O Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez, em Santiago do Chile, vai ser rebatizado: a proposta que está em cima da mesa é de o aeroporto se passar a chamar Pablo Neruda, em homenagem a um dos maiores poetas chilenos. Mas há um grupo feminista que se opõe à proposta: “Ele é um violador!”, dizem.

A ideia já está a ser pensada há algum tempo, mas só este ano voltou a sair do baú. A proposta de homenagem ao poeta e político tem um forte apoio do congresso chileno, contudo, um movimento feminista contesta a medida e levanta várias questões: “Isto é uma homenagem à sua obra ou à sua pessoa? Em plena época do #MeToo faz sentido celebrar os episódios mais escuros do génio das letras hispânicas? É este o exemplo que o Chile quer dar? Ou a lenda de Neruda é tão poderosa que as revelações mais espinhosas sobre a sua vida privada não pesam o suficiente para que deixe de ser um mito exemplar?”. Estas são algumas das perguntas que o movimento fez ao governo chileno.

A polémica está instalada e as feministas são arrasadoras e acusam-no com base num relato feito pelo próprio no livro “Confesso que vivi”, onde Neruda descreve como abusou uma empregada de limpeza e como a tratou como se fosse propriedade sua, unicamente por ser mulher e pertencer a uma classe social baixa. O poeta e diplomata, no livro, confessa que o fez enquanto era cônsul em Colombo.

Outro dos episódios que o grupo questiona prende-se com o facto de Pablo Neruda tratar a filha, Malva Marina, como “vampira de três quilos”. Do que se sabe a filha sofria de hidrocefalia – acumulação de líquido cefalorraquidiano no interior da cavidade craniana, que por sua vez, faz aumentar a pressão intracraniana sobre o cérebro, podendo vir a causar lesões no tecido cerebral — e nunca teve o apoio do pai.

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Entre o grupo de feministas está a jornalista e deputada do Partido Humanista chileno Pamela Jiles. A deputada é bastante crítica e incisiva em relação ao tema e, citada pelo jornal El Espanhol, considera que “não estamos em tempo para homenagear uma pessoa que maltrata mulheres, que abandonou a sua filha doente e confessou uma violação”.

Em contrapartida o deputado socialista, Marcelo Díaz, presidente da Comissão de Cultura  — que lidera a proposta — contrapõe que não se está a homenagear a pessoa, mas a obra. “É um tema sensível (…) São antecedentes delicados. Mas se por uma lado tem sentido este tipo de questões, por outro, não deixa de ser verdade que Pablo Neruda continua a ser um dos poetas mais relevantes não só do Chile, mas do mundo”, reitera o deputado.

O grupo feminista apresenta como proposta alternativa o nome de Gabriela Mistral, uma das figuras mais relevantes da literatura chilena e latino-americana. A escritora foi a primeira ibero-americana e segunda latino-americana a ganhar o Nobel da Literatura. Além disso, foi diplomata, pedagoga e ativista, no setor relativo à educação.