Tem sido uma constante ouvir a palavra “mais” — ou more, já que o treinador do Sporting ainda não se exprime em português — da boca de Marcel Keizer. O técnico holandês, que assim que chegou ao Aeroporto Humberto Delgado falou logo em “futebol de ataque” e depois na apresentação sublinhou que trazia na bagagem uma “filosofia de ataque”, tem repetido nas conferências de imprensa de antevisão e de rescaldo a mesma ideia: o Sporting está a jogar bem, está a obter resultados, mas é preciso “mais futebol”. 

À entrada para o jogo desta segunda-feira, que encerrava a 11.ª jornada da Primeira Liga NOS, o Sporting precisava de ganhar para regressar ao segundo lugar do campeonato. FC Porto, Sp. Braga e Benfica tinham vencido os respetivos jogos e só uma vitória na estreia de Marcel Keizer no campeonato português permitia aos leões voltar a estar a apenas dois pontos do líder FC Porto. Para a visita ao Rio Ave — que também estava pressionado pela vitória do V. Guimarães, que igualou pontualmente os vilacondenses no 5.º lugar –, o holandês voltava a contar com Mathieu e Acuña, que não jogaram na goleada ao Qarabag devido a castigo, mas continuava sem ter Battaglia, Ristovski, Montero e Raphinha na lista de opções. Wendel e Diaby mantiveram a titularidade e, à exceção da reentrada do lateral argentino e do central francês no onze, Keizer apresentou a mesma equipa que na quinta-feira marcou seis golos no Azerbaijão.

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Ficha de jogo

Rio Ave-Sporting, 1-3

11.ª jornada da Primeira Liga

Estádio dos Arcos, em Vila do Conde

Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

Rio Ave: Leo Jardim, Junio Rocha (Gabrielzinho, 75′), Borevkovic, Buatu, Matheus Reis, Jambor (Bruno Moreira, 88′), Schmidt, Coentrão, Diego, Galeno, Vinícius

Suplentes não utilizados: Paulo Vítor, Miguel, Murilo, Tarantini, Afonso Figueiredo

Treinador: José Gomes

Sporting: Renan, Bruno Gaspar, Coates, Mathieu, Acuña (Jefferson, 61′), Wendel (Bruno César, 86′), Gudelj; Diaby (Jovane, 68′), Bruno Fernandes, Nani, Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Petrovic, Thierry

Treinador: Marcel Keizer

Golos: Bruno Fernandes (8′), Schmidt (12′), Bas Dost (22′), Jovane (71′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Acuña (15′), Gudelj (29′), Coates (48′), Bas Dost (54′), Schmidt (58′), Borevkovic (61′), Diaby (63′), Vinícius (88′)

José Gomes não tinha Nuno Santos, Joca, Ronan e Nélson Monte, todos lesionados, nem Gelson Dala, impedido de jogar por pertencer aos quadros do Sporting. Mas tinha no onze inicial um homem de braçadeira que realizava esta terça-feira um jogo especial e de reencontro: Fábio Coentrão, que enfrentava grande parte dos jogadores a quem na passada temporada chamava colegas de equipa. Marcel Keizer observou o aquecimento no relvado, naquela que foi uma imagem pouco habitual, já que os treinadores costumam ficar nas instalações dos estádios durante os exercícios pré-jogo, e apesar do semblante sério demonstrava nos parcos sorrisos que o tónito para a visita ao Rio Ave era a confiança.

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O Sporting entrou confiante e decidido a marcar rápido, assim como tinha feito no Azerbaijão: logo aos três minutos de jogo, depois de Fábio Coentrão ceder canto após cruzamento de Acuña, Mathieu superiorizou-se aos centrais do Rio Ave e cabeceou forte e como mandam as regras, de cima para baixo. A bola passou muito perto do poste da baliza de Leo Jardim mas o aviso estava feito. As linhas subidas dos leões, a par do bom entendimento entre Wendel, Bruno Fernandes e Nani no apoio a Dost (que já tinha sido bastante visível com o Qarabag), não permitiam aos vilacondenses sair de forma apoiada e impulsionavam todo o jogo verde e branco para o meio-campo adversário. Entendia-se que o primeiro golo seria uma questão de tempo.

Ao minuto 8, Coates voltou a mostrar porque é que é o primeiro homem do ataque do Sporting: bateu um livre de forma rápida e descobriu Bruno Fernandes à entrada da área quando a defesa do Rio Ave ainda estava descompensada. O médio português tabelou com Nani, que devolveu de costas para a baliza e rematou cruzado, forte e rasteiro para o poste mais longínquo. Leo Jardim não teve hipótese e o Sporting inaugurava o marcador num jogo em que, até ali, tinha sido o único a fazer por marcar.

