Nas primeiras finais dos Mundiais de Piscina Curta, em Hangzhou, o apoio aos atletas chineses, sobretudo a Li Zhuhao (200 metros mariposa) e à estafeta feminina dos 4x100m livres, que conquistaram a medalha de bronze, foi aquele que mais se fez notar. O normal, tratando-se de uma competição internacional realizada em “casa”. Mas havia também uma pequena mas ruidosa claque de apoio com bandeiras de um país mas que torce sobretudo por uma atleta: Katinka Hosszu. E a húngara que esteve presente em seis provas não falhou, revalidando então o título nos 400 metros estilos. Dentro de água, continua a fazer jus à alcunha de Dama de Ferro; fora dela, mantém a luta por aquilo que considera ser o futuro da natação.

Katinka Hosszu, a Dama de Ferro que instalou a ditadura nas piscinas mas luta pela liberdade fora delas

No início da semana passada, a tricampeã olímpica no Rio de Janeiro avançou, a par dos americanos Tom Shields e Michael Andrew, com um processo contra a Federação Internacional de Natação (FINA) no Tribunal Distrital da Califórnia, com o apoio do milionário ucraniano Konstantin Grigoristin. A Razão? Violação das leis da concorrência, mais conhecida nos Estados Unidos como Lei Sherman. O pedido? Indemnização por perdas e danos. Não sendo propriamente uma questão de agora, o gatilho acabou por ser a pressão do órgão para o cancelamento do Energy for Swim, prova internacional que se iria realizar entre sexta-feira e sábado em Itália com prémios monetários de relevo para presenças e recordes.

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Katinka Hosszu conquistou quatro medalhas de ouro e uma de prata em seis finais nos Mundiais de Piscina Curta (abdicou de duas provas)

Em resposta, a FINA alegou que o pedido não tinha cumprido os prazos previstos nos regulamento mas percebeu-se que o grande problema estava na possibilidade de, por ser financeiramente mais atrativo, haver atletas de topo a prescindirem dos Mundiais de Piscina Curta pelo Energy for Swim. E para não haver essa debandada, houve também a notificação de que, se a prova avançasse mesmo, qualquer nadador inscrito iria arriscar-se a castigos de pelo menos um ano (por sinal o mais importante, como costuma acontecer em vésperas dos Jogos Olímpicos). Já a ação visa sobretudo uma viragem total no mundo da natação, com o fim do regime de exclusividade da FINA na organização de competições internacionais.

Os primeiros resultados desta guerra aberta pela Dama de Ferro começam a surgir: depois de ter ganho quatro medalhas de ouro (200m mariposa e 100m, 200m e 400m estilos) e uma de prata nos 100m costas (foi quarta classificada nos 200m costas e teve de prescindir de duas provas, os 50m costas e os 100m mariposa, por questões físicas), viu a FINA anunciar uma nova competição que se irá disputar entre março e maio, em três etapas, que terá prize moneys bem mais elevados do que é normal e estará aberta apenas a medalhados olímpicos e mundiais, bem como os detentores das melhores marcas, como explica o El Mundo, com um “se não os podes vencer, junta-te a eles” que acaba por resumir toda a situação.

Húngara foi distinguida pela quarta vez em cinco anos como a Melhor Nadadora do Ano para a FINA (Fred Lee/Getty Images)

Em paralelo, e no final dos Mundiais de Piscina Curta que tiveram o americano Caeleb Dressel (seis ouros e três pratas, sendo que apenas uma das medalhas não foi conseguida nas estafetas) como outras das grandes figuras, a FINA decidiu atribuir o prémio de Melhor Nadadora do Ano a Katinka Hosszu, que depois de ter ganho em 2014, 2015 e 2016 perdera o título para a sueca Sarah Sjöström (o masculino foi para o sul-africano Chad Le Clos, que também esteve presente nos Mundiais de Hangzhou… e mostrou apoio à causa da húngara). O galardão, que a torna recordista, surge num ano particularmente conturbado para a Dama de Ferro, que teve uma conturbada separação do marido e treinador Shane Tusup, antes das participações nos Europeus de Piscina Longa (onde conseguiu apenas um ouro) e nos Mundiais de Piscina Curta.

Hosszu é dura de roer. Katinka superou desgosto pessoal para alcançar o sucesso profissional