Um grupo de portugueses do Estado venezuelano de Miranda, 35 quilómetros a Sul de Caracas, visitou a Casa Familiar Padre Tinoco, de irmãos franciscanos, com ajuda monetária e alimentos, naquele que foi o seu último gesto solidário deste ano.

A ideia, segundo o cônsul honorário de Portugal em Miranda, Pedro Gonçalves, partiu da Academia Social do Bacalhau e a ajuda foi angariada pelos ‘compadres’, membros da associação, durante as tertúlias mensais.

“Decidimos trazer esta ajuda para ajudar os velhinhos que estão aqui, e porque aqui temos também portugueses”, frisou.

O presidente da Academia do Bacalhau de Los Teques (Miranda), Celestino Santos, explicou, por seu lado, que as tertúlias servem para angariar fundos para ajudar os compatriotas mais necessidades.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Estamos aqui [Casa Familiar Padre Tinoco], porque temos portugueses que não têm família, que estão há muitos anos no país e alguns estão abandonados”, disse.

Celestino Santos explicou que, para a visita, a Academia do Bacalhau “recolheu bens como alimentos de toda a espécie, entre eles massa, arroz, café e pão”.

Em declarações à agência Lusa, o comerciante João de Canha, que também é “carrasco” (espécie de fiscal) da Academia do Bacalhau de Los Teques, explicou que a Casa Familiar Padre Tinoco “é um sítio muito agradável”, que acolhe pessoas venezuelanas e de outras nacionalidades.

“Acolhe pessoas com problemas de saúde, anciãos, pessoas com problemas [de má conduta] na sua forma de vida, e pessoas que foram abandonadas pela família. E os irmãos franciscanos da Cruz Branca acolhem-nas e cuidam delas”, disse.

Por outro lado, sublinhou que além de portugueses acolhe “ainda pessoas que, no dia de amanhã, vão ser reinseridas na sociedade, porque receberam ajuda para reencaminhar a vida”.

Entre os portugueses que vivem na Casa Familiar Padre Tinoco, está Manuel Rodrigues Fernandes, 65 anos, natural de São Vicente, Madeira, que se encontra há quase cinco anos no lar.

“Em abril vou fazer cinco anos aqui. Não tenho para onde ir, porque não posso trabalhar. Eu caí e lesei-me no joelho. Levaram-me para o hospital e depois o consulado trouxe-me para aqui. Aqui vou varrendo um pouco. Abro a porta e vou fazendo algumas coisinhas, para não estar sempre sentado”, desabafou.

Quanto a Portugal, Manuel Rodrigues Fernandes fala com nostalgia. Diz que “lá”, está casado. Mas emigrou para a Venezuela em 1983 e nunca mais visitou a sua terra.

“Lá eu também trabalhava no campo (era agricultor), nunca trabalhei num negócio”, frisou.

O irmão Johnny Manzares, vigário da Casa Familiar Padre Tinoco, explicou que os franciscanos têm ainda outras cinco casas na Venezuela.

“Sobrevivemos da caridade. Pedimos ajuda às empresas, e as pessoas que nos visitam trazem-nos alimentos e víveres. Agradecemos-lhes muito por essa ajuda, porque nos permite continuar”, disse.

O irmão Johnny Manzares sublinhou ainda que na Venezuela “tudo está muito caro” e que precisam de apoio até para comprar “lâmpadas, cadeiras de rodas, álcool, gaze e muitas outras coisas” do dia a dia.