O golo tranquilizou o ímpeto ofensivo dos leões e fez Wendel e Gudelj descer no terreno, Bruno Gaspar e Acuña toldarem as subidas pelas alas e Bruno Fernandes recuar para ser a ligação entre os dois volantes à frente da defesa e os três homens mais avançados. Galeno, a jogar descaído na esquerda do ataque do Rio Ave, rapidamente se assumiu como a referência ofensiva da equipa e lançou-se para inúmeras cavalgadas desenfreadas que a defesa do Sporting teve dificuldades em conter. Numa dessas correrias, Gudelj não resistiu à falta e provocou um livre em zona frontal para a baliza de Renan. Na conversão, João Schmidt voltou a mostrar que tem um belo pé esquerdo e colocou a bola juntinha ao poste — ainda que tenha ficado a ideia de que o guarda-redes verde e branco poderia ter feito mais. Na primeira vez que criou realmente perigo, o Rio Ave empatou o jogo.

Depois do empate, os leões recuperaram tudo aquilo que tinham feito nos primeiros oito minutos de jogo: Acuña e Bruno Gaspar voltaram a subir pelos corredores, Wendel e Gudelj colaram-se a Bruno Fernandes e o médio português avançou no terreno, ficando clara a noção de que quando Bruno Fernandes sobe, levanta a cabeça e distribui jogo, o Sporting melhora. Acuña fez um, dois, três cruzamentos para a área à procura de Bas Dost – até que o holandês acabou por corresponder. Nani lançou o lateral argentino, que cruzou de forma perfeita para Dost se antecipar e bater Leo Jardim pela segunda vez. Esta temporada, Acuña já ofereceu dois golos ao holandês, tantos como em toda a temporada passada.

O Rio Ave voltou a tentar fazer o que tinha feito depois do primeiro golo e colocou a bola nos pés de Galeno e a esperança nos desequilíbrios do avançado brasileiro emprestado pelo FC Porto. Em conjunto com João Schmidt, os dois jogadores deram algumas dores de cabeça aos defesas leoninos – principalmente a Acuña, que viu amarelo muito cedo na partida e esteve restringido até ser substituído já na segundo parte. O controlo constante e a coerência do Sporting, a sair apoiado sempre com um ou dois toques e a circular a bola por quase toda a equipa até acelerar, não davam espaços aos vilacondenses e o empate só voltou a estar perto já mesmo em cima do intervalo, quando Renan rematou contra Acuña e Vinícius teve uma oportunidade clamorosa para fazer o segundo. Na ida para o descanso, os leões estavam totalmente dentro do meio-campo do Rio Ave e tinha uma estatística que deixava muito claro o que Marcel Keizer veio mudar ao clube de Alvalade: nos primeiros 45 minutos, o Sporting fez tantos remates (16) como a média por jogo que tinha com José Peseiro (16,4).

A segunda parte trouxe um Sporting com o modo de gestão ativado e um Rio Ave com poucas ideias para ultrapassar a bem organizada primeira linha defensiva dos leões. Depois de um período menos inventivo e de pouco discernimento — e muitos furos abaixo daquilo que tinha sido a primeira parte –, João Schmidt poderia ter empatado a partida na resposta a um cruzamento largo. Renan, numa espécie de redenção depois da fraca abordagem ao primeiro golo, defendeu o cabeceamento e ainda a recarga e evitou o empate.

Marcel Keizer percebia que o jogo estava a adormecer e que também os jogadores leoninos se tornavam mais permissivos (Galeano ainda tinha as pilhas ligadas e agora assustava Jefferson, bem mais frágil defensivamente do que Acuña). O holandês decidiu tirar Diaby, que tendo em conta a exibição globalmente positiva dos verde e brancos esteve um pouco abaixo da média, e lançar Jovane Cabral. Três minutos depois de entrar em campo, numa das primeiras intervenções que teve na partida, o jovem avançado recebeu a bola no vértice da grande área depois de uma jogada rendilhada e atirou de pé esquerdo para o melhor golo da partida.

O Rio Ave deu boas indicações mas foi insuficiente para responder à organização do Sporting e à vertigem ofensiva imposta por Marcel Keizer. Os leões venceram, asseguraram o segundo lugar do campeonato e bateram de forma inequívoca uma equipa bem montada e composta por José Gomes. Fica a parecer que o objetivo dos jogadores do Sporting é chegar ao dia em que o treinador holandês não precisa de dizer que quer “mais futebol” nas conferências de imprensa. Na estreia no campeonato português, Keizer assinou um registo aprazível: três jogos, três vitórias.