Em 2018 eram 30, o nome dele não aparecia por lá. Em 2017 também eram 30, o nome dele também não constava. Em 2016, a mesma coisa. Em 2015, 2014 e 2013, a lista passou a ter apenas 23, a margem era ainda menor e o nome dele nunca por lá andou. Ele é Cristian Eriksen, o médio dinamarquês que chegou ao Tottenham em 2013 com 21 aninhos e tornou-se um dos jogadores mais emblemáticos do clube. Ele é, a partir de hoje, um dos seis elementos que estiveram ligados a 100 ou mais golos dos spurs na Premier League. Ele é o criativo que não passa nenhum mercado sem ver o seu nome associado aos maiores clubes europeus mas que nunca entrou sequer na lista de nomeados para a Bola de Ouro. Ele é o melhor entre os não melhores.

Kane marcou o primeiro, Eriksen fez o segundo e o Tottenham voltou aos triunfos após derrota com Wolves (BEN STANSALL/AFP/Getty Images)

Nascido em Middelfart, Eriksen teve um percurso no futebol tão cerebral como o jogo que tem e que enche qualquer campo. Após o início da academia da terra onde nasceu, e onde o pai também treinava, saltou para o Odense e não demorou a despertar as atenções de inúmeros clubes europeus, que têm por tradição um cuidado especial com elementos feitos na Escandinávia. Quando são bons, costumam tratar-se de investimentos garantidos, não só na perspetiva futebolística mas também pela forma de ser e comportamento. Entre Real Madrid, Manchester United, Barcelona ou Chelsea, escolheu o escalão abaixo e rumou ao Ajax.

O meu primeiro passo não devia ser demasiado grande. Sabia que jogar na Holanda seria bom para o desenvolvimento, por isso o aparecimento do Ajax foi uma opção fantástica”, explicou mais tarde.

Foram apenas três anos mas valeram a pena, conseguindo um total de três Campeonatos consecutivos entre 2011 e 2013, além de uma Taça e de uma Supertaça. Tinha custado cerca de um milhão de euros ao conjunto de Amesterdão, saiu por 12,5 milhões. E, mais uma vez, não foi para um Real Madrid, um Manchester United, um Barcelona ou um Chelsea mas sim para o Tottenham, uma equipa habituada a andar pelos lugares cimeiros da Premier League sem ser propriamente um candidato declarado ao título. Mais uma vez, venceu a racionalidade na altura de tomar a opção. Talvez mais até do que seria aconselhável. Hoje, seis épocas depois, continua nos spurs apesar das várias abordagens recebidas. E fez história no clube.

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Ao apontar o segundo golo da vitória do Tottenham frente ao Cardiff (3-0), Eriksen, médio criativo que tão depressa se encosta mais ao avançado como recua para construtor de jogo, chegou aos 100 golos com influência direta na Premier League pelo Tottenham, entre marcados (45) e assistências (55). Com isso, tornou-se apenas o sexto jogador do clube a chegar a essa barreira, depois de Teddy Sheringham, Robbie Keane, Harry Kane, Jermaine Defoe e Darren Anderton.

Numa entrevista concedida ao Telegraph há exatamente dois anos, Eriksen explicou que o jogador que mais admira é Andrés Iniesta e explicou porquê: “Sempre fui um jogador que se movimenta muito. Não que goste muito de correr mas porque gosto de receber a bola. Se fores esperto o suficiente, não precisas de correr (…) Serei sempre aquele tipo de jogador que anda à procura da bola para construir e criar alguma coisa. O estilo de jogo de Iniesta é assim, fantástico durante anos. Claro que eles correm bem menos em Barcelona porque têm sempre a posse de bola…”. Ao Independent, já este ano, destacou que secundariza tudo o que sejam números. “Especialmente lá fora, as pessoas olham sobretudo para números e estatísticas. Mais e cada vez mais. O futebol está a ir nessa direção mas não ligo a isso, só quero fazer o melhor que sei e criar o mais possível”. No fundo, o dinamarquês quer é bola para jogar e, sobretudo, fazer jogar. Aos 26 anos, tornou-se assim um jogador de eleição.

Houve outro dado curioso na vitória do conjunto de Pochettino diante do Cardiff: Harry Kane igualou Aubameyang na lista dos melhores marcadores da Premier League com 14 golos mas, mais relevante do que isso, marcou à única equipa que ainda lhe faltava no principal escalão inglês, num total de 28 conjuntos que já defrontou desde que se fixou no conjunto principal do Tottenham, em 2013/14, após alguns empréstimos a outros clubes britânicos como Milwall ou Leicester. Antes, na goleada do Arsenal ao Fulham por 4-1, o avançado africano também tinha marcado o seu 14.º golo na prova.