O Wolverhampton de Nuno Espírito Santo não ganha desde dia 15 de dezembro, altura em que recebeu e bateu o Bournemouth. Depois disso, perdeu inequivocamente com o Liverpool e não foi além de um empate a uma bola com o Fulham, que ainda não conseguiu sair dos lugares de despromoção. O jogo da tarde deste sábado — o último de 2018 mas o primeiro da segunda volta da Premier League — não prometia melhorias a esses números. O adversário era o Tottenham, atualmente em segundo lugar da tabela.

Numa primeira parte que falou português através de Rui Patrício, Rúben Neves e Ivan Cavaleiro, o Tottenham foi em tudo superior ao Wolves: a organização tática da equipa de Mauricio Pochettino não permitiu aos recém-promovidos à Premier League qualquer espaço para criar, respirar ou atrever-se em incursões ofensivas. No eixo do meio-campo Rúben Neves andava perdido sem bola; Ivan Cavaleiro e Adama Traoré não tinham ligação nas costas para se lançarem para o ataque; e Raúl Jiménez, por muito móvel que estivesse, não conseguia ganhar o jogo nas linha mais recuadas e passou muito tempo de costas para os sítios onde a partida estava a ser decidida. O golo de Harry Kane — que aproveitou uma perda de bola em zona proibida — nada mais foi do que a qualidade individual do avançado inglês a vir ao de cima para confirmar a superioridade dos spurs.

No regresso do intervalo, Nuno Espírito Santo não fez substituições de imediato e guardou-as no bolso. O Tottenham não voltou com o mesmo ímpeto e teve dificuldades em parar as movimentações de Adama, que sempre que se afastava das alas para jogar em terrenos mais interiores criava perigo junto de Sánchez e Anderweireld. Em pé, junto à linha lateral, o treinador português começou por tirar Adama para lançar Hélder Costa — numa espécie de companhia mais permanente para Raúl Jiménez, já que o Wolves tinha muito fluxo atacante pelas alas mas pouca presença na área. Minutos depois, o momento em que Espírito Santo, muito provavelmente ganhou o jogo: a entrada de João Moutinho. O médio ex-Sporting e ex-FC Porto segurou o meio-campo e soltou Rúben Neves para funções mais construtivas, permitindo à equipa assentar na sua solidez defensiva e critério ofensivo. Pochettino, do outro lado, tirou Dele Alli e lançou Lucas Moura, numa substituição que pouco ou nenhum impacto teve no jogo.

Quando Moutinho tocou pelas primeiras vezes na bola, com aquela tranquilidade característica, quase se adivinhou tudo o que estava para vir. O Tottenham deixou de respirar, deixou de sair do meio-campo ofensivo e limitou-se a defender. Boly fez o empate depois de um canto a partir da direita; Jiménez fez o segundo depois de um passe magistral de Moutinho para Cavaleiro, que faz a assistência; e Hélder Costa fez o terceiro num toque de classe que não deu hipótese a Lloris. Nuno Espírito Santo deu uma lição tática a Mauricio Pochettino e venceu um jogo a partir do balneário e do banco de suplentes. A segunda parte do Wolverhampton congelou um Tottenham atípico e apático que interrompe assim uma série de sete vitórias consecutivas e, em caso de vitória do Manchester City, perde o segundo lugar da tabela.

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O Wolverhampton foi a Wembley ganhar aos spurs por 1-3 com golos marcados por um português e dois jogadores que jogaram em Portugal (Boly no FC Porto, Jiménez no Benfica). Falou-se a língua de Camões em Londres e Nuno Espírito Santo pode emoldurar a partida deste sábado e apresentá-la como o arquétipo daquilo que sabe fazer enquanto treinador de futebol.