A disputa existe há cinco anos e resume-se assim: o cantor Robbie Williams gostava mesmo, mesmo de construir uma piscina subterrânea e um ginásio subterrâneo no interior da casa que comprou por perto de 19 milhões de euros, no distinto bairro londrino de Kensington. Robbie Williams, porém, tem um vizinho que nunca gostou da ideia: Jimmy Page, o antigo guitarrista dos emblemáticos Led Zeppelin. Nesta disputa que opõe pela enésima vez a música pop ao rock, aqui com contornos mais subterrâneos e urbanísticos e menos prosaicos e artísticos, Robbie Williams levou a melhor: um comité que regulamenta as construções no bairro londrino aprovou à condição os planos do cantor.

Esta é a Tower House, a casa vitoriana do século XIX em que Jimmy Page mora. O guitarrista teme que possa ser afetada pelas obras subterrâneas em casa do vizinho Robbie Williams (@ Jack Taylor/Getty Images)

Segundo conta Robbie Williams, Jimmy Page, atualmente com 74 anos, tornou-se um vizinho incomodativo nos últimos anos. Por exemplo em 2016, quando o cantor de “Feel” e “Angels” fez obras em sua casa, Page ter-se-á sentado à entrada da casa de Robbie Williams, para gravar o som das obras e confirmar se não excediam o volume máximo permitido. Na verdade, o historial até alimentava dúvidas: os construtores da empresa que ali fazia obras à época já tinham pagado perto de cinco mil euros em multas, devido a infrações de ruído por obras anteriores no local. Em 2016, porém, terá corrido tudo bem. Robbie Williams até falou numa “doença mental” de Page, que terá “adormecido sentado” à entrada de sua casa, não reparando quando os construtores apareceram. Mais tarde, o cantor pediu desculpa pelas declarações.

As obras de 2016 foram apenas um episódio de uma relação de vizinhança que não parece especialmente amigável. Ainda assim, nada tinha colocado Robbie Williams e Jimmy Page tão em guerra um com o outro como os planos do primeiro para construir a tal piscina e o tal ginásio.

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A casa de Robbie Williams está classificada na câmara da cidade como “edifício especialmente importante”, com estatuto superior aos edifícios de “particular interesse” de Londres. No entanto, a moradia de Jimmy Page, uma conhecida casa vitoriana do século XIX chamada Tower House, tem importância superior no campeonato dos edifícios históricos londrinos, sendo considerada local de “excecional interesse”. O antigo guitarrista dos Led Zeppelin incomodou-se com os planos de Robbie Williams por achar que eles irão afetar a Tower House, onde reside. Ao jornal Daily Mail, disse: “Vou continuar a defender-me até que as pessoas se apercebam do que se passa. A câmara de Londres tem o dever de proteger edifícios históricos como este”.

Jimmy Page numa audição relativa ao diferendo urbanístico com Robbie Williams (@ Jack Taylor/Getty Images)

Recentemente, um comité que regula o planeamento urbanístico e as obras no bairro de Kensington pronunciou-se sobre o diferendo. A decisão é daquelas que agrada a todos: Robbie Williams poderá, como deseja, construir o seu ginásio subterrâneo e a sua piscina subterrânea, mas não poderá iniciar as obras sem receber garantias de que os trabalhos serão monitorizados por uma entidade. Os representantes legais do cantor dizem que não têm grandes problemas com isso, que não pretendem infringir os regulamentos com as obras nem condicionar edifícios vizinhos. Jimmy Page também parece estar confortável: citado pelo The Guardian, um porta-voz do guitarrista disse que a decisão pode marcar “o início de um diálogo instrutivo” e que Page  terá prazer em conversar com Robbie Williams “para que ele volte com uma proposta que elimine todos os riscos para a Tower House”.

Do que Jimmy Page e Robbie Williams não se livraram foi de ver a disputa ser comparada às negociações para o Brexit. “Passaram-se seis meses e a reunião de ontem soou a mais um debate daqueles que ouvimos em Westminster”, apontou Quentin Marshall, porta-voz do comité de planeamento de Londres. Marshall referia-se aos infindáveis e inconclusivos debates que têm acontecido no parlamento londrino a propósito da negociação das condições de saída do Reino Unido da União Europa — e incitava as duas partes, “que parece que afinal não estão assim tão afastadas”, a “arranjarem maneira de falar”. Com problemas de vizinhança tão acentuados, não surpreende que Robbie Williams prefira anjos a humanos — ou, como canta, “I’m loving angels instead”.