Theresa May decidiu fazê-lo e os líderes europeus acederam. Esta quarta-feira, a primeira-ministra britânica está de regresso a Bruxelas, mesmo depois de finalizado o acordo entre britânicos e europeus para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Em causa está a procura de “garantias” de que o backstop, o mecanismo encontrado para evitar uma fronteira rígida entre as duas Irlandas em caso de não haver acordo comercial até 2021, não se manterá em vigor por muito tempo caso venha a ser ativado.

May espera obter um compromisso suficientemente forte para convencer os seus deputados em casa e levá-los a aprovar a proposta de acordo que gizou juntamente com os europeus. Mas Jean-Claude Juncker (presidente da Comissão Europeia), Donald Tusk (presidente do Conselho Europeu) e Leo Varadkar (Presidente da República da Irlanda) já avisaram: o acordo não será “renegociado”.

A prova de que os líderes europeus não estão com grande vontade de voltar a mergulhar no pântano do Brexit é o facto de, como explica o Telegraph esta quarta-feira, irem conceder apenas cerca de dez minutos ao tema no jantar de trabalho desta noite. O Politico dá mais pormenores: desta vez, May teve direito a sentar-se à mesa, ao contrário do que já aconteceu noutras reuniões do Conselho Europeu. Contudo, terá apenas dez minutos para falar do Brexit, já que os pratos principais serão a relação com a Rússia e a guerra no Iémen. No final da refeição, May terá de abandonar os convivas, enquanto estes discutem que posição conjunta tomar face aos pedidos da primeira-ministra britânica.

Antes disso, o encontro arrancará por volta das 12h30, quando os líderes começaram a chegar ao Conselho. Theresa May aterra em Bruxelas, segue para o edifício Justus Lipsius e, provavelmente, prestará algumas declarações aos jornalistas à entrada. Aperta a mão aos anfitriões — Donald Tusk e Sebastian Kurz, o chanceler austríaco que tem atualmente a presidência rotativa europeia — e segue para tentar começar a convencer os seus colegas logo nos corredores. As boas-vindas oficiais, essas, já foram dadas por Kurz no Twitter: “Aguardo com entusiasmo poder ver a Theresa May amanhã no Conselho Europeu em Bruxelas”, escreveu o líder austríaco. “O nosso objetivo comum é evitar um cenário de [saída] sem acordo.”

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A reunião tem início marcado para as 14h, mas May pode ainda tentar, antes disso, marcar um encontro à margem com o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. Estava prevista uma reunião entre os dois para esta quarta-feira em Dublin, mas May teve de desmarcar devido à votação da moção de censura interna que enfrentou. O mais provável é que os dois se reúnam neste dia seguinte, para discutir o backstop. 

Esse tem sido o principal problema deste acordo, que desagrada a vários tories, aos unionistas irlandeses (DUP) aliados de May no Parlamento e a toda a oposição. Devido aos Acordos de Paz de Sexta-Feira Santa, as duas Irlandas não podem ter uma fronteira rígida a separá-la. Tendo em conta que, com a saída do Reino Unido da UE, será preciso impor controlos à circulação de bens e pessoas, é preciso arranjar uma solução para as Irlandas que não comprometa nem a paz, nem a saída. O dispositivo encontrado foi a criação do backstop, uma espécie de “apólice de seguro”, que entra em vigor caso não haja um acordo comercial definido entre britânicos e europeus até ao fim do período de transição (2021).

Esse backstop mantém o Reino Unido numa união aduaneira com os europeus, para que os bens possam circular entre as duas Irlandas sem ter uma fronteira fechada. Mas não só cria diferenciações entre a Irlanda do Norte e o resto do país, como mantém o Reino Unido numa união com a UE, embora não possa interferir nas regras em vigor, ao mesmo tempo que só pode ser terminado se as duas partes estiverem de acordo, podendo o país ficar ‘preso’ nesse arranjo durante algum tempo. Para muitos deputados, tal é visto como uma “humilhação”. E a aprovação da proposta na Câmara dos Comuns não se prevê fácil — razão pela qual May aposta tudo neste dia ocupado, na esperança de que possa voltar para casa com uma vitória no bolso para mostrar aos colegas e fazê-los mudar de opinião.