“O Sporting tem um plantel curto”. Esta é uma das críticas que costuma ser repetida, reiterada e sublinhada por comentadores de televisão, treinadores e adeptos nas últimas temporadas. De facto, nos últimos anos, um dos grandes problemas do clube de Alvalade — e que se tem revelado difícil de solucionar — é a ausência de uma segunda equipa. O Sporting tem um bom onze inicial, boas opções primordiais, boas primeiras escolhas para todos os setores; mas se um jogador é castigado ou está lesionado, se é necessário mudar as características do jogo e procurar alternativas táticas, não existem segundas nem terceiras escolhas de real qualidade. E este fator justifica em grande parte a habitual queda de rendimento que o Sporting sofre no início da segunda volta das temporadas.

Ora, o Sporting jogava esta quinta-feira com o Vorskla Poltava, em Alvalade, num encontro que já pouco acrescentava ao destino das duas equipas. Os leões já estavam apurados e já sabiam que iriam terminar o Grupo E da Liga Europa no segundo lugar, com menos três pontos do que o Arsenal; os ucranianos somavam apenas três pontos e já sabiam que estavam eliminados. Jogava-se, portanto, o prestígio, a componente psicológica e, não fosse esta uma competição europeia, o dinheiro. Os leões — que ainda não perderam pontos desde que Marcel Keizer aterrou no Aeroporto Humberto Delgado — vinham de cinco vitórias consecutivas para Campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal e procuravam continuar um bom registo e prolongar as boas exibições que têm entusiasmado os adeptos. Face ao caráter do encontro, porém, era expectável que o treinador holandês fizesse várias poupanças: tal como o próprio já tinha avisado.

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Ficha de jogo

Sporting-Vorskla Poltava, 3-0

6.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa

Estádio de Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Manuel Schuettengruber (Áustria)

Sporting: Salin, Ristovski (Thierry Correia, 64′), Coates, André Pinto, Acuña, Petrovic, Miguel Luís, Bruno Fernandes (Bruno Paz, 73′), Mané, Montero (Pedro Marques, 59′), Jovane

Suplentes não utilizados: Renan, Jefferson, Diaby, Abdu Conté

Treinador: Marcel Keizer

Vorskla Poltava: Oleksandr Tkachenko, Igor Perduta, Ardin Dallku (Kolomoets, 45′), Olexandr Chyzhov, Taras Sakiv, Pavlo Rebenok, Oleksandr Skliar, Volodymyr Chesnakov, Artur (Kane, 77′), Artem Habelok, Nicolas Careca (Mykhailo Sergyichuk, 67′)

Suplentes não utilizados: Bohdan Shust, Marian Mysyk, Vadym Sapai, Yevhenii Martynenko

Treinador: Vasyl Sachko

Golos: Montero (17′), Miguel Luís (35′), Dallku (ag, 44′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Petrovic (25′)

“Qualquer jogador que entre em campo vai querer fazer um bom jogo, a equipa vai sofrer alterações, mas tenho a certeza de que todos vão dar o máximo para jogar da forma que temos feito nos últimos desafios, com muita energia. É isso que quero voltar a ver amanhã”, disse Keizer na conferência de imprensa de antevisão do jogo desta quinta-feira. O holandês fez oito alterações na equipa face ao último encontro, com o Desp. Aves, e da linha do meio-campo para a frente só se manteve mesmo Bruno Fernandes: Montero e Ristovski, de fora da competição há um mês devido à lesões, voltaram aos onze; Salin foi para o lugar de Renan na baliza, André Pinto substituiu Mathieu; Petrovic e Miguel Luís em vez de Gudelj e Wendel; e Mané e Jovane nos lugares que têm sido de Nani e Diaby. De entre todas as alterações, o principal foco de atenção ia para Miguel Luís, já que o jovem português ia jogar no lugar de Wendel, que estará de fora durante dois meses, e este seria um importante teste para perceber a capacidade do médio de apenas 19 anos para substituir o brasileiro.

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No início da partida, rapidamente se percebeu que o jogo teria uma espécie de sentido único. O Sporting não entrou demolidor, mas conseguiu trocar a bola sempre dentro do meio-campo defensivo do Vorskla, encostando os ucranianos à própria grande área e não permitindo que estes conseguissem sair de forma apoiada. Com as linhas muito subidas e Miguel Luís a jogar no apoio direto a Montero — respaldado por Petrovic nas costas –, os leões estavam completamente balançados para o ataque e Salin era um mero espetador. O golo era apenas uma questão de tempo e podia ter aparecido ainda antes dos dez minutos, quando Bruno Fernandes isolou Miguel Luís e deixou o jovem médio na cara do guarda-redes Tkachenko; Miguel Luís rematou, mas o guardião ucraniano conseguiu adiar o primeiro golo. Aos 17 minutos, sem que o Vorskla tivesse passado sequer do meio-campo e com a partida completamente na mão, o Sporting colocou-se em vantagem por intermédio de Fredy Montero, que respondeu de cabeça a um mau alívio da defesa ucraniana depois de um pormenor delicioso do capitão Bruno Fernandes.

