Um grupo de arqueologistas e investigadores forenses anunciou, esta semana, ter descoberto a causa da morte do chamado Príncipe de Helmsdorf, cujos restos mortais foram encontrados em 1877 na região da Turíngia, no centro da Alemanha. De acordo com uma nova análise forense feita aos ossos do homem da Idade do Bronze, este foi assassinado com uma arma de cerca de 15 centímetros, que atravessou a coluna e destruiu várias artérias. Tendo em conta os novos dados, os cientistas acreditam estarem perante “o mais antigo assassinato político da história”.

O Príncipe de Helmsdorf foi descoberto em 1877 pelo historiador de arte alemão Friedrich Klopfleisch, no sítio arqueológico de Leubingen, na região da Turíngia. Com mais de três mil anos, a sepultura do príncipe é considerada uma das mais ricas do início da Idade do Bronze (3.000 a.C. – 1.200 a.C.) alguma vez encontrada na Europa ocidental. Além dos restos mortais do homem assassinado há 3.846 anos, esta continha várias armas e ferramentas valiosas e os ossos de uma criança de dez anos, que se acredita ter sido sacrificada, explicou o Smithsonian. Escavações posteriores revelaram a existência de uma antiga civilização, artefactos de bronze e um cemitério com os restos mortais de 44 outros indivíduos.

O artefacto mais importante que se acredita estar ligado ao Príncipe de Helmsdorf só foi, contudo, encontrado várias décadas depois. Em 1999, caçadores de tesouros que andavam a explorar a zona, descobriram um disco com pormenores em ouro com mais de 3.600 anos. Conhecido como o Disco de Nebra, acredita-se tratar-se da mais antiga representação da abóbada celeste. Segundo o Smithsonian, o disco poderá ter sido usado para fazer cálculos astronómicos e ajudar os antigos agricultores a perceber qual a melhor altura para plantar ou colher. Há quem julgue ser um relógio astronómico avançado.

O Disco de Nebra, a representação mais antiga do cosmos, foi encontrada em 1999 por um grupo de caçadores de tesouros (SEBASTIAN WILLNOW/AFP/Getty Images)

Apesar de os ossos do Príncipe de Helmsdorf terem sido analisados em 2012, ainda não tinha sido possível descobrir a causa da morte. “Conseguimos verificar a existência de três ferimentos nos ossos. Provavelmente houve outros, mas conseguimos verificar que estes três foram letais”, disse Frank Ramsthaler, vice-diretor do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Saarland, onde foram feitas as novas análises, citado pela Deutsche Welle.

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Na apresentação dos resultados, na quinta-feira, Ramsthaler explicou que o príncipe foi assassinado, provavelmente apunhalado com um punhal que teria uma lâmina de, pelo menos, 15 centímetros. A arma foi empurrada contra o estômago da vítima, que se encontraria encostada a uma parede ou deitada no chão, atravessando a coluna. O esfaqueamento danificou várias artérias, levando à sua morte. Um segundo ferimento, encontrado por cima da clavícula, partiu o ombro esquerdo do príncipe e feriu os pulmões. Tudo indica que o crime terá apanhado o monarca de surpresa e terá sido cometido por um “guerreiro experiente”. Era por cima da clavícula que os gladiadores romanos davam o derradeiro golpe, explicou o arqueólogo Harald Meller, que fez parte do grupo de investigação.

“Deve ter sido uma pessoa que lhe era próxima, talvez um familiar, um amigo ou um guarda-costas. O governante não desconfiava de nada e foi apanhado de surpresa. Talvez, como Júlio César, tenha sido vítima de uma conspiração”, sugeriu Meller. O também arqueólogo Kai Michel, que insistiu na realização da nova análise aos restos mortais do príncipe, frisou que, tanto quanto se sabe, foram encontradas “evidências do mais antigo assassinato político da história”, e lembrou que, “em última análise”, se está “a lidar com os únicos restos mortais de alguém diretamente ligado ao Disco de Nebra”.

Michel e Meller publicaram recentemente na Alemanha um novo livro sobre o disco descoberto em 1999. Um estudo detalhado das descobertas feitas pelo grupo de investigadores relativamente ao Príncipe de Helmsdorf será publicado na primeira metade de 2019.