A Volkswagen ainda está a braços com o Dieselgate e a tentar recuperar a confiança juntos dos consumidores, pelo que qualquer escândalo que coloque isso em causa é sempre prejudicial. Mas é exactamente isso que está a acontecer, depois de duas publicações germânicas terem avançado que o fabricante de Wolfsburg começou a vender, em 2006 e nos dois lados do Atlântico, carros que deveriam ter sido destruídos. Trata-se de unidades pré-série, aquelas que habitualmente vemos parcial ou totalmente camufladas e que não têm necessariamente de corresponder à versão de produção, até porque essas viaturas são usadas para efectuar exigentes testes, com vista a testar limites mecânicos e estruturais, pelo que o carro que depois chega aos concessionários reflectirá esse trabalho de desenvolvimento do produto, com as necessárias diferenças.

De acordo com o Der Spiegel, os números em nada se comparam à dimensão dos veículos afectados na manipulação das emissões (11 milhões). A marca assume que “despachou” 6.700 para os concessionários, para vender como novos ou usados, dependendo da quilometragem, mas o Der Spiegel fala em 17.000. O problema é que, conforme adiantou um porta-voz da marca ao Handelsblatt, embora as viaturas em causa venham a ser chamadas para ir à oficina, há casos que poderão não se resolver com uma mera actualização de software. Com a agravante de que, ao que tudo indica, a Volkswagen não documentou o que teriam esses carros de “errado” ou de diferente, face às unidades de série. Pelo que terá de haver novo programa de buyback.

De notar que vender unidades pré-série não é crime, desde que se obedeçam aos trâmites definidos na lei. Na Tesla, por exemplo, esta é uma prática regular. Sucede que, nesse caso, o cliente tem plena consciência do automóvel que está a levar para casa. Ora, não foi isso que aconteceu com a Volkswagen, que estaria obrigada não só a informar as entidades reguladoras do sector, como também os concessionários, sendo que estes, por sua vez, passariam a informação ao cliente. Nada disso foi feito, assume a marca, lamentando “profundamente o engano”.

Apesar das desculpas, a marca corre o risco de as autoridades decidirem puni-la de novo, com pesadas multadas, e de ter pela frente outra rodada de processos, movidos pelos concessionários ou clientes desavisados e lesados.

Segundo o Der Spiegel, o responsável máximo da Volkswagen, Herbert Diess, teria conhecimento das vendas ilegais desde 2016, sem que nada tivesse feito para corrigir esta situação anómala.

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