Há seis anos que não se via um trambolhão assim numa das estrelas maiores da bolsa de Nova Iorque. As ações da Apple derraparam 10% esta quinta-feira, naquela que foi a pior sessão para a tecnológica desde janeiro de 2013. É a reação dos investidores a um alerta de receitas (revenue warning) feito pela empresa liderada por Tim Cook.

A Apple avisou os mercados de que as receitas no trimestre que terminou no final do ano iam ficar cinco mil milhões de dólares abaixo do anunciado. O valor acabou por ser inferior à estimativa mais conservadora dos analistas e os mercados não perdoaram. A desvalorização desta quinta-feira retirou 74 mil milhões de dólares a uma das empresas mais valiosas do mundo e arrastou Wall Street para perdas entre os 2,5% e os 3% nos principais índices.

Na mensagem aos investidores, o presidente executivo, Tim Cook, apontou as culpas ao mercado chinês onde as vendas de iphones foram mais fracas que o esperado, um efeito colateral da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Mas será só isso? A Bloomberg dá nota de pode ser uma viragem na perspetiva quase sempre otimista com que os analistas olhavam até agora para a Apple.

Pela primeira vez desde o lançamento do produto mais emblemático da marca — o iphone — a maioria das recomendações aos investidores não no sentido de compra das ações da maçã. Esta quinta-feira foi marcada por uma onda de downgrades (revisões em baixa) das perspetivas da empresa e há agora 23 analistas a recomendar comprar, havia 36 analistas no início do ano. Há também 23 analistas a recomendar manter as ações e para já apenas dois dão indicação de venda.

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As ações da Apple estão a negociar no valor mais baixo desde julho de 2017 e acumulam perdas de 40% desde o valor recorde alcançado em outubro.

Um consultor económico da Casa Branca ouvido pela CNN admite que a incerteza nas relações comerciais entre Estados Unidos e a China irá atingir algumas das grandes empresas americanas que têm uma grande exposição ao mercado chinês, mas considera que as vendas irão recuperar quando Washington e Pequim chegarem a um acordo comercial.

“Isso está a ter um impacto nos ganhos e não vai ser apenas a Apple”, afirmou Kevin Hassett, o presidente do conselho de consultores económicos da Casa Branca. “Acho que há muitas companhias americanas que têm grandes receitas na China e que vão ter de rever em baixa os seus resultados este ano”. A tensão comercial com os Estados Unidos e os efeitos na travagem do consumo chinês podem revelar-se mais complicados para uma empresa global como a Apple que já está a sentir o abrandamento de outros grandes mercados emergentes como o Brasil, a Rússia e a Índia.