O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, vai reunir-se com o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) na próxima terça-feira, anunciou esta quarta-feira o Ministério.

“Na sequência do diálogo que se iniciou com a LBP após a aprovação, na generalidade, no Conselho de Ministros de 25 de outubro, dos diplomas sobre a Proteção Civil, o ministro da Administração Interna reúne-se com o presidente da LBP na próxima terça-feira”, refere o Ministério da Administração Interna (MAI) em comunicado.

Numa conferência de imprensa realizada na terça-feira, o presidente da LBP, Jaime Marta Soares, manifestou “total disponibilidade para abertura de negociações sérias e transparentes” com o Governo.

“Estamos à espera da abertura das negociações desde o dia 23 de novembro, como prometido pelo ministro, só que já passaram 18 dias sem qualquer resposta”, disse Jaime Marta Soares.

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Para protestar contra as várias propostas do Governo de reforma da Proteção Civil, o Conselho Nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses decidiu suspender todo o encaminhamento de informação operacional aos comandos distritais de operações de socorro (CDOS) desde as 00h00 de domingo.

Segundo a LBP, 84% das corporações de bombeiros aderiram ao protesto, que “vai continuar por tempo indeterminado”, só sendo parado “se houver uma calamidade, uma catástrofe ou um acidente grave e depois é reiniciado”.

Na origem do protesto da LBP estão as várias propostas de reforma da Proteção Civil, nomeadamente a proposta de alteração à Lei Orgânica da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), que vai passar a designar-se Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

A proposta do Governo, aprovada em Conselho de Ministros em 25 de outubro e em fase de consulta pública, acaba com os atuais 18 CDOS, e cria cinco comandos regionais e 23 comandos sub-regionais de emergência e proteção civil.

O Governo pretende que o novo modelo da Proteção Civil passe a ter uma base metropolitana ou intermunicipal, além de propor a criação de um Comando Nacional de Bombeiros com autonomia financeira e orçamento próprio, cujo responsável máximo será designado depois de ouvida a LBP.

Por sua vez, a Liga reivindica uma “direção de bombeiros autónoma independente e com orçamento próprio, que diminua os custos e aumente a eficácia, um comando autónomo e o cartão social do bombeiro”.

Ministro da Administração Interna garante que diálogo está aberto

O ministro da Administração Interna garantiu esta quarta-feira aos presidentes e comandantes de bombeiros que “todos os caminhos de diálogo estão abertos” para “construir as melhores soluções” e responder às expectativas.

“Porque esta é uma reforma pensada para valorizar os bombeiros portugueses e incentivar o voluntariado, todos os caminhos de diálogo estão abertos de modo a construir as melhores soluções para responder às vossas legitimas expectativas, a bem da qualidade da proteção e socorro e da segurança dos portugueses”, escreveu Eduardo Cabrita, numa carta enviada aos presidentes das associações humanitárias de bombeiros voluntários e respetivos comandantes, a que a Lusa teve acesso.

O ministro disse esperar que, “em diálogo, se possa concluir o processo”.

A carta foi enviada depois de o Conselho Nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) ter decidido suspender todo o encaminhamento de informação operacional aos comandos distritais de operações de socorro (CDOS).

Liga dos Bombeiros fala em “falta de honestidade intelectual e política” do MAI

O presidente Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) afirmou esta quarta-feira que a carta que o ministro da Administração Interna (MAI) enviou às corporações de bombeiros é uma demonstração de “falta de ética e de falta de honestidade intelectual e política”.

“É uma demonstração inequívoca de falta de ética e de falta de honestidade intelectual e política. Convidam-nos, às 16h00 desta quarta-feira, para uma reunião dia 18 dezembro pelas 15h00, para nem meia hora depois enviarem uma carta às corporações que já estava feita”, disse Jaime Marta Soares, em declarações à agência Lusa.

Jaime Marta Soares salientou que a missiva enviada demonstra “falta de boa-fé” do ministro, referindo ainda que o dia de negociação foi agendado com quase um mês de atraso, o que considerou um “desrespeito pelos acordos e pelo parceiro Liga dos Bombeiros”.

“Quando dissemos que respondíamos ao apelo do Presidente da República, que estamos abertos ao diálogo, somos chamados para uma reunião e, no momento seguinte, o ministro lança a guerra entre os bombeiros. Não é compreensível”, explicou.

O presidente da LBP considerou ainda que esta atitude do MAI revela que “não existem boas intenções, nem vontade de procurar soluções”, frisando que Eduardo Cabrita está a “lançar mais achas para a fogueira”.

Apesar de criticar o envio da missiva que, no seu entender, tem “imprecisões e que não corresponde aos factos”, Jaime Marta Soares garantiu que vão estar presente na reunião da próxima terça-feira, acusando o MAI de tentar dividir os bombeiros.

“Estamos habituados a apagar fogos e é mais um fogo que vamos procurar apagar. Tudo o que possa vir a acontecer de destabilização responsabilizamos o ministro, porque não encontramos uma razão para esta inqualificável atitude”, concluiu.