Depois do golo, o Sporting baixou ligeiramente e abriu espaço entre os setores, principalmente entre o meio-campo e a defesa, permitindo que o Vorskla se lançasse em incursões ofensivas que se revelaram pouco organizadas e inconsequentes. O único calafrio que Salin teve foi mesmo devido a um remate do central Dallku, que surgiu no vértice esquerdo da área leonina e atirou à baliza de forma surpreendente. A bola passou muito perto do poste de Salin e o Sporting percebeu que era hora de voltar a mexer na caixa de velocidades. O condutor do Fórmula 1, como já se percebeu, tem a braçadeira colocada e chama-se Bruno Fernandes. Mané descobriu o médio português em aceleração no corredor direito, Bruno atraiu o guarda-redes do Vorskla e ofereceu o segundo golo da partida a Miguel Luís, que só precisou de encostar para a baliza deserta e estreou-se assim a marcar pela equipa principal dos leões.

No último segundo de uma primeira parte que foi tão simples de explicar que nem sequer teve tempo de compensação, Dallku ainda se antecipou a Montero depois de um passe de Bruno Fernandes e acabou por desviar para a própria baliza. O Sporting ia para o descanso a vencer tranquilamente por 3-0, Miguel Luís e Montero tinham notas positivas — já para não falar do inevitável Bruno Fernandes — e tudo parecia encaminhado para a sexta vitória consecutiva do clube de Alvalade. No regresso para a segunda parte, os leões voltavam já com o modo gestão ativado e Bruno Paz, Pedro Marques, Thierry Correia e Abdu Conté espreitavam uma oportunidade para cumprir alguns minutos com a camisola da equipa principal do Sporting nas competições europeias.

O Sporting tirou o pé do acelerador, recuou no terreno, deixou de colocar tantas bolas no último terço do relvado e o Vorskla aproveitou para ir conquistando metros: ainda assim, os ucranianos não criaram qualquer situação de perigo e foram quase sempre neutralizados por Coates e André Pinto (numa exibição particularmente positiva do central português, que teve 89 ações com bola e 95% de eficácia de passe). Montero lesionou-se — aparentemente com gravidade –, saiu de maca e foi substituído pelo jovem Pedro Marques, que se estreou pela equipa principal, Ristovski saiu e deu o lugar ao jovem Thierry Correia, que voltou a jogar depois de se ter estreado na goleada com o Qarabag, e Bruno Fernandes deixou o relvado sob uma ovação dos adeptos verde e brancos para a entrada do jovem Bruno Paz, que também fez o primeiro jogo pelos séniores leoninos. Três substituições, dois jogadores de 19 anos, um de 20. 1998 e 1999. Marcel Keizer prometeu apostar na formação e não podia estar a fazê-lo melhor.

Até ao final, o Sporting soube gerir, defender os três golos de vantagem e ainda criar as situações mais perigosas da segunda parte (Petrovic, Pedro Marques e Thierry Correia poderiam ter marcado já depois dos 80′). Miguel Luís manteve-se tremendamente eficaz no meio-campo, Pedro Marques deixou boas indicações nas movimentações dentro da área e Thierry e Bruno Paz têm um entendimento acima da média: os três jovens que entraram nos segundos 45 minutos injetaram velocidade e dinâmica no jogo e relançaram para a frente uma equipa que parecia algo adormecida. Ainda assim, Mané continua receoso e pouco arrojado e Jovane esteve muitos pontos abaixo daquilo que já mostrou.

O leões voltaram a vencer, carimbaram a quinta vitória consecutiva e somaram 13 pontos na fase de grupos da Liga Europa — nunca o Sporting tinha terminado uma fase de grupos de uma competição europeia com tantos pontos. Desde que Marcel Keizer chegou, o clube de Alvalade vence sempre e marca sempre três ou mais golos. Na conferência de imprensa de antevisão, além de garantir que iria fazer alterações, o treinador holandês rejeitou a inevitabilidade de recorrer ao mercado de janeiro. “Temos de procurar no plantel, só iremos ao mercado se não encontrarmos uma solução interna”, lembrou Keizer. É verdade que o jogo era de baixa dificuldade e que não existiam decisões associadas: mas o holandês parece estar a fazer crescer um plantel que todos diziam ser cronicamente curto.