Atualizado às 13h32 com novos detalhes sobre as manifestações

O protesto estava agendado para este sábado em três cidades portuguesas: Lisboa, Porto e Faro. A mobilização, contudo, parece ter sido ainda menor do que a do primeiro protesto destes manifestantes inspirados pelos “coletes amarelos” franceses, ocorrido no dia 21 de dezembro. Pelo menos em Lisboa, Porto, Braga e Aveiro a manifestação “Vamos parar Portugal” resultou em pequenos grupos de manifestantes, concentrados na Avenida do Marquês de Pombal e na Avenida dos Aliados, com menos de centena e meia de pessoas em cada local. Isto no mesmo dia que em movimento francês que os inspirou regressa também aos protestos contra o Governo francês nas cidades de Paris, Rouen e Lyon.

Em Lisboa, este é o cenário do protesto:

Posted by Carlos Mota Veiga on Saturday, January 5, 2019

No grupo de Facebook que junta os manifestantes e apoiantes do protesto “coletes amarelos” em Portugal, há comentários de desilusão face à pouca mobilização em Lisboa: “Novamente um fracasso”, “Vão para casa”, “Não há cá ninguém” e “ frio”. Um utilizador, contudo, mostra-se otimista: “Estava combinado só vestir os coletes às 12h… por isso muita gente que está aí sem colete pode ainda vestir às 12h…”

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Em Lisboa, um dos manifestantes concentrado no Marquês de Pombal é Ricardo, o primeiro de quatro “coletes amarelos” que se manifestaram junto às portagens da A1 em Alverca, no dia 21 de dezembro. Tal como dia 21, tem na cabeça uma boina do exército e critica a corrupção no país.

Ricardo, um dos quatro “coletes amarelos” que esteve em Alverca dia 21 de dezembro, está a protestar no Marquês de Pombal (@ DIOGO VENTURA/OBSERVADOR)

“Não fizemos abril para isto”, lê-se em Lisboa

Pelas 12h50, o trânsito foi cortado na rotunda do Marquês de Pombal, constatou a Lusa no local, uma vez que os manifestantes davam voltas à rotunda e gritavam palavras de ordem.

Empunhando uma faixa com a mensagem “temos casta nova”, os dois porta vozes do movimento em Lisboa, Ana Vieira e Rúben Gonçalves, disseram aos jornalistas, numa improvisada conferência de imprensa, não haver grupos e que estão todos no Marquês de Pombal com o mesmo propósito: “combater a corrupção”.

“Prisão com os corruptos, fora corrupção, vem para a rua” e “não fizemos abril para isto”, são outras das mensagens que podem ser lidas nos cartazes.

Ana Vieira justificou a presença de menos pessoas neste protesto com o facto de “terem medo de dar a cara”.

Enquanto prestavam declarações, um grupo de manifestantes envolveu os profissionais da comunicação social com uma tarja, criando um círculo e, através de megafone, insultaram os jornalistas, culpando-os “do estado das coisas e de contarem mentiras”.

Porto: “Até num concerto da Maria Leal há mais gente”

No Porto, um grupo de manifestantes (difícil de calcular, mas entre 50 a 120) com coletes amarelos levou uma tarja em que se lê “Basta de corrupção. Exigimos justiça”, como atestam as imagens. A comitiva foi reforçada por manifestantes do grupo “Lesados do BES”. Nas redes sociais, também há quem se queixe da pouca afluência: “Até num concerto da Maria Leal há mais gente”, diz um.

Posted by Joaquim Coelho on Saturday, January 5, 2019

Ouvido pela SIC, um manifestante dos “coletes amarelos” no Porto disse: “A génese deste movimento insere-se numa política de crescimento. Movimento gera movimento. Dia 21 tivemos uma grande afluência de pessoas nas redes sociais, mas depois no terreno não se manifestou”.

Lesados do BES e anti-migrantes no Porto

Pelas 11:30, estavam concentrados na Avenida dos Aliados, no Porto, cerca de quatro dezenas de manifestantes, muitos pertencentes ao grupo dos lesados do BES, que, em silêncio, empunhavam cartazes como “não confiamos na banca” e “basta de corrupção, exigimos justiça”.

“O que se pretendia para o Porto está a ser um sucesso porque, ao contrário do que aconteceu na outra manifestação, não se pretende fazer qualquer bloqueio, mas apenas passar a mensagem de forma pacifica, de maneira a que, aos poucos, os portugueses se juntem a este movimento de insatisfação”, disse à agência Lusa o coordenador do Norte deste movimento.

