O Liverpool recebia este sábado o Arsenal no primeiro jogo da segunda volta da Premier League e sabia, de antemão, uma coisa importante: o Tottenham tinha acabado de perder em casa com o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo e, em caso de vitória, os reds cimentavam a liderança com nove pontos de vantagem para os spurs (sendo que o Manchester City também ainda tem de jogar). Era preciso, portanto, aproveitar o deslize da equipa de Mauricio Pochettino.

O adversário, porém, era o Arsenal de Unai Emery. Os gunners vinham de um empate algo dececionante, no Boxing Day, frente ao Brighton, e tinham a equipa emagrecida devido ao lotado departamento clínico. Além de Danny Welbeck, que se lesionou no jogo da Liga Europa com o Sporting, Nacho Monreal está também indisponível e Elneny e Koscielny regressaram há pouco tempo aos treinos e ainda não foram titulares. O técnico catalão apostou então na dupla de centrais Mustafi e Sokratis e numa linha de apoio a Aubameyang formada por Iwobi, Ramsey e Maitland-Niles. No banco, ficava o habitual titular Guendouzi e Lacazette — cuja ausência do onze tantas críticas tem valido a Emery, por não apostar numa dupla atacante entre o francês e Aubameyang.

No Liverpool, pouco a dizer. O 4-2-3-1 habitual, com Wijnaldum e Fabinho mais recuados no apoio à defesa e na dobra aos laterais; Shaqiri, cada vez mais opção inicial em detrimento de Naby Keita, ao lado de Roberto Firmino, no centro, e Sadio Mané, mais tombado na esquerda; e o inevitável Mohamed Salah na frente de ataque. O jogo começou rápido e com a ideia clara de que o Arsenal pretendia marcar e tentar surpreender o Liverpool em Anfield Road com um golo madrugador que pudesse complicar a forma como Jürgen Klopp preparou o encontro. E foi exatamente isso que conseguiu fazer. Bastaram dez minutos para desestabilizar a dinâmica entre Lovren e van Dijk: Iwobi ganhou uma bola na esquerda, cruzou milimetricamente para a entrada de Maitland-Niles ao segundo poste e o miúdo de 21 anos só precisou de esticar o pé para bater Alisson, pôr o Arsenal em vantagem e estrear-se a marcar na Premier League. Mas havia um problema. É que assim que o guarda-redes dos reds foi buscar a bola ao fundo da baliza, van Dijk cerrou os punhos e gritou “let’s go” para os companheiros. A remontada parecia algo lógico, evidente e inevitável.

Três minutos depois, Roberto Firmino aproveitou uma atrapalhação quase infantil da defesa do Arsenal — que se preocupou mais em garantir que não tinha feito penálti sobre Salah do que em defender a baliza — e empatou o jogo em tom de provocação, sem olhar para o alvo, num lance que fez lembrar o compatriota Ronaldinho Gaúcho. 90 segundos depois, o brasileiro beneficiou de uma perda de bola em zona proibida de Torreira, avançou pelo meio sem qualquer oposição, sentou os dois centrais e atirou rasteiro e colocado para bisar na partida. À meia-hora, foi a vez de Salah receber de forma exemplar um grande passe de Wijnaldum e servir Mané para o quarto; já no tempo extra, foi o egípcio que sofreu grande penalidade de Sokratis e a converteu, para ir para o balneário com o resultado em 4-1. Em retrospetiva, os punhos cerrados e o grito de van Dijk pareciam tão certeiros quanto premonitórios.

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Depois de uma primeira parte em que, à exceção dos primeiros dez minutos, o Liverpool esmagou por completo o Arsenal, Unai Emery colocou em campo o central Koscielny, por troca com Mustafi, e os gunners passaram a ter em campo um verdadeiro capitão e uma voz de comando. O problema era que pouco existia para ser comandado. O Liverpool, embora em contenção e já a pensar no próximo jogo com o Manchester City, não permitiu ao Arsenal qualquer esboço da parca criatividade que se vive por estes dias no Emirates.

Numa segunda parte muito abaixo do nível da segunda, até porque os reds perceberam que estavam sempre muito mais perto de avolumar a vantagem do que o Arsenal de reduzir, Roberto Firmino ainda carimbou o hat-trick através de uma grande penalidade cometida sobre Lovren e o resultado ficou fechado em 5-1. Unai Emery só lançou Lacazette e o prodígio Guendouzi nos minutos finais mas não pode fazer milagres com a pouca matéria prima que tem; já Klopp, assente num meio-campo de qualidade acima da média e num ataque com nota 20 no que toca a eficácia, pode começar a pensar em encomendar as faixas de campeão.

O Liverpool carimbou a nona vitória consecutiva para a Premier League e fica agora, à condição, com dez pontos de vantagem em relação ao Manchester City, já que os citizens só jogam este domingo. O Arsenal sofreu 22 golos nos últimos seis jogos e fica agora a 16 pontos da liderança, mudando agora, com toda a certeza, o azimute para os lugares que dão acesso à Liga dos Campeões.