Di Francesco, que se chama Eusébio por homenagem do pai ao Pantera Negra que brilhou pelo Benfica e pela Seleção Nacional nos anos 60 e 70, foi 12 vezes internacional italiano como jogador, onde se destacou sobretudo pelos quatro anos na Roma entre outras passagens por Empoli, Luchese, Piacenza, Ancona e Perugia. Como técnico, após ter começado no modesto Virtus Lanciano, rumou ao clube da cidade onde nasceu, Pescara, passou pelo Lecce e deu nas vistas pelo Sassuolo, onde conseguiu mesmo a levar a equipa a uma inédita presença nas competições europeias. Em 2017, chegou ao Olímpico numa nova pele. Talvez ainda mais irreverente do que na passagem dentro das quatro linhas entre 1997 e 2001, onde fez mais de 100 jogos ao serviço dos giallorossi. Tornou-se herói no primeiro ano, ficou com o lugar em risco em poucos meses na época seguinte. E não se pode dizer que esteja propriamente seguro, tendo em conta a irregularidade da equipa ao longo da presente temporada.

FC Porto defronta Roma nos oitavos de final da Liga dos Campeões, com primeira mão em Itália

No final do triunfo por 3-0 na receção ao Barcelona que valeu a qualificação para as meias-finais da última edição da Liga dos Campeões, Di Francesco descreveu-se como “um louco”. E a sua inspiração no comando de equipas também vem de um técnico com quem trabalhou e que tinha uma fama igual – Zdenek Zeman. Conhecido pelos métodos simples de treino e jogo, e pela grande proximidade que gosta de cultivar com os jogadores, Eusébio, que se ia chamar Luca antes do pai Arnaldo conseguir convencer Silvana a mudar o nome para a grande figura do Mundial de 1966 que se realizara três anos antes de nascer, é apologista de um futebol mais vertical, que explore a profundidade e onde “dois passes para o lado já é muito”. Em muitos jogos, prefere atuar num esquema com três centrais, que se transforma em três defesas quando tem a posse.

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Na primeira temporada, terminou a Serie A no terceiro lugar apenas atrás da Juventus e do Nápoles e teve como grande coroa a chegada às meias-finais da Champions, onde caiu frente ao Liverpool em dois jogos frenéticos depois de ter passado em primeiro num grupo com Chelsea e Atl. Madrid e de ter eliminado Shakhtar Donetsk e Barcelona; na presente época, reforçado com mais valias como Steven N’Zonzi, Javier Pastore, Justin Kluivert, Cristante ou Ante Coric, os resultados têm sido muito intermitentes: a passagem aos oitavos de final em segundo, num grupo que tinha Real Madrid, CSKA Moscovo e Viktoria Plzen, foi conseguida sem grandes dificuldades, mas a carreira na Serie A já lhe colocou o lugar em risco, com apenas seis vitórias em 16 jogos.

Di Francesco teve como ponto alto do primeiro ano o triunfo por 3-0 com o Barcelona nos quartos da Champions (Stuart Franklin/Getty Images)

Essa decisão estará sempre nas mãos do diretor desportivo versão pop star Ramón Rodríguez Verdejo, mais conhecido por Monchi. Antigo guarda-redes do Sevilha, único clube que conheceu como jogador, subiu a diretor do futebol em 2000, quando a equipa atravessava dificuldades e caiu mesmo de divisão, e revolucionou por completo o clube desde o trabalho na formação (que viria a dar produtos como Sergio Ramos, Jesús Navas, Alberto Moreno, Puerta, Reyes ou Capel) às contratações “desconhecidas” que renderiam milhões, casos de Rakitic, Dani Alves, Fazio, Keita ou Adriano. O conjunto andaluz ganhou um total de 11 títulos, entre os quais cinco Taças UEFA/Ligas Europa. Em abril de 2017, mudou-se para a Roma.

Monchi é catalogado como uma espécie de Billy Beane sem olhar tanto para a vertente estatística, pela capacidade em construir plantéis de qualidade e sem grande necessidade de investimentos muito grandes – a não ser quando, como aconteceu no último Verão, fica com mais fundos à disposição, neste caso pelas vendas de Alisson, Strootman e Nainggolan, que juntos renderam um total acima dos 120 milhões de euros. É por isso que o seu nome já foi associado a clubes como o Barcelona ou o Manchester United, no sentido de “revolucionar” a política de gestão de ativos como aconteceu na Roma.

Monchi esteve mais de 30 anos no Sevilha em diferentes papéis antes de rumar à Roma em 2017 (Mario Carlini / Iguana Press/Getty Images)

Num plantel com muitas estrelas consagradas ou em ascensão, Ivan Marcano é a cara mais conhecida. Antigo capitão do FC Porto, onde esteve entre 2014 e 2018, decidiu mudar-se a custo zero para a Roma mas os primeiros tempos em Itália não têm sido propriamente fáceis para o espanhol de 31 anos que antes passara também por Grécia (Olympiacos) e Rússia (Rubin Kazan): com apenas 270 minutos nas pernas na Serie A (divididos por quatro jogos), o esquerdino voltou a ser opção inicial na Rep. Checa na derrota frente ao Viktoria Plzen e a exibição acabou por não convencer, levando mesmo o Corriere della Sera a anunciar quase a sua despedida. “Está pronto para sair no mercado de janeiro. E não vai deixar saudades se o fizer”, escreveu. Bryan Cristante, internacional italiano que passou sem sucesso pelo Benfica, tendo sido depois emprestado a Palermo, Pescara e Atalanta, é outra das figuras dos romanos, que este fim de semana ganharam ao Génova por 3-2 com duas desvantagens ao longo do jogo e o golo decisivo a ser apontado exatamente por Cristante, que voltou a ser titular ao lado de N’Zonzi no meio-campo.

Entre as possibilidades que tinha pela frente neste sorteio da Liga dos Campeões, o FC Porto acabou por não cruzar com alguns dos adversários mais temíveis e pode até ter alguma vantagem teórica nos oitavos de final frente aos italianos, ainda que qualquer prognóstico seja um pouco como a temporada que a Roma está a fazer – pode cair para qualquer um dos lados. E é nisso que os responsáveis transalpinos acreditam. “Talvez possamos dizer que tivemos alguma sorte com este sorteio, olhando para outras equipas que nos podiam ter calhado, mas o FC Porto é uma grande equipa e vai ser complicado, teremos de estar ao melhor nível”, salientou o antigo capitão Francesco Totti. “Podia ter sido pior”, acrescentou o diretor executivo, Mauro Baldissoni.