O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo denunciou esta sexta-feira a decisão dos líderes albaneses do Kosovo sobre a formação de um exército regular o qual exigiu deve ser dissolvido.

O parlamento kosovar aprovou esta manhã por unanimidade dos 107 deputados presentes a criação de um exército, uma decisão apoiada pelos Estados Unidos mas criticada pela maioria dos países europeus e que está a aumentar a tensão com a minoria sérvia kosovar e Belgrado.

Em comunicado, a diplomacia russa considera que a força multinacional da NATO no Kosovo (Kfor, 4.500 militares) “deve tomar medidas amplas e urgentes para desmilitarizar e desmantelar todas as formações albanesas kosovares armadas”. A Rússia, aliada da Sérvia, apoiou Belgrado na sua rejeição da independência do Kosovo, autoproclamada em 2008.

O ministério russo também denuncia as declarações de diversos responsáveis ocidentais, quando consideraram que o novo exército do Kosovo não será diferente das atuais Forças de Segurança do Kosovo (FSK). “Na realidade, duplica o seu número e mantém reservistas, e mais importante, substitui a essência das forças cuja função até recentemente consistia na defesa civil”.

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Bislim Zyrapi, conselheiro para a segurança nacional do Presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, precisou previamente que o novo exército deverá integrar 5 mil homens e 2.500 reservistas, com um custo avaliado em 100 milhões de euros.

Num novo sinal sobre o agravamento das tensões entre Belgrado e Pristina, a televisão sérvia referiu esta tarde que o Presidente Aleksandar Vucic efetuou uma visita a unidade militares sérvias “num local desconhecido”.

Responsáveis pelo Ministério da Defesa tinham antes admitido que Vucic visitaria tropas sérvias estacionadas perto da fronteira com o Kosovo. Diversas fotos divulgadas na televisão estatal mostravam Vucic rodeado por soldados em uniforme numa região onde nevava.

Responsáveis oficiais sérvios admitiram que o país poderá recorrer à força militar após a votação no parlamento do Kosovo, enquanto a diplomacia de Belgrado disse que vai procurar obter uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU sobre a decisão confirmada esta sexta-feira em Pristina.

Na quinta-feira, Aleksandar Vucic definiu a formação deste exército como “uma nova medida unilateral e provocatória” que aumenta as preocupações da Sérvia sobre o futuro dos sérvios do Kosovo, cerca de 120 mil dos perto de dois milhões de habitantes.

Belgrado assegura ainda que esta medida se destina a promover uma “limpeza étnica” no norte do Kosovo, onde se concentra a maioria da população sérvia kosovar, um propósito firmemente negado por Thaçi, um dos mentores da nova força militar.

No entanto, esta iniciativa surge quando as tensões entre Pristina e Belgrado voltaram a atingir um ponto crítico, entre rumores de trocas de territórios entre os dois países e quando o difícil diálogo sobre a “normalização” das relações, que tem decorrido em Bruxelas sob a égide da União Europeia (UE), está bloqueado. E para além da recente decisão do Governo kosovar de impor taxas de 100% aos produtos importados da Sérvia e da Bósnia-Herzegovina.

Na sequência da “guerra do Kosovo” (1998-99), que implicou uma intervenção aérea da NATO contra a Sérvia, que perdeu o controlo desta sua província do sul com maioria de população albanesa, os separatistas albaneses do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) foram reagrupados no Corpo de Proteção do Kosovo (TMK), designado Forças de Segurança do Kosovo (FSK) a partir de 2009. Estas duas unidades apenas possuíam um mandato de proteção civil e dispunham de armamento ligeiro.

Em 1999 o Kosovo foi declarado “protetorado internacional” pela ONU, e a NATO passou a chefiar uma força militar multinacional (Kfor), que ainda se mantém no terreno com cerca de 4.500 militares.