Um filme sobre um fotógrafo norte-americano do século XX não costuma encher salas de cinema portuguesas, mas “Mapplethorpe”, realizado pela cineasta norte-americana Ondi Timoner — cuja carreira tem sido dedicado muito mais ao cinema documental do que à ficção narrativa –, pode tornar-se um êxito inesperado em Portugal. Isto porque Robert Mapplethorpe tornou-se amplamente conhecido dos portugueses nos últimos meses, devido à guerra mediática entre o antigo diretor artístico do Museu de Serralves, João Ribas, e a administração da fundação que gere o museu, na sequência de uma exposição dedicada ao fotógrafo que resultou na demissão de Ribas, acusando a administração de interferências no seu trabalho.

O filme que chega às salas de cinema norte-americanas em março do próximo ano (altura em que se assinalam 20 anos da morte de Mapplethorpe), e que já tem um primeiro trailer divulgado, retrata a vida do fotógrafo no período imediatamente anterior à sua mudança para o famoso Chelsea Hotel, em Nova Iorque, com a cantora e escritora Patti Smith, de quem era próximo.

O primeiro trailer do filme:

Conhecido pela sua obra radical no campo da fotografia, Robert Mapplethorpe desafiou convenções sexuais chegando a expor fotografias eróticas e fetichistas explícitas. Algumas delas, recordou o administrador da Fundação Serralves José Pacheco Pereira, na sequência da polémica em Serralves, “podem ser interpretadas como contendo pedofilia, violência, um homem a urinar na boca de outro homem, fisting, enfim, práticas para as quais não há sequer expressão em português”.

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No filme de Ondi Timoner, o ator Matt Smith fará de Robert Mapplethorpe e a atriz Marianne Rendón de Patti Smith.

Em Portugal, a exposição dedicada ao fotógrafo norte-americano no Museu de Serralves motivou romarias, registando seis mil visitantes nos primeiros quatro dias de abertura ao público e perto de 1.500 visitantes só na noite de inauguração. Para o sucesso de bilheteira terá contribuído também a inflamada discussão pública em torno da existência ou não de “censura” — de que o antigo diretor artístico diz ter sido alvo e que a administração de Serralves rejeita — no museu do Porto. Resta saber se também o filme beneficiará da curiosidade acrescida motivada por esse episódio mediático.

A cantora, compositora e escritora Patti Smith, junto a fotografias suas tiradas por Robert Mapplethorpe (@ AFP/Getty Images)