Em 48 horas, o futebol do Benfica sofreu uma verdadeira convulsão, com avanços e recuos que, no final, acabaram por deixar tudo na mesma em termos práticos mas que podem ou não alterar o futuro da temporada encarnada. Depois da goleada sofrida em Munique frente ao Bayern, que afastou a equipa da Liga dos Campeões (tendo garantido ainda assim o acesso à Liga Europa), houve reuniões entre administradores da SAD, a garantia interna de que Rui Vitória tinha chegado ao fim de linha, um volte face promovido e assumido por Luís Filipe Vieira de madrugada e um aviso final à navegação: “Todos têm de fazer melhor”.

As explicações de Vieira, da reunião que colocou Vitória de saída à reflexão de madrugada que alterou decisão

Numa conferência de imprensa realizada no estádio da Luz esta quinta-feira, o presidente encarnado abordou todas as dúvidas sobre o momento vivido. Da mesma forma como assumiu haver em termos internos quem considerasse que a melhor saída para a crise de resultados (e exibições, acrescente-se) passava pela rescisão com o técnico, Vieira chamou a si a responsabilidade pela permanência de Rui Vitória. Explicou que a mesma foi tomada após muita ponderação e de forma amadurecida e, entre mais explicações, teve uma frase hoje muito destacada em toda a imprensa: “Foi uma luz que me deu”. Perante isso, e destacando a importância que dá à estabilidade dos projetos desportivos no clube, distribuiu também responsabilidades por todo o grupo, deixando ainda um recado aos jogadores (e não só): “Há mais gente culpada, se tivéssemos de mexer, teríamos de mexer em muitas peças. Hoje [ontem] ficou tudo claro no balneário: é para jogar à Benfica, não é para jogar lento, lento, lento. É para jogar à Benfica, com garra”. Esta sexta-feira, chegou a vez de Rui Vitória abordar também tudo o que se passou.

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Um arrependimento chamado Fernando Santos que pode ter levado Vieira a segurar Rui Vitória

Numa conferência de imprensa que teve início cerca de 15 minutos depois da hora prevista (12h45) – “peço desculpa, estivemos ali a acabar um trabalho”, comentou –, Rui Vitória admitiu que viveu a semana “de uma forma intensa”. “Quando vinha na viagem já tinha começado a preparar o jogo com o Feirense e assim continuou depois da da decisão. Pronto para a luta”, disse.

“Hoje era fácil para o presidente e para o treinador não estar aqui, estar a apanhar o avião para o outro lado. Depois de uma reflexão, achámos que era a melhor solução. Comecei um projeto que tinha por objetivo ganhar e mudar o paradigma. Não estou preocupado com isso das soluções a prazo, agora é olhar para a frente porque tenho muito para ganhar ao Benfica. As palavras do presidente? Primeiro, dar os parabéns pela sua franqueza; depois, percebo perfeitamente o que disse. Até outubro fomos a melhor equipa, depois já não fomos. Não estivemos bem mas quem perdeu orgulho pelo Benfica vai voltar a ter, quem tem alguma fraqueza a olhar para a equipa vai voltar a ter certezas. Temos de estar unidos. A simbiose que surgiu ontem e que vi nos meus jogadores é extensível a todos: temos de nos unir, os adversários querem é que não estejamos assim. Agora não é fácil ouvirem isto mas quando o Benfica está forte e unido dentro e fora de campo, é muito difícil ser derrotado”, destacou.

Vitória garantiu que será o primeiro no jogo com o Feirense a aplaudir a entrada da equipa (PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP/Getty Images)

“Trabalhamos de forma muito honesta e sincera aqui. Ontem era fácil para todas as partes. Não tenho compromisso com a pessoa A, B e C, entendemos numa reflexão conjunta que esta era a melhor solução. Não é por qualquer dinheiro que fico ou saio do Benfica. Sabia perfeitamente o que se passava em relação a tudo”, prosseguiu. “Há mudanças claras. Primeiro tem de ser interior porque não podemos querer mudar o mundo sem nos mudarmos a nós mesmos. Custou muito chegar ao ‘tetra’ e é preciso saber o que é representar o Benfica, quem não souber não está aqui a fazer nada. Nunca disse ao presidente que não tinha condições e quando decidimos, eu e o presidente, demos pela primeira vez um abraço, forte e sentido”, confidenciou, explicando uma mudança, por exemplo, que fará já para o encontro com o Feirense: “Vão estar convocados 18, nem mais um”.

“Sei os jogadores que tenho, o que podem dar e as mudanças que há a fazer. Mudanças a começar por mim – quando aponto o dedo a alguém, tenho três apontados a mim. Quem não tenha orgulho nesta equipa, vai voltar a ter. E fica já avisado: vou ser o primeiro a ocupar o meu lugar de trabalho amanhã e a bater palmas aos jogadores. Quanto menos unidos estivermos, mais fortes estarão os adversários. Deixo esse desafio: o Benfica quando está unido dentro e fora de campo é mesmo muito forte e toda a gente tem de sentir esse poder que o Benfica tem. Há momentos na vida que nos fazem refletir, pensar e mudar. Muitas vezes tem de haver uma tempestade para as coisas entrarem no caminho certo e sinto que, com racionalidade e frieza, temos cumprido aquilo que me trouxe ao Benfica, a mudança do paradigma. E vamos continuar a ganhar”, concluiu, não querendo confirmar a proposta que terá recebido “porque nesta altura é irrelevante”. Ainda assim, voltou a repetir uma ideia que deixara no arranque no final de uma conferência de 20 minutos (e direito a uma pergunta extra): “Se quisesse poderia estar a apanhar o avião para outro lado e se calhar essa até era opção mais fácil. Eu e o presidente tínhamos uma decisão mais fácil, de um lado uma mala cheia de dinheiro, do outro uma série de treinadores que queriam vir para aqui”.