O rei saudita Salman bin Abdulaziz Al Saud levou a cabo uma remodelação profunda no governo do país. Ibrahim Abdulaziz Al-Assaf, antigo ministro das Finanças e do Estado da Arábia Saudita, que estudou nos Estados Unidos entre 1976 e 1982, substitui Adel al-Jubeir como ministro dos Negócios Estrangeiros. O seu antecessor exercia o cargo quando o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado, há cerca de três meses, e transita agora para ministro de Estado para os Assuntos Externos. Khashoggi colaborava com o The Washington Post e foi morto e desmembrado há cerca de três meses no interior do consulado da Arábia Saudita em Istambul, Turquia.

“Não consigo respirar”, repetiu Khashoggi antes de ser assassinado

Abdullah bin Bandar bin Abdul Aziz é o novo ministro da Guarda Nacional, Turki Al-Shabana é o novo ministro da Informação e Hamad Al-Sheikh é o novo ministro da Educação. Já o príncipe Abdul Aziz bin Turki Al-Faisal  foi nomeado diretor da Autoridade Geral de Desportos, substituindo Turki Al Asheikh, que por sua vez transita para diretor da Autoridade Geral do Entretenimento.

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O príncipe Mohammed bin Nawaf bin Abdulaziz, que até aqui desempenhava o cargo de embaixador do rei Salman em Londres, foi dispensado do posto.

Adel al-Jubeir, que passa de ministro dos Negócios Estrangeiros a ministro de Estado para os Assuntos externos, teve uma das suas últimas posições públicas fortes no cargo já este mês, quando recusou a extradição de sauditas suspeitos de envolvimento na morte de Khashoggi para a Turquia. “Não extraditamos os nossos cidadãos”, afirmou, no final de uma conferência que juntou os líderes políticos dos países da região do Golfo. Os suspeitos que foram alvo de um mandado de captura na Turquia tinham ligações ao príncipe saudita Mohammed bin Salman.

O Washington Post, jornal com o qual Jamal Khashoggi colaborava, estabelece uma relação direta entre as mudanças no governo e a morte do jornalista no consulado do país em Istambul: “Rei saudita ordena abanão no governo depois da morte de Khashoggi”.

O regime saudita tem vindo a ser pressionado pelas instâncias internacionais para proceder a uma investigação profunda à morte do jornalista saudita, antigo crítico do regime do rei Salman e do príncipe Mohammed bin Salman. Há cerca de duas semanas, o primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau anunciou ter a intenção de cancelar o contrato de armamento que o seu país tem com a Arábia Saudita, apesar de ser “extremamente difícil” cancelar um contrato de 9,9 mil milhões de euros assinado no mandato do seu antecessor, Stephen Harper.

Também este mês, o Senado dos Estados Unidos da América aprovou resoluções condenando o regime de Riade quer pela sua ação no conflito do Iémen quer pelos contornos da morte de Jamal Khashoggi. Já depois da aprovação destas resoluções, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, reiterou a necessidade de “uma investigação e uma punição credível aos culpados” da morte do jornalista saudita em território turco. O regime turco, por sua vez, tem-se queixado da falta de colaboração das autoridades sauditas: “Ainda não recebemos qualquer informação ou dado novo sobre a investigação do lado saudita. A Turquia não vai desistir deste assunto”, afirmou há duas semanas o ministro dos Assuntos Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu.

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