Albino Leonardo acrescentou que já estão agendadas novas concentrações para os próximos sábados, com o objetivo de “ir cativando o coração dos portugueses” e que “cada vez mais se juntem a este movimento”.

Além do grupo dos lesados do BES marcou presença um outro que, a uma certa distância, exibia a faixa com a mensagem: “contra o pacto das migrações”.

Posted by Joaquim Coelho on Saturday, January 5, 2019

40 “coletes” em Aveiro e 15 em Braga

Noutras zonas do país, como Aveiro, há alguns manifestantes que vão tentando resistir à pouca mobilização. “Então Aveiro? Fico sozinho”, questionava-se um manifestante, ao início da manhã. Pouco depois, o manifestante publicou uma fotografia onde está rodeado por pouco mais de uma dezena de manifestantes.

O número de manifestantes em Aveiro foi aumentando ao longo da manhã. Às 10h,, cerca de 40 “coletes amarelos” estavam concentrados na rotunda do Rato, na antiga Estrada Nacional n.º 109, e caminharam depois em direção ao Mercado Manuel Firmino para sensibilizar mais pessoas para esta causa, distribuindo panfletos com as suas reivindicações.

“A maioria do povo anda distraída com telenovelas, futebóis e escândalos da imprensa cor-de-rosa e não se manifesta contra aquilo que realmente importa para o país. Se as pessoas se juntarem e se manifestarem, então acredito que conseguiríamos uma massa suficiente para poder dar um rumo diferente ao país”, disse à Lusa Dina Naia.

Esta empresária de 60 anos disse que há 30 anos esperava por esta oportunidade para se poder manifestar, adiantando que as pessoas estão insatisfeitas com a corrupção e a impunidade existente no país.

Dina Naia realçou ainda que os “coletes amarelos” portugueses querem distanciar-se dos congéneres franceses e dos protestos marcados pela violência naquele país.

Em Braga, segundo a polícia, 15 manifestantes distribuíram panfletos.

Em Faro, outra das cidades em que estava previsto haver concentração, a Lusa constatou na Avenida 5 de Outubro, não haver manifestantes, apenas agentes policiais e jornalistas.

Pelas 12.30, a Direção Nacional da PSP disse à Lusa não haver registo de nenhum incidente.

As diretrizes e os antecedentes

O protesto de hoje dos “coletes amarelos” é o segundo ocorrido em Portugal, depois de no dia 21 de dezembro de 2018 várias concentrações terem tido uma fraca adesão, apesar de provocarem constrangimentos no trânsito em algumas cidades.

Os protestos têm sido convocados através das redes sociais, com inspiração nos movimentos contestatários em França, propondo, por exemplo, reduções de impostos ao nível dos combustíveis, da eletricidade e das micro e pequenas empresas, bem como o aumento do salário mínimo e das reformas.

Em dezembro, quatro pessoas foram detidas em Lisboa, por resistência e coação às autoridades, e 24 manifestantes foram identificados em todo o país, segundo a PSP.

Para as manifestações deste sábado, a primeira de algumas agendadas para este mês, foi publicada uma lista de “procedimentos” sugeridos aos manifestantes. Eis a totalidade das sugestões:

MANIFESTAÇÃO DIA 5 DE JANEIRO – PROCEDIMENTOS

– Veste o teu colete apenas na chegada ao local reservado para o protesto.

– Transporta contigo apenas o essencial, alguns materiais básicos de primeiros socorros poderão ser úteis.

– Não esqueças de transportar contigo água e alimentos simples.

– Deves trazer roupa e calçado confortáveis.

– Mantem a calma, tua e de quem estiver ao teu lado.

– Evita o consumo de bebidas alcoólicas, é fundamental para que consigas manter o teu controle em qualquer situação.

– A presença de garrafas de água/cerveja dentro de um espaço oferece perigos vários, de queda, arremessos – no caso de as usares, certifica-te de as colocares no lixo após o seu uso.

– Deves ter especial cuidado com idosos ou pessoas com mobilidade reduzida que possam estar ao teu lado, apoia-os no que precisarem.

– Liga ao 112 sempre que vires alguém ao teu lado a necessitar de ajuda especializada.

– Não retalies nem respondas a provocações de outros manifestantes.

– Respeita as autoridades policiais e acata as ordem que te forem dadas.

– Evita prestar declarações para a comunicação social, mesmo que te seja solicitada.

Qualquer dúvida, contactem a administração  :)

Quais são as medidas exigidas pelos “coletes amarelos portugueses”? E fazem sentido?

“Coletes amarelos”: como se preparou o protesto no WhatsApp