Se existisse uma bolsa de apostas para a nacionalidade da primeira bomba do mercado de inverno no futebol, qualquer jogador americano estaria com uma daquelas odds típicas de Euromilhões. Não que por lá a fonte da qualidade tenha secado – apesar de ter falhado a presença no último Campeonato do Mundo, a seleção dos Estados Unidos continua com o mesmo potencial para poder ir disputar grandes competições com os melhores da Europa e da América do Sul. No entanto, com tantos nomes que têm circulado nas últimas semanas, era improvável que essa transferência envolvesse Pulisic, avançado do B. Dortmund. E ainda mais improvável, o Chelsea pagar 64 milhões de euros aos alemães para ficar com o jogador… a partir do verão.

O acordo foi anunciado esta quarta-feira, com essa ressalva de haver uma cedência por empréstimo até ao final da temporada. Por um lado, a contratação foi vista em Inglaterra como o início da sucessão de Eden Hazard, a grande referência dos blues que está em final de contrato e tem deixado algumas pistas sobre o desejo que rumar ao Real Madrid; por outro, na Alemanha as atenções concentram-se na vontade que o clube tem de não perder um grande negócio se beliscar as aspirações para o que resta da época – o B. Dortmund lidera a Bundesliga no final da primeira volta com seis pontos de avanço sobre o Bayern. Para Pulisic, trata-se do maior desafio da curta carreira que começou a sério quando deixou os Estados Unidos com apenas 15 anos.

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Nascido na Pensilvânia, desde miúdo que preferiu o soccer ao football, também por influência do pai que chegou a ser jogador profissional no Campeonato indoor (também a mãe jogou futebol na universidade). Aos sete, passou um ano em Inglaterra e jogou no modesto Brackley Town – o que lhe deu ainda mais certeza da escolha. Por causa do trabalho do pai, que foi diretor dos Detroit Ignition, viveu também durante uma temporada em Michigan mas voltou à base, entrando numa academia de futebol da própria Federação por se destacar entre os demais. Em 2015, depois de algumas observações, despertou o interesse do B. Dortmund e mudou-se para a Alemanha, aproveitando também as raízes familiares para pedir nacionalidade croata. Chegou a ser convidado para jogar pelos balcânicos mas nunca abdicou do país de nascimento em todas as categorias.

Pulisic foi convidado pela Croácia mas jogou sempre pelos Estados Unidos, passando por vários escalões desde Sub-15 (Mike Carlson/Getty Images)

Logo nesse ano, já com Thomas Tuchel no lugar de Jürgen Klopp, teve algumas chamadas ao conjunto principal antes de se fixar em definitivo no plantel até hoje. Não sendo propriamente um goleador, Pulisic foi evoluindo como o típico jogador que tem movimentos de segundo avançado mas tão depressa joga mais na frente como pode recuar para a construção de jogo a meio-campo ou descair para falso ala. E foram essas características que terão convencido Maurizio Sarri à surpreendente contratação, até pela necessidade de um extremo e pela “explosão” do inglês Jadon Sancho no B. Dortmund esta época. O facto de ter trabalhado com Klopp, que nunca escondeu ser um admirador das suas capacidades, colocou-o sempre perto do Liverpool mas a boa adaptação de Shaquiri desde que chegou a Anfield Road acabou por arrefecer o interesse.

Apesar de começar agora os últimos seis na Bundesliga, Pulisic deixa uma série de recordes na Liga alemã: foi o estrangeiro mais novo de sempre a marcar no Campeonato e o mais novo entre todos a bisar numa partida; o mais novo a marcar pela seleção dos Estados Unidos; o americano mais novo a jogar, assistir e marcar na Liga dos Campeões; e o americano mais novo de sempre a ganhar uma grande prova internacional, neste caso a Taça da Alemanha. É por isso que o avançado já chegou a ser descrito no seu país de origem como o primeiro jogador de classe mundial que os Estados Unidos produziram, quase esquecendo nomes que se destacaram em gerações diferentes como Alexi Lalas – que apontou sobretudo ao jovem prodígio após o falhanço do Mundial de 2018 – ou Landon Donovan, que passou também pela Bundesliga (Bayer Leverkusen e Bayern).

“É com um coração pesado que anuncio que entrarei nos meus últimos meses no nosso clube. Sinto que cheguei ainda ontem a Dortmund, como um miúdo de 16 anos de uma pequena cidade chamada Hershey fascinado, muito nervoso e excecionalmente orgulhoso. Não sabia o que poderia acontecer mas não demorei a descobrir que não podia estar em melhores mãos. Não poderia estar onde estou hoje sem o clube e a sua crença em dar oportunidades aos jogadores mais jovens”, destacou numa carta de despedida onde agradeceu ainda a todos os treinadores, companheiros de equipa e adeptos.