“Anna e o Apocalipse”

O que é que falta ainda fazer em termos de filmes e séries com “zombies”? Só mesmo um porno, porque já temos um musical, este “Anna e o Apocalipse”, realizado pelo britânico John McPhail, em que a adolescente do título (Ella Hunt) se vê no meio de um apocalipse “zombie” na sua cidadezinha, e em plena época natalícia, e procura manter-se viva, na companhia dos amigos e colegas do liceu, enquanto vai à procura do pai. Longe de ser um “Shaun of the Dead”, onde Edgar Wright conseguia a coexistência entre terror, humor negro e drama, “Anna e o Apocalipse” não passa de uma vulgar e estereotipada série B do género em registo “teen”, com uma série de canções enxertadas na história.

“O Livro de Imagem”

Já há muito tempo que Jean-Luc Godard se transformou numa caricatura de si mesmo, e no mais gritante caso de “o rei vai nu” do cinema contemporâneo. Em “O Livro de Imagem”, Godard vampiriza dezenas de filmes de outros realizadores para repetir os mesmos tiques, os mesmos truques, as mesmas imagens de arquivo e o mesmo chorrilho de referências culturalistas, com a mesma pretensão a dizer, de forma abstrusa e estilhaçada, coisas “importantes” sobre os tempos que vivemos (no caso presente, sobre o mundo árabe, o fundamentalismo islâmico e a guerra), mas que não passam de elucubrações vácuas, irrelevantes e profundamente aborrecidas. Que o ature quem ainda lhe presta vassalagem.

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“Parque Mayer”

Por um lado, “Parque Mayer”, de António-Pedro Vasconcelos, é um filme sobre o teatro de revista na Lisboa dos anos 30; pelo outro, é um filme sobre a repressão político-social nos primeiros anos do Estado Novo, de que a revista à portuguesa também foi alvo. E “Parque Mayer” não satisfaz em nenhuma das duas frentes, porque a recriação do ambiente da revista pedia mais aparato de espectáculo e mais energia, e não é convincente em termos do tipo de humor praticado na época; e a pintura do antigo regime é preguiçosa e caricaturalmente reducionista, saída de um editoral do “Avante!” de há 40 anos — ou de uma revista do Teatro Àdoque do tempo do PREC.

“Silvio e os Outros”

Longe de estereótipos e caricaturas fáceis, confortáveis ou diabolizadoras sobre a figura de Silvio Berlusconi, “Silvio e os Outros”, de Paolo Sorrentino, não é um filme nem “por” nem “contra” aquele. Ou um filme “político” na aceção mais engajada da palavra. É um filme sobre Berlusconi como emanação e representação de uma certa Itália em profunda crise institucional, anímica e de valores, e de uma decadência tipicamente italiana (que Sorrentino tinha já mostrado em detalhe “A Grande Beleza”). Toni Servillo, o actor fétiche do realizador, interpreta Berlusconi nesta versão remontada para o mercado internacional dos dois filmes originais. “Silvio e os Outros” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.