O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, considerou esta quinta-feira que a zona euro está mais bem equipada para lidar com uma futura crise, quando ela chegar, depois das reformas acordadas que exigiram “concessões de todos” os países.

“O acordo selado [na semana passada], após uma noite de negociações demonstrou que a zona euro pode, nalguma medida, superar a divisão entre credores e devedores, outrora considerada uma ameaça paralisante”, escreve Centeno num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no Jornal de Negócios, um dia antes da última cimeira do ano dos líderes da União Europeia. “O relatório do Eurogrupo que vou apresentar aos chefes de Estado e de governo, na sexta-feira, exigiu concessões de todos, mantendo-se coerente, tanto em termos económicos como políticos”, disse.

Centeno insistiu na ideia de que não existe um modelo de estrutura institucional que “tenha que ser replicado” e que, a cada momento, os países devem encontrar soluções eficazes dentro de “determinadas restrições políticas”. “Mas agora já podemos dizer que a zona euro está mais bem equipada para lidar com uma futura crise quando ela chegar”, concluiu.

Entre as medidas adotadas, Centeno destaca o reforço das ferramentas para lidar com bancos falidos, o compromisso de redução do crédito malparado e a construção de almofadas financeiras para absorver potenciais perdas dos bancos. Também sinalizou a introdução de cláusulas nos contratos de títulos soberanos para tornar os processos de reestruturação de dívida mais fáceis e, ao mesmo tempo, melhorar as ferramentas de financiamento existentes para travar o contágio entre os Estados-membros durante uma crise.

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O também ministro das Finanças português garante, no entanto, que “a reforma não acaba aqui” e que permanecem “pontas soltas” às quais pretende voltar no próximo ano, entre as quais a criação de um sistema europeu de garantia de depósitos para reduzir o risco de corridas aos bancos, num modelo para o qual “ainda não há consenso à vista”.

“No início de 2019 vamos definir um mandato para um grupo de trabalho de alto nível para nos ajudar a quebrar o impasse”, refere no artigo, onde sinaliza ainda a necessidade de revisão do tratado do Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Quanto ao orçamento da zona euro, escreve, “o caminho está traçado” e sob a orientação dos líderes europeus, Centeno pretende “trabalhar num instrumento orçamental não cíclico que apoie o processo de convergência e promova a competitividade das economias”. Outros instrumentos, como uma ferramenta de estabilização, “precisam de mais tempo e debate”, acrescentou.