlias de artistas banidos como ele que bebem vodka, ouvem jazz, recitam poesia e lamentam a sua sorte, no apartamento partilhado por outras famílias em que vive com a mãe, no parque onde se vendem livros de autores ocidentais proibidos, no estaleiro onde vai ser lançado um barco e três atores disfarçados de outros tantos escritores russos famosos vão dizer banalidades patrióticas para um filme de propaganda alusivo, ou ainda na redação da revista literária em que quer ser publicado mas se vê sempre recusado, criticado, cortado. “Dovlatov” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.