Na quarta-feira, Enric Drouet aparecia na BFMTV sem o colete amarelo que caracteriza o movimento de que é um dos líderes em França. Num programa dedicado às manifestações, Drouet prometia o auge de toda esta onda de protestos para o próximo sábado, dia em que o objetivo é um: “Entrar no Eliseu”. A violência em Paris no último fim de semana já tinha sido suficiente para reforçar o dispositivo de segurança na região, mas esta frase fez soar as campainhas de alarme. Paris fecha neste fim de semana e os principais símbolos da República vão estar sob forte vigilância policial.

89 mil agentes de segurança destacados para estar nas ruas de todo o país, 8 mil deles na capital. Toda a região vai ver espalhadas pelas principais ruas 12 viaturas blindadas, coisa que não acontecia desde a contestação nos arredores de Paris em 2005. Não há espetáculos, museus, lojas abertas ou mesmo montras destapadas nos Campos Elísios. Cinco jogos do campeonato nacional de futebol serão adiados. Festas natalícias e solidárias foram canceladas e até uma marcha sobre questões climáticas viu a sua rota desviada do centro, onde se espera que exista maior tensão. Afinal, o Arco do Triunfo, num dos topos da avenida mais emblemática de Paris, foi o palco dos maiores momentos de tensão e confrontos entre manifestantes e polícia no último sábado. Nesse dia foram detidas mais de 400 pessoas na cidade, na sequência dos protestos.

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O Governo não quer que se repita a dose do dia 1 de dezembro e a dramatização e avisos vão atingindo níveis máximos, à medida que se aproxima o fim-de-semana para o qual está marcado o “Acto IV”, o quarto fim-de-semana de protestos, dos coletes amarelos. Ainda esta quinta-feira, a ministra do Interior francesa veio alertar para a existência “de pequenos grupos que querem o confronto” entre os coletes amarelos, por haver “o risco de as coisas correrem mal”. No dia anterior, o Governo já tinha admitido temer “uma grande violência”.

As previsões fizeram com que o Governo avançasse com medidas de seguranças expressivas, mobilizando para as ruas 12 viaturas blindadas, 4×4 de 13 toneladas cada, que não eram usadas para este efeito desde 2005 quando a morte de dois jovens, na sequência de uma perseguição policial, levou aos arredores da capital vários jovens em protestos que duraram quase 20 dias. Nessa altura era Nicolas Sarkozy ministro do Interior e chegou a ser declarado o Estado de Emergência na região.

Entre as medidas ponderadas pelo Governo está ainda, segundo a Reuters, o reforço do dispositivo de segurança por parte das forças que estão atualmente em patrulhas anti-terroristas no país, com o objetivo de proteger os edifícios públicos.

Além do dispositivo que já está mobilizado, há também medidas de segurança que estão a ser tomadas como forma de prevenção. Em Paris, os comerciantes de todas as lojas dos Campos Elísios foram aconselhados a tapar montras com painéis de proteção e a retirar todos os objetos exteriores que possam ser mais vulneráveis. 

“Coletes amarelos” com mais ânimo e Presidente francês em queda de popularidade

Em Paris, vão estar ainda fechados o Louvre, a Torre Eiffel, o museu Orsay, o Petit e o Grand Palais, o museu de Arte Moderna, a casa de Victor Hugo ou a cripta da Ile de la Cité. A Opera de Paris e o Palácio Garnier vão cancelar apresentações. 

A Marcha Climática, marcada para este fim de semana e que decorrerá em 120 cidades do mundo, terá um desvio de rota para a afastar do centro onde são esperados os maiores tumultos, mais uma vez, os Campos Elísios. É lá que se instala também o Presidente francês, com a residência no Palácio do Eliseu, aquele que Enric Drouet diz querer invadir este sábado.

No calendário futebolístico foram adiados, a pedido das autoridades, que querem as forças de segurança concentradas nos protestos, cinco jogos do campeonato francês: PSG-Montpellier, Toulouse- Lyon, Mónaco-Nice, Saint-Etienne -Marselha, Nîmes-Nantes et Angers-Bordéus.

Também em Bordéus estão já previstas medidas de segurança semelhantes às de Paris, no que toca a edifícios públicos e museus, mas não só. O Jardim Botânico estará fechado, bem como a Ópera ou a Biblioteca. E o mercado solidário de Natal foi adiado.

A onda de violência fez com que o Governo tivesse abandonado a ideia de aumentar os impostos sobre os combustíveis, nesta última semana, mas nem assim conseguiu aliviar a tensão nas ruas. A resposta do Governo foi considerada insuficiente pelos coletes amarelos e os protestos ganharam fôlego com o impacto negativo direto que tiveram na popularidade do presidente Emmanuel Macron.