Foi um verdadeiro negócio da China, aquele que o empresário do ramo dos seguros venezuelano Diego Salazar arranjou, com a chegada de investimento de Pequim na construção de infraestruturas para o setor energético da Venezuela. Diego Salazar terá recebido 176 milhões de euros em subornos de empresas chinesas ao garantir que estas conseguiam os contratos com empresas estatais venezuelanas, como a petrolífera PDVSA.
O caso remonta a 2007, ano em que a China anunciou que estava disposta a investir fortemente no setor energético da Venezuela, então governada pelo Presidente Hugo Chávez. Diego Salazar, que é primo do então ministro da Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, terá abordado várias empresas chinesas — de áreas como a construção civil, construção de autocarros ou também petrolíferas — pedindo 10% a cada contrato que lhes conseguisse arranjar.
As empresas acederam em massa e o dinheiro começou a chegar a Diego Salazar — um total de 176 milhões de euros, no final de contas —, mais especificamente a uma conta que este tinha no BPA, um banco em Andorra que foi encerrado em 2015 por ser o centro de um esquema de branqueamento de capitais. O empresário venezuelano terá usado uma sociedade em seu nome no Panamá, a Highland Assets, para fazer circular o dinheiro até àquele banco de Andorra.
O alegado esquema consta no despacho da acusação redigido pela juíza de instrução de crimes económicos do principado de Andorra, Canòlic Mingorance, que teve acesso a um dos alegados contratos assinados entre Diego Salazar e essas empresas chinesas. “Trata-se de um contrato de resultados totalmente anormal no setor da consultoria, onde o facto que gera o pagamento não é a elaboração de relatórios nem a assistência, mas sim uma adjudicação”, escreveu a juíza no seu despacho, citado pelo El País.
Diego Salazar está detido desde dezembro de 2017 em Caracas, nos calabouços do Sebin, o serviço de informações venezuelanos, depois de ter sido constituído arguido por alegado envolvimento num esquema de branqueamento de capitais em torno da PDVSA. De acordo com as autoridades venezuelanas, Diego Salazar terá feito parte de um alegado esquema de corrupção, que terá espoliado a petrolífera estatal venezuelana em mais de 2 mil milhões de euros. Entre os restantes indiciados, estão ex-ministros da Energia de Hugo Chávez, como Nervis Villalobos, Javier Alvarado e o primo de Diego Salazar, Rafael Ramírez.
Este último foi representante permanente da Venezuela nas Nações Unidas, em Nova Iorque, até ter sido destituído pelo Presidente Nicolás Maduro em dezembro do ano passado, quando o seu nome foi visado na investigação em torno do desfalque da PDVSA. Rafael Ramírez aceitou a demissão mas não voltou à Venezuela, tendo mais tarde viajado para Espanha. Esta quarta-feira, a justiça espanhola recusou a sua extradição para Caracas por acreditar que este corre o risco de ser sujeito a “um tratamento desumano e degradante”.