O bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) afirmou esta sexta-feira à Lusa que a detenção do ex-ministro das Finanças na África do Sul constitui um embaraço para o país e é uma resposta internacional à incapacidade da justiça moçambicana. “Esta situação embaraça, sobremaneira, o nosso país. Quer dizer que nós não conseguimos resolver os nossos problemas” e “tem de haver intervenção internacional”, disse Flávio Menete à agência Lusa.

Flávio Menete assinalou que os Estados Unidos estão a defender os seus interesses, ao pedirem a extradição de Manuel Chang, tendo em conta que os factos que são imputados ao antigo ministro constituem um crime ao abrigo da legislação americana. “Os EUA estão a usar a sua legislação, que pune a fraude eletrónica e fraude financeira, o uso de meios e plataformas eletrónicas norte-americanas para a prática de atos ilícitos”, acrescentou o bastonário.

Flávio Menete assinalou que a detenção do ex-governante resulta da inércia das autoridades judiciais moçambicanas, uma vez que o processo sobre as chamadas dívidas ocultas não tem conhecido desenvolvimentos. “É uma situação bastante embaraçosa e vergonhosa”, insistiu Flávio Menete, antigo director-nacional da Polícia de Investigação Criminal de Moçambique.

O bastonário salientou que o facto de os EUA estarem a fazer esta investigação ao caso das dívidas ocultas poderá implicar a perda, por parte de Moçambique, dos recursos supostamente desviados no âmbito da operação que resultou nos empréstimos.

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Manuel Chang foi detido na África do Sul no dia 29 de dezembro, quando tentava embarcar para o Dubai, na sequência de um pedido de extradição das autoridades norte-americanas. O seu advogado indicou esta quinta-feira que o ex-governante moçambicano vai contestar o pedido de extradição para os Estados Unidos.

A Procuradoria da Justiça em Nova Iorque subiu para cinco o número de acusados no esquema de fraude envolvendo empréstimos a empresas públicas moçambicanas realizados à margem das contas, no valor de mais de 2 mil milhões de dólares.

Aos nomes já conhecidos de Manuel Chang, ex-ministro moçambicano das Finanças, e de três antigos banqueiros que intermediaram os empréstimos — Andrew Pearse, um antigo diretor do banco Credit Suisse; Surjan Singh, diretor no Credit Suisse Global Financing Group, e Detelina Subeva, vice-presidente deste grupo — a acusação dos procuradores nova-iorquinos estendeu-se esta quinta-feira a Jean Boustani, um negociador alegadamente envolvido no esquema, avançou a Associated Press.

Andrew Pearse, Surjan Singh e Detelina Subeva foram detidos em Londres esta quinta-feira, também a pedido da procuradoria nova-iorquina, e foram, entretanto, libertados sob caução e aguardam a extradição. Jean Boustani foi detido pelas autoridades norte-americanas no aeroporto John F. Kennedy na passada quarta-